Se no vinhedo a natureza é quem manda, na cantina, na bodega ou na adega é o homem quem assume o controle. A produção de vinho consiste basicamente em uma série de detalhes ditada pelas bagas e sua condição, e pelo estilo de vinho que o vinicultor almeja fazer ou foi solicitado a desenvolver.
COLHENDO AS UVAS
A primeira e talvez a mais importante decisão de um vinicultor é quando colher. Ele deve monitorar os níveis de açúcares e ácidos nas uvas e sua saúde geral algumas semanas antes da data habitual de colheita. As decisões sobre a data da colheita devem ser tomadas em paralelo com a análise das previsões do tempo. Se, por exemplo, as uvas não estiverem amadurecidas o suficiente e a previsão for de chuva, a decisão será entre deixar as uvas na vinha e esperar pelo clima quente e seco o suficiente para amadurecê-las, ou colher imediatamente.
Algumas variedades são mais sensíveis que outras em relação à data exata da colheita. A Merlot, por exemplo, pode facilmente perder a qualidade, uma certa vivacidade no vinho se mantida por muito tempo na vinha, enquanto a Cabernet Sauvignon é muito mais tolerante com alguns dias de atraso a mais. O vinho branco perdoa melhor a inclusão de algumas uvas podres do que o vinho tinto. Este perde rapidamente a cor e fica maculado por um gosto mofado.
O vinicultor, em conjunto com quem estiver encarregado do trabalho, também deverá decidir a que hora do dia colher. Em climas quentes, as uvas são colhidas à noite ou bem cedo, pela manhã, para que elas possam ser entregues à vinícola tão frescas quanto possível. Atualmente, qualquer vinicultor que desejar qualidade insistirá que as uvas cheguem frescas e incólume sem pequenas unidades estáveis, normalmente pequenas caixas de plástico, que possam ser empilhadas e que mantenham a integridade dos cachos.
Hoje, infelizmente, algumas vinícolas utilizam as máquinas, não apenas para colher, mas para podar e levantar fios de educação, durante o período de crescimento. No entanto, os melhores vinhos do mundo ainda são colhidos manualmente, não importa o quanto os colhedores sejam caros difíceis de achar. Isso acontece porque eles podem cortar cachos inteiros da vinha e tomar decisões inteligentes sobre qual fruta colher.
FERMENTAÇÃO
As uvas, ao chegarem à vinícola, podem e devem ser esfriadas. Algumas vinícolas de clima quente têm até salas refrigeradas, onde as uvas são mantidas e selecionadas antes de chegar ao esmagador. O esmagamento mecânico libera todos os sucos importantes e substitui o pé humano, ainda usado para alguns vinhos do Porto de alta qualidade. A maioria das uvas brancas é desengaçada antes de ir para a prensa, porque os engaços podem ser adstringentes, estragando um vinho leve e aromático. No entanto, para alguns vinhos brancos encorpados, para a maioria dos espumantes de alta qualidade e para os vinhos brancos doces, o vinicultor pode decidir colocar cachos inteiros na prensa, isto para que os engaços possam agir como condutores do suco e ajudar na drenagem.
A Riesling, a Sauvignon Blanc e outras variedades de uvas aromáticas tendem a ser vinificadas de forma protetora, contra a oxidação, enquanto que a maioria das Cahrdonnay de primeira qualidade, incluindo a Borgonha branca, é feita por oxidação. O tratamento por meio de oxidação pode incluir um período de “contato de pele” proposital, durante o qual mais sabor será sugado da casca para o mosto. Quanto mais rude for o processo de prensagem, mais forte será o vinho resultante.
Já as uvas de vinho tinto são geralmente esmagadas e desengaçadas, embora um número limitado de engaços possa ser jogado deliberamente dentro da cuba de fermentação para aumentar os níveis de tanino. Alguns vinicultores tradicionais, especialmente na Borgonha, preferem fermentar cachos inteiros. Isto só funciona em climas nos quais há estações de cultivo longas o suficiente para amadurecer os engaços e a fruta completamente; do contrário, os engaços deixariam o vinho terrivelmente áspero.
Uma exceção especial à regra do desengaço para os tintos envolve a técnica de fermentação, conhecida como maceração carbônica, característica do Beaujolais, de alguns Côtes du Rhône e especialmente favorável para variedades naturalmente tânicas, como a Carignan em Languedoc Roussillon, para as quais a meta é produzir vinhos frutados sem muito tanino. Cachos inteiros são colocados em uma cuba de fermentação lacrada.
A camada inferior das uvas é esmagada pelo peso das uvas de cima e a fermentação se inicia naturalmente, pela liberação do dióxido de carbono. Após o esmagamento e a prensagem das uvas brancas e o esmagamento das uvas tintas, o vinicultor deve decidir sobre a fermentação convencional, a transformação miraculosa do suco de uva doce em um vinho mais seco e de sabor mais complexo. Quanto mais madura a uva, isto é, quanto maior o nível de açúcar, mais forte será o vinho produzido.
O pesadelo de um vinicultor é uma “fermentação presa”: quando a fermentação para antes de todo açúcar ter sido convertido em álcool, e o produtor fica com uma mistura perigosamente vulnerável, que pode facilmente ser atacada pela oxidação e por bactérias danosas. O teor alcoólico em um vinho finalizado é uma defesa contra muitas bactérias. O ritmo certo, o tempo e a temperatura da fermentação de um vinho tinto são muito importantes para o tipo de vinho resultante. Quanto mais quente a fermentação (respeitando o perigoso limite de evaporação do sabor), mais sabor e cor serão extraídos.
Uma fermentação longa e arejada tende a produzir vinhos leves e frutados, mas se for curta e quente, o vinho também terá pouco corpo e sabor. Para extrair taninos, cor e sabor das cascas durante a fermentação do vinho tinto, a manta e o mosto devem ser incentivados a interagir entre si. O tratamento suave das uvas, do mosto e do vinho é, geralmente, embora não universalmente, considerado como um dos fatores que têm influência sobre a qualidade final do vinho. A fermentação malolática (reduz consideravelmente a acidez do vinho) é invariavelmente benéfica para o vinho tinto e, nos últimos anos, surgiu um uso incomum ao não se fazer a fermentação em tanques grandes, como a regra, mas em barris individuais. Isto requer mais mão de obra e supervisão, portanto, tal prática só se justifica para vinhos de alta qualidade. O resultado a curto prazo, pelo menos, é um vinho com textura mais suave e sedutora, características que alguns sommeliers associam à qualidade.
Assim, cada vez mais vinicultores desejosos de que seus vinhos mostrem qualidade quando jovens estão tirando o vinho tinto da cuba e o colocando em barris logo antes do final do processo, onde o vinho terminará sua fermentação alcoólica e malolática. Após a fermentação ele terá de ser engarrafado. Antes de o vinho ser submetido a este procedimento, o vinicultor precisa ter certeza de que ele se encontra estável: de que não contém qualquer bactéria potencialmente perigosa e de que não se comportará mal se sujeito a temperaturas extremas. A grande maioria dos vinhos de ambas as cores é filtrada de alguma forma para eliminar a possibilidade de refermentação, e depois refinada para quaisquer partículas sejam retiradas.
Um artista tem que criar constantemente. O enólogo tenta fazer em cada vinho algo diferente, descobrir um sabor novo. Isso é lindo! Eles buscam cortes que nos surpreendam. Aí vem a semelhança com os artistas. Cada vez que apresentam suas obras, eles devem se surpreender antes do público. Tim-tim!
CAÇAROLAS DA SEMANA E VINHOS
Quando cheguei ao Rio de Janeiro, Rua Dias Ferreira - Leblon -, o Vinil era um bar que paquerava há tempos, com as paredes forradas de capas de discos clássicos, como The Miracle, do Queen, e Ike & Tina Turner, com as belas pernas da cantora de fora; bancos vermelhos aveludados e um belo balcão que adoro. Escolhi sentar no balcão, e Martín Lafinur, o simpático argentino que comanda o bar, veio se apresentar e perguntar o que gostaria de beber. Na hora, pensei: “Os nove coquetéis da casa”, que estavam na carta de drinques. Mas resolvi não exagerar e escolhi o Revolution Mojito com gim no lugar do rum, hortelã, xarope e soda. Uma saborosa e instigante revolução de sabores.
Por mais que estivesse decidida a experimentar um só drinque, pedi um Dry Martíni. Com cinco opções de gim, a versão com o escocês Botanist vale cada centavo. Especialmente aromático, fica uma elegância só com azeitonas pretas. O salmão gravlax com blinis e sour cream foi companhia perfeita para os primeiros drinques. Um lugar bacana e que indico se estiver na cidade maravilhosa.
Mulheres na cozinha – Muito já se falou sobre a desigualdade de gênero na gastronomia. O número de chefs mulheres é consideravelmente menor que o de homens, e elas se queixam do machismo dentro das cozinhas. O sucesso de chefs como Anne-Sophie Pic e Ana Ros tem transformado esse cenário. Mas ainda há muito a ser feito, como mostra a edição 2018 do Guia Michelin Rio de Janeiro & São Paulo. Dos 19 restaurantes estrelados, apenas um é comandado por uma mulher: o Maní, de Helena Rizzo.
Programe-se – O Rio Gastronomia acontece de 17 a 26 de agosto, nos armazéns 3 e 4 do Píer Mauá. Claude e Thomas Troisgros, Felipe Bronze e muitos outros chefs – incluindo o chileno Rodolfo Guzman, do Boragó, e a colombiana Leonor Espinosa, do Leo – darão aulas no evento.
Gastronomia Japonesa – Para celebrar a cultura oriental, o Rio Quente Resorts e o Hot Park promoverão a 9ª edição do tradicional Festival Japonês, entre os dias 12 e 19 de agosto. Durante esse período, além do acesso aos parques e programação de entretenimento e lazer, o hóspede poderá assistir a apresentações folclóricas de danças, tambores, shows de mágica e oficinas. Workshops e oficinas de artesanato também fazem parte das atrações especiais. A vila gastronômica trará pratos japoneses em suas estações temáticas durante o almoço em todos os hotéis do complexo.
VINHO
Acho excelente ampliar horizontes em relação a uvas menos conhecidas, então escolhi para esta semana: Muros Antigos Loureiro 2014 – Anselmo Mendes – Portugal – Um belo e equilibrado branco, delicioso em aromas e sabores. Bem integrado, sem aquela acidez incômoda que encontramos recorrentemente em outros vinhos brancos de qualidade inferior. Este está perfeito no estilo.