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Taquinho, o mago das imagens e das cores

“G oiás, eu te conheço!” Com esta frase, pro­nunciada pelo gran­de locutor Iris Mendes, com a voz emocionada na medida certa, teve início a campanha televisiva de Mauro Borges para governador, em l986. Começava com imagens belíssimas do Araguaia, crianças e jovens do local indo e vindo.

Mauro Borges podia dizer que conhecia Goiás. Conhecia-o pro­fundamente. Fora o governador que iniciou um projeto desenvol­vimentista, que implantou uma mentalidade administrativa mo­derna, e que buscou no povo, nos movimentos sociais, na juventu­de idealista e na intelectualidade progressista o apoio entusiástico à sua obra. O filho de Pedro Ludovi­co não era ludoviquista.

Sabemos o que aconteceu. Mauro foi destituído pelos milita­res que deram o golpe de l964, ape­sar de tê-los apoiado. A UDN local não perdoava Mauro e o acusava de favorecer os comunistas. Banido da vida pública, ele voltaria em l982 como senador. Em l986, já brigado com o PMDB local, ele tenta voltar ao Palácio das Esmeraldas. Foi der­rotado por Henrique Santillo.

A vitória de Henrique Santillo se explica por outras causas. De­pendesse de sua equipe de pro­paganda eleitoral, teria perdido a eleição. E Mauro teria vencido se marketing fosse tudo e marquetei­ro fizesse milagre.

Três meses antes de começar a campanha televisiva, o PMDB de Santillo já tinha trazido para Goiânia a Diana, uma das maiores agências de publicidade e produto­ra do Brasil. Os paulistas da Diana se instalaram pior aqui e começa­ram a produzir material. Quando Mauro estrou com o mote “Goiás, eu te conheço”, a campanha santil­lista entrou em colapso. Aquilo era algo conta o qual não podiam com­petir. No entanto, às vésperas do início do horário eleitoral o comi­tê de Mauro não tinha nada pron­to, não tinha sequer uma diretriz publicitária, não tinha um segun­do sequer de gravações.

José Eustáquio, o Taquinho, foi o responsável pela virada, e pelas intensas dores de cabeça de Hen­rique Santillo e todo o estado maior da campanha peemedebista. Pen­saram até em mandar a Diana em­bora. Toda aquela mobilização, aquele exagero de gastos, aque­la empáfia toda dos marqueteiros de São Paulo, e a turma de Mauro, meio à base de improviso, impac­tava o telespectador com aquela nova revolução da comunicação. Desde a cadeira de barbeiro, de Darci Accorsi, na eleição municipal de um anos antes, nunca se vira ta­manha ostentação de genialidade, de criatividade em estado bruto.

Taquinho me conta, muitos anos depois, como foi aquilo. O pessoal de Mauro não tinha a me­nor ideia de como iniciar a cam­panha. Taquinho então teve uma ideia. Ele criou o mote: “Goiás, eu te conheço”. Antigo funcionário da TV Anhanguera, pediu e obteve aces­so aos arquivos da emissora, a ima­gens que ele mesmo havia produzi­do a longo dos anos como um dos principais cinegrafistas da emis­sora. Ele era do tempo em que não havia ainda o Vídeo Tape e o jorna­lismo de imagens era feito em pelí­culas e editado na moviola.

Taquinho selecionou várias imagens que ele mesmo fez do Araguaia, o rio símbolo da goiani­dade. Bolou algumas cenas e de­senvolveu todo um discurso em cima do mote. Para redigir o texto, Taquinho foi buscar Carlos Alber­to Santa Cruz Serradourada, velho jornalista de politica, um prosador de alma poética, que foi militante estudantil e, por assim dizer, o in­ventor do Marketing eleitoral. Mui­tos ainda se lembram do texto vi­brante da propaganda de Íris em l982, burlando de forma inteligen­te a estúpida Lei Falcão, que impe­dia os candidatos de falar.

A POESIA É TUDO

Durante anos, Taquinho foi o mais requisitado cinegrafista e produtor de TV da região cen­tro-oeste. Foi o cinegrafista pre­dileto de Ailson Bras Correia, o homem que revolucionou a pu­blicidade em Goiás.

Alguns cinegrafistas registram imagens. Taquinho cria imagens. Ele muda luz, foco, composição. É um artista. Mas, sobretudo, ele dirige as pessoas, orienta como elas devem se portar diante da câmara e, assim, cria imagens lindas e comoventes.

”É preciso botar poesia em tudo”, afirma Taquinho. “Para mim, a poesia é tudo, a beleza é fundamental. Uma imagem feia não comunica”, filosofa o artista. Ele sempre oferece mais do que lhe pedem. É um obcecado pela coisa bem feita, pelo esmero.

Já virando os 70 de idade, os ca­belos totalmente brancos, Taqui­nho continua o mesmo espírito jo­vial e bem humorado de décadas atrás. Apesar da reputação cria­da ao longo desses anos, ele conti­nua a mesma pessoa simples, mo­desta, que não afeta vedetismo. Ele tem consciência do próprio talen­to, é claro, mas não faz muito alarde. Nem precisa. Todos sabem.

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