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Agora restam apenas cinzas

No último dia 2 um in­cêndio destruiu parte da história nacional. O Museu Nacional do Rio foi re­duzido a cinzas em um evento que durou 6 horas. O museu mais antigo do País, com 20 mi­lhões de itens, foi consumido em um incêndio que ainda não se sabe como e por que iniciou.

Éramos acostumados com tragédias diárias, os índices de mortos por assassinato no País com números superiores à de uma guerra, a má gestão repe­tida dos últimos governos ou as propostas tacanhas e eleitorei­ras dos candidatos à presidên­cia da república. O que aconte­ceu no Rio de Janeiro mostra não apenas uma monumental fal­ta de cuidado dentro da gestão pública, tendo em vista a enor­me redução de investimentos na cultura e preservação do pa­trimônio nacional, mas um fator bizarro de nossa pátria tupini­quim: o investimento maior em um político em relação ao pró­prio museu nacional.

Gasta-se mais dinheiro públi­co sustentando as regalias de um único deputado durante um ano do que foi investido na conserva­ção do Museu nacional em 2018.

O que se tornou pó com esse incêndio não foram apenas os artefatos históricos do museu – em sua dimensão cultural, ar­tística ou científica –, mas todo um acervo do qual faz parte a história de uma civilização.

O que perdemos com essa tragédia sem precedentes per­corre um caminho tortuoso com o qual lidamos desde a gênese de nossa história – só entramos em ação de forma emergencial e não de forma paliativa. O mesmo aconteceu com o incêndio na Boate Kiss, quando os órgãos responsáveis resolveram fiscalizar, após da tragédia na Boate Kiss, os ex­tintores de incêndio nas casas de show de todo País.

Com essa tragédia no Rio e a destruição de milhares de pe­ças e a incalculável perda para todos nós, ficamos mais um pas­so do total esquecimento de nos­sa história. O incêndio no Museu Nacional contribuiu para alçar a ponte que existia entre nossa his­tória e o que somos atualmente.

A iconoclastia quase que in­tencional diante da história, arte, ciência, museologia, ar­quitetura, astronomia, arqueo­logia ou qualquer outro âmbito da herança cultural que foi per­dido, nos mostra quem verda­deiramente somos, o que real­mente importa para alguns de nossa nação em termos de in­vestimento ou até pior que isso: para onde estamos caminhando quando se trata de preservação de uma imensa dimensão cul­tural de uma nação.

Destruímos nossa maior es­tatal, nossas florestas, massacra­mos os índios, poluímos os rios, devastamos áreas de preserva­ção para o gado e a soja e sem muito alarde, matamos um pe­daço de nossa história e a iden­tidade de nosso povo.

O que foi transformado em cin­zas no domingo não foram ape­nas os artefatos que ali estavam, mas o que resta da nossa capaci­dade em perceber a importância de toda uma gama cultural existen­te e a qualidade que isso promove para as atuais e as futuras gerações.

Dessa maneira, permanece­mos imersos a uma condição de­gradante quando falamos tanto em educação como em políticas de investimento cultural. Uma nação que esquece de sua histó­ria e tampouco exerce uma preo­cupação mínima em ampliar sua política voltada para áreas do co­nhecimento, está fadada à ruína, ou melhor, fazendo um parale­lo ao incidente do domingo – ser transformada em pó.

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