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Cidade de Goiás exala poesia

“Minhas mãos doceiras/ Jamais ociosas/ Fecundas. Imensas e ocu­padas/ Mãos laboriosas”. Os versos da poetisa Cora Coralina me veio à cabeça quando coloquei os pés no Museu Cora de Coralina, à beira do Rio Vermelho, na Cidade de Goiás. Na cozinha, meus olhos vagueiam pelos tachos de cobre, enquanto a imaginação reconstrói o aroma dos doces que um dia foram feitos ali. Nas estantes, livros de poesia e con­to. Em cima da mesa, uma máqui­na de escrever que evocou durante anos o tec-tec das teclas que canta­ram tão bem sua terra.

Boa parte dos moradores parece cultuar admiração pela Casa Velha da Ponte. Totalmente compreensí­vel. Foi ali que nasceu e viveu a voz dos becos e vielas da antiga Villa Boa de Goyaz, a escritora Cora Coralina. A casa pertencia à família da poetisa e doceira. Hoje, conta com museu que preserva a história dessa per­sonagem que é praticamente im­possível desassociar da Cidade de Goiás. O casarão é mantido como nos tempos em que ela o habitava. Foi na antiga construção que Cora passou a infância, parte da adoles­cência e o fim da vida.

Aliás, eu estava fazendo uma entrevista para o Diário da Manhã com Marlene Veloso sobre uma fake news atribuída a Cora – repor­tagem foi publicada na edição do dia 7 de junho – quando conheci o célebre museu. Na verdade, fui à cidade cobrir o Fica, mas a che­fia pediu para entrevistá-la. Após findar a conversa, todavia, cami­nhei pelas ruas de pedra construí­das por escravos. Meu passo lento permitiu que o olhar repousasse sobre os belos casarões coloniais e igrejas com arquitetura barroca, dois dos tantos charmes que é pos­sível encontrar na cidade.

PERFUME DO CERRADO

Vielas, becos e ladeiras evocam a presença de Cora Coralina, auto­ra dos seguintes versos: “Eu sou es­tas casas encostadas cochichando umas com as outras. Eu sou a rama­da dessas árvores, sem nome e sem valia, sem flores e sem frutos, de que gostam a gente cansada e os pássa­ros vadios”. O trecho foi extraído do poema Minha Cidade.

Se você estiver na cidade não pode deixar de visitar a igreja Boa Morte, de estilo barroco. Construí­da com blocos de pedra e paredes de taipa, abriga desde 1969 o Mu­seu de Arte Sacra da Boa Morte, onde há acervo com mais de mil obras. De autoria do artista José Joaquim da Veiga Valle (1806 – 1874), que escolheu a Cidade de Goiás como sua morada, as ima­gens de santo que podem ser vistas no museu são talhadas em cedro.

Fundada por bandeirantes, que estavam atrás de índios e ouro, a antiga Villa Boa de Goyaz cresceu às margens do Rio Vermelho. A cruz do Anhanguera, marco his­tórico, foi levada pela enchente de 2001 e resgatada a 500 m de seu lo­cal original. Lá, foi colocada uma réplica dela. Atualmente, a peça verdadeira está guardada no Mu­seu das Bandeiras.

Após caminhar bastante pelas sinuosas ruas da cidade, é impres­cindível pensar na gastronomia tí­pica da região. Quem estiver com aquela fome poderá puxar uma cadeira de madeira e render-se ao sabor do cultuado empadão goia­no, iguaria feita de frango, carne de porco, linguiça, guariroba e queijo. O prato me foi apresentado pelo jornalista Thompson Silva quan­do estávamos de ressaca, depois de passar a madrugada em claro be­bendo no último dia do Fica.

Aos fãs de uma boa cachaça, fica a dica para saborear a tradicio­nal pinga de mutamba no Merca­do Municipal. Embebedei-me no último dia ingerindo alguns tra­gos da bebida para ‘abrir’ o ape­tite. E, para seguir a peregrinação boêmia, há o bar do Marlon, no Centro Histórico, com jukebox, to­cando desde clássicos da música sertaneja, como Zezé Di Camar­go e Luciana, a sucessos da MPB, como Belchior. Rola também mú­sica ao vivo em restaurantes.

Outro ponto para parada obriga­tória é no Largo da Carioca. Não o conheci, mas ouvi incontáveis rela­tos acerca da preciosidade do local.

HISTÓRIA

A Cidade de Goiás é testemu­nha da ocupação e da coloniza­ção do Brasil Central entre os sé­culos XVIII e XIX. Suas origens estão diretamente ligadas à his­tória das bandeiras que partiram de localidades como São Pau­lo para explorar o território bra­sileiro. O conjunto paisagístico, arquitetônico e urbanístico do Centro História de Goiás foi tom­bado pelo Iphan em 1978. Reco­nhecimento mundial ocorreu em 16 de dezembro de 2001.

O processo de expansão para o oeste exigiu a simplificação dos modelos arquitetônicos na épo­ca em função à ausência de téc­nicas, arquitetos e mestres para ofícios na região. Goiás foi o pri­meiro núcleo urbano reconheci­do ao oeste da linha de demar­cação do Tratado de Tordesilhas, que foi o responsável por delimi­tar as fronteiras da colônia fran­cesa. O seu traçado urbano é um exemplo do desenvolvimento or­gânico de uma cidade mineradora adaptada às fronteiras da colônia.

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