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ENTRETENIMENTO

Liberdade no Centrão

Resistência. Esse é o lema da Casa Liberté. Localizada no Setor Central, bairro históri­co de Goiânia e praticamente em situação de abandono por conta do baixo estímulo para empreen­dimentos, o espaço promete trans­formar a cena cultural e torná-la um ponto em que a revolta contra o autoritarismo e o bom gosto ar­tístico se unem em prol do com­bate à barbárie, além de contribuir para o processo de revitalização da região. E mais: a Liberté (como ca­rinhosamente vem sendo chama­da pelos fregueses) pode, ou deve, ser–bem como já vem sendo–um contraponto aos caducos bares da capital goianiense.

Deixe eu te explicar: o nome da casa é uma referência históri­ca às insurreições de Maio de 68 em Paris, que neste ano comple­taram 50 anos e que ainda hoje influenciam movimentos cultu­rais, sociais e políticos em todo o mundo. As revoltas daquele ano tinham o objetivo de derrubar o governo do ultradireitista e ex­-combatente na Segundo Guer­ra Mundial, general Charles De Gaulle (1890-1970), reeleito para governar a França em 1965. A partir de então ele enfrentou opo­sição de comunistas, anarquistas e todas as orientações ideológi­cas à esquerda. Agora, a Liberté, que fora pichado em muros da capital francesa, é o novo point da galera contracultural da capi­tal goianiense

Para você ter uma ideia, a de­coração da casa é em sua maio­ria feita por desenhos do jornalis­ta e agitador cultural, Heitor Vilela, 24, proprietário do ateliê Rabiscos e Escarros e da editora Escultura e Produções Editoriais, responsável por lançar obras de cunho político. Lá também funciona a redação do site de mídia independente Meta­morfose (coletivo que pretende ser uma espécie de contraponto a nar­rativa encontrada nos meios de co­municação convencionais). Tudo isso, é claro, temperado com mui­to rock and roll. Em suma, trata-se de um lugar plural onde as mino­rias podem se sentir mais à vonta­de simplesmente para ser quem é.

Será neste ambiente que Waldi & Redson irá se apresentar na noi­te hoje. Influenciados pelo cantor de blues norte-americano Hank Williams (1923-1954) e pela dupla goiana noventista Chrystian & Ralf, os músicos se dizem preocupados com os rumos pelos quais o Brasil está trilhando no momento. “Em to­das as cidades que passamos com a “Irmão Caminhoneiro Tour” prega­mos o humanismo e a liberdade. Fa­zer arte neste país já é um ato de re­sistência. E a Casa Liberté também chega somando com a gente nesta luta”, diz o cantor Diego de Moraes (Diego Mascate, integrante da ban­da Pó de Ser) o Waldi.

“Expectativa do show na Liber­té: Tocar em Goiânia é sempre mui­to louco. Rever os amigos e amigas. Inclusive, o Heitor é um amigo das antigas que gostamos e queremos muito conhecer novo espaço cultu­ral de Goiânia”, confessa o urbelan­dense Chelo, baixista da banda Por­cas Borboletas e baterista da banda de sur-music Light Strucks. A dupla ainda afirmou que o contexto polí­tico atual é complicado e os deixam bastante assustados. “Estamos tris­tes e preocupados com o que está acontecendo, com perigo de mui­tos retrocessos”.

O primeiro disco foi lançado em 2013 e está disponível para do­wnload no site da dupla. Com pé­rolas como Furo Olha de Brother, além das modas de viola Cachim­bo de Ouro, Farinha do Desejo, a sonoridade deles é repleta de refe­rências a clássicos da música ser­taneja como os paulistas Tião Car­reiro e Pardinho, Milionário e José Rico e Lourenço de Lourival. Wal­di & Redson estão em turnê e, após a apresentação na Liberté, vão se­guir para a Cidade de Goiás, anti­ga capital do Estado, onde tocam no Bar dos Artistas.

PROJETO

Heitor Vilela argumenta que a cidade vai na contramão da tendência encontrada em outras capitais brasileiras. Ele acredita que o Centro de Goiânia, conhe­cido pela arquitetura art déco, está sendo subocupado e subu­tilizado por conta das propos­tas culturais que há no momen­to para bares e casas culturais. Reforçou ainda que, embora a maioria dos estabelecimentos, como teatros, museus e palcos de shows sejam no bairro his­tórico, o horário de fechamento é “muito cedo” e, assim, a vida cultural da região não seria tão movimentada em relação às ou­tras cidades históricas do País.

“O imóvel que foi escolhido para ser a sede do bar e casa cul­tural, a Casa Liberté, é um casa­rão antigo da cidade de Goiânia, que fica ao lado do colégio Lyceu, uma das primeiras escolas da Ca­pital. Próximo ao imóvel também há a sede da Academia Goiana de Letras e outros prédios históricos”, contou Heitor, que deve abrir a casa ao público em breve, em en­trevista ao Diário da Manhã em agosto. “Uma nova opção com shows e outras manifestações cul­turais farão com que o centro seja mais atrativo em relação à outros bairros da cidade. Movimentando culturalmente a casa, outros es­paços do centro certamente irão ganhar atenção”, conclui ele, que também é ilustrador.

Iniciativas como as Heitor fa­zem com que o centro não se torne deserto ao cair da noite. Em janei­ro, o titular da Secretaria Munici­pal de Planejamento Urbano e Ha­bitação (Seplahn) Henrique Alves disse que a criação de novos empreendimentos aumentará as opções de recreação na região e con­tribuirá para que o histórico bairro não se torne esquecido. Na oca­sião, a pasta ressaltou que haverá estímulo para novos empreendimentos na região. O bairro con­ta com 22 prédios tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

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