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Velório de Celine, pour Hedi Slimane

De todas as reviravoltas que a moda teve no ano de 2018, a que mais chamou a aten­ção da mídia e dos fashionistas foi a chegada de Hedi Slimane na Ce­line, e tudo começou por conta da modificação drástica que foi retirar o acento agudo do nome da marca, dando a entender que muita coisa mudaria dentro da casa.

Não era a primeira vez que Sli­mane causou um frisson como este. Em 2012, na Yves Saint Laurent, ele mesmo retirou o símbolo da mar­ca, a qual era YSL, e adotou uma li­nha minimalista, em fonte arial no título lendo-se agora Saint Laurent Paris. Com ele, a marca cresceu gi­gantemente dentro do mercado de luxo, se estabilizando após anos de crise. E deu certo, justamente por conta do design da marca, criada pelo estilista homônimo, que tinha essa pegada meio jovem de ressaca que se acaba em balada, em um je ne sais quoi chique cheio de brilho, que é semelhante a estética vampí­rica de Slimane.

Em fato, Hedi é um estilista ex­cepcional, quanto a isso não há dú­vidas, mas em sua estréia na Celine ele deixou mais saudade da era de Phoebe Philo que ansiedade para compras de peças. Tudo isso, jus­tamente por ele ser essa pessoa que passa por cima do DNA de uma marca, sem ligar por o que pode fa­lar, e se vitimizando por isso. Recen­temente, em entrevistas, ele atacou deus e o mundo pelas críticas nega­tivas, dizendo que é uma espécie de xenofobia mesclada com homofo­bia pela má recepção que ele trou­xe na marca. Isso é meio contradi­tório, pois na YSL ele foi muito bem aceito, e antes mesmo de ele assu­mir a Celine, quando já se comen­tava sobre, as pessoas se mostram ansiosas para vê-lo.

A verdade por trás de tanto des­gosto do público é por que sim­plesmente a coleção dele na marca parece uma continuação da Saint Laurent. Do cenário, passando pelas modelos e a trilha sonora até che­gar no pódio, que seriam as rou­pas e suas combinações. O estilista se justificou para o jornal Le Figa­ro que diferente da Dior (Homme) e Yves Saint Laurent, a Celine não tem uma carga histórica de design, a qual deu uma liberdade grande para se criar algo “novo” dentro da casa. Mesmo que esse novo signi­fique uma repescagem no acervo criativo pessoal, e se atualize como releituras lembradas em forma de deboche pelo Instagram de crítica de moda Diet Prada.

O desfile em si, com toda alego­ria que acompanha-o por trás, não desapontou pela qualidade, que era única. Assim como Karl Lagerfeld na Chanel, que usa do DNA da pró­pria marca para criar, e não se leva muito por variedades de inspira­ções criativas, Hedi Slimane segue o próprio DNA clubber para fazer as peças. No apogeu da androgi­nia, com ternos slim com cintura alta marcante, vestidos de babado, poas, couro em excesso, óculos de sol em um olhar misterioso, blusas de renda (aquelas de cenas de veló­rio em filmes, que são digníssimas de prêmios de figurino). Tudo isso mesclado com uma pegada de ro­queiro que ele sempre joga para o público, perceptível num modelo que lembrava muito o Kurt Cobain.

Essa apresentação é interpreta­tiva como o velório do estilo antigo que Phoebe Philo tinha consigo de mulher minimalista, discreta e com ótima desenvoltura, o que faz pen­sar: porque a LVMH (que é a hol­ding por trás da marca) iria mudar brutalmente a linha de produção artística que esteve há uma déca­da na marca? Simples. Aumento de vendas. Se antes, a marca chamava a atenção mais de pessoas mais ve­lhas, agora eles querem colocar ela pra vender para millennials, que gastam mais dinheiro com roupas que ninguém. Uma espécie de con­corrência para a própria Yves Saint Laurent, a Kering Holdings. O que é uma jogada clássica: pegar uma marca já existente e consolidada e colocar uma pessoa experiente em jovens para alavancar a marca (exa­tamente como ele fazia na SL).

Comparando, é muito provável que aumente, mas é unânime a opi­nião de todos: Hedi deveria ter sua própria marca. Esse estilo de vam­piro californiano dele seria perfeito, nesse processo que ele tem de toda curadoria pré, durante e pós pro­dução criativa, de criar uma peça, produzi-la e fotografar cuidando da parte publicitária.

Slimane é um gênio indomá­vel, incompreensível e um pou­co pedante. Mas o poder acima da cultura jovem que ele tem é inquestionável assim como o di­nheiro que reflexo disso, e por conta de tudo, deveria ter o seu próprio lugar no holofote, sem ficar a sombra de marcas já con­ceituadas, que o design não é se­melhante ao seu.

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