Home / _

_

Na Suécia deputado não recebe salário e anda de ônibus

  • Vereadores e deputados estaduais não recebem salários
  • Deputado federal ganha 50% a mais do que um professor
  • Primeiro-ministro e prefeito andam de ônibus e bicicleta
  • Estudantes têm ajuda de custo do primário até a universidade


Renato Dias, Da editoria de Política&Justiça

Os vereadores e deputados regionais (estaduais) não recebem salários, nem possuem carros com motoristas e devem usar os seus próprios celulares. Mais: eles não têm secretárias particulares e muito menos uma multidão de assessores parlamentares. O prefeito da Capital anda de ônibus. Primeiro-ministro? Esse circula de metrô ou de bicicleta. Ah, os deputados federais? Moram em apartamentos funcionais de 16 metros a 46 metros quadrados, lavam e passam as suas próprias roupas. Acreditem se quiser. Esse país é a Suécia, na Europa.

Com quase dez milhões de habitantes, é uma das nações mais igualitárias do mundo. É o  welfare state, estado do bem-estar social sueco, construído pela social-democracia, cujo célebre ex-primeiro-ministro Olof Palme andava de Fusca velho, sem chofer ou guarda-costas quando se dirigia para o trabalho. O ex-premiê e ministro das Relações Exteriores, Carld Bildt, vai de bicicleta pedalando para despachar em seu gabinete. A Organização Transparência Internacional informa que trata-se de um dos países menos corruptos do planeta.

Políticos ganham pouco

É o que desnuda o livro de Claudia Wallin Um País Sem Excelências e Mordomias (2015), Geração Editorial. A autora relata que, na Suécia, os políticos ganham pouco, andam de ônibus e de bicicleta. Cozinham a sua própria comida, lavam e passam as suas roupas e não são tratados como "excelência", mas de "você. "Figurões moram em pífias habitações", registra. Um detalhe observado pela jornalista brasileira é que lá o primeiro-ministro lava a sua própria xícara de café e pode ter o seu salário e seus e-mails vasculhados pelos cidadãos.

– Madames não vão às compras em carros oficiais!

Ministros e secretários jamais viajam de jatinhos ou hospedam-se em hotéis de luxo, nem pagos pelo erário e muito menos por empresários, informa. Na Suécia, o mandato político não confere "título de nobreza", alfineta. Juízes e promotores de Justiça não possuem salários estratosféricos, adicionais, penduricalhos para burlarem a legislação, também não têm secretárias particulares e as assessorias são coletivas. O rei já perdeu todos os seus poderes, insiste. A sua presença é apenas simbólica, observa a jornalista e consultora radicada no país

– Um deputado federal ganha apenas 50% a mais do que recebe um professor da rede primária de ensino.

Pífias habitações

Os seus apartamentos funcionais lembram quartos de hotéis de duas estrelas, aponta Claudia Wallin. Os seus gabinetes são diminutos e espartanos, destaca. Os vereadores e deputados regionais sequer possuem gabinetes, fuzila. O atual chanceler  empurra, como um cidadão comum, os seus carrinhos de compras em supermercados e o prefeito de Estocolmo, capital da Suécia nascida em 1.259, vai para o fim da fila de ônibus quando chega no ponto. Olof Palme morava no subúrbio. Assim era a espartana vida do ex-premiê social-democrata de esquerda.

– Não existe empregada doméstica. Diaristas são espécie rara!

Pasmem: eleito pelo Financial Times, jornal britânico, como o melhor ministro da Economia da Europa, em 2011, o sueco Anders Borg mora em um apartamento funcional de 25 metros quadrados

Sem residência oficial

De Claudia Wallin, estupefata:

– Nem ministros, nem prefeitos e nem o presidente do Parlamento têm direito à residência oficial!

As lavanderias dos deputados federais tanto no parlamento quanto nos apartamentos funcionais são comunitárias. Trocando em miúdos: os parlamentares precisam agendar para lavarem as suas roupas. Uma quitinete parlamentar abriga um sofá-cama, uma mesa, um pequeno armário, uma minicopa com um fogão de uma boca apenas, um frigobar e um banheiro. O parlamento tem uma lavanderia e uma creche, para atender crianças de um a 13 anos de idade. Os moradores de Estocolmo não têm direito a apartamento funcional.

– Familiares e namoradas devem pagar ao erário pelos dias de pernoite no apartamento funcional.

Nada de status

Antes da construção dos apartamentos funcionais, os deputados federais dormiam em seus próprios gabinetes. "Na Suécia, não atribuímos nenhum status à função de político, juiz ou promotor, dispara. "Somos todos iguais", afirma a deputada federal Eva Flyborg. O número de parlamentares totaliza 349. Eles não possuem jornais e revistas para leitura pessoal. Os veículos de comunicação são para leitura coletiva, destaca. Em taxa cambial de agosto do ano de 2013, um deputado federal ganhava o equivalente a R$ 21 mil, pontua a escritora.

– Por que um parlamentar deveria ganhar muito mais do que um professor? – pergunta Monika Karlsson, funcionária da creche instalada no Parlamento.

Detalhe: mulher de um parlamentar não possui o direito à pensão do marido quando ele morre. Não há cotas de passagens de avião. As diárias dos deputados federais, em viagens ao exterior, variam de 33 a 107 dólares. Preto no branco: o valor das diárias é sujeito à cobrança de impostos. Os ministros voam em aviões comerciais com a tarifa mais baixa possível. Os parlamentares voam apenas de aviões de carreira. Eles também não recebem verbas para aluguel e manutenção de seus escritórios políticos, sublinha Claudia Wallin.

– Não possuem ainda cota parlamentar para pagar consultorias ou para divulgação do mandato.

Estocolmo, Suécia

Vida comum

Rossana Dinamarca, nascida em 1974, no Chile, exilada na Suécia pós-Augusto Pinochet, deputada federal do Partido da Esquerda, afirma que vive como qualquer pessoa.  "Cozinho a minha própria comida, cuido de casa, das crianças, já que tenho dois filhos", atira. Kent Härsted, deputado federal, lembra não ter Plano de Saúde. Uso o sistema público de saúde da Suécia, confidencia.  Sem verba para divulgação de suas atividades parlamentares, ele conta a Claudia Wallin que recorre às redes sociais, ao Facebook, em particular.

– Os vereadores trabalham em casa!

A função de vereador é considerada um trabalho voluntário, ressalta a autora de Um País Sem Excelência e Mordomias. "Os vereadores suecos têm empregos regulares onde trabalham em tempo integral", observa. Eles não recebem telefones celulares nem têm as suas contas pagas pela Câmara Municipal, relata. Christina Elfors-Sjödin, vereadora, diz que o mandato é para exercer a cidadania apenas. "Não acredito que ser vereador seja um trabalho", pontua. Eu uso o meu próprio telefone celular, sem problema nenhum, argumenta ela.

– O vice-prefeito usa o ônibus todos os dias e os bilhetes são pagos com seu salário!

Juiz ou promotor de Justiça não tem direito a carro oficial com motorista muito menos secretária particular. Eles não recebem auxílio-moradia, auxílio-alimentação, auxílio-livro, nem férias duas ou três vezes ao ano. Nada de imunidade ou privilégio, explica a jornalista. Os magistrados não podem receber presentes. Assim como abonos, gratificações e auxílios, insiste.  Luxo pago com dinheiro do contribuinte é considerado imoral na Suécia, metralha. "Um sistema judiciário limpo é essencial", afirma Göran Lambertz, juiz da Suprema Côrte.

– Se o sistema não é limpo, inexiste Justiça.

Ele vai trabalhar de bicicleta e de metrô.

"Luxo pago com dinheiro do contribuinte é considerado imoral
na Suécia”
Claudia Wallin,Jornalista

SERVIÇO

livro

Livro: Um País Sem Excelência e Mordomias

Lançamento: 2015

Editora: Geração

Autora: Claudia Wallin

Prefácio: Luiz Fernando Emediato

Número de páginas: 344 páginas

Avaliação: Ótimo

Leia também:

edição
do dia

Capa do dia

últimas
notícias

+ notícias