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OPINIÃO

Diário da Manhã: um jornal que marcou a história

Anselmo Pereira Especial para  Opiniãopública

“Isto é prova viva da inverdade do velho ditado de
que nada é mais morto que o jornal de ontem …
Trata-se do que realmente aconteceu, relatado por uma
imprensa livre a um povo livre. É a matéria-prima
da história; é a história de nossos tempos”.
Henry Steel Commager, historiador, 1951

Às vezes nos colocamos a pensar qual o papel do jornal impresso nos dias atuais, dias em que as informações estão difundidas pela internet em tempo real. Mas, pergunto: qual de nós, imbuídos do hábito da leitura, abrimos mão de um bom livro ou do nosso jornal diário? Apesar de todo o avanço, Século XX com o aparecimento do rádio, da televisão e recentemente com a internet, o jornal impresso continua a fazer parte do cotidiano das pessoas, levando informação e entretenimento.
O grande Júlio César, da Roma antiga, por volta do ano de 59. a.C. no desejo de informar a população sobre os eventos que aconteceriam, ordenou que eles fossem escritos em grandes placas brancas e afixados em locais públicos onde todos poderiam ter acesso. A estas placas foi atribuído o nome de Acta Diurna, considerado o mais antigo jornal dado a conhecer.
Um invento, em 1447, viria revolucionar a confecção dos jornais. Refiro-me à prensa, atribuída a Johann Gutenberg. A partir dessa invenção, os jornais até então manuscritos passariam a ser impressos, o que efetivamente aumentaria sua circulação, popularizando-o e inaugurando a era do jornal moderno.
Somente na primeira metade do século XVII os jornais tornaram-se publicações periódicas. A este fato, soma-se a inusitada coincidência de censura neste meio de comunicação, vista até então como normal, pelas poucas pessoas letradas da época.
Outro invento que viria mudar radicalmente a popularidade emergente do jornal seria o telégrafo, em 1844. Os acontecimentos então eram transmitidos rapidamente pela utilização deste equipamento, universalizando, com as devidas ressalvas, as informações.
O início do século XIX trouxe profundas transformações tanto sociais como econômicas, fruto principalmente das revoluções que assolaram a Europa no final do século anterior. Aos jornais foi atribuída a responsabilidade pioneira em propagar os ideais revolucionários.
No Brasil, antes de 1808 e a vinda da Real Família Portuguesa, toda a atividade relacionada à imprensa era proibida. Somente após este fato, é criada na cidade do Rio de Janeiro, pelo príncipe D. João VI, a Impressão Régia, exclusiva na publicação de qualquer impresso no Brasil até 1821, quando termina essa exclusividade. Ainda em 1808, mais especificamente no mês de setembro, começa a circular a Gazeta do Rio de Janeiro. Há controvérsias, contudo, de que seja a Gazeta o primeiro jornal brasileiro, haja vista a publicação em junho do mesmo ano do Correio Braziliense, embora seu criador o tenha feito em solo inglês. O Diário do Rio de Janeiro foi o primeiro jornal de circulação diária no País.
Em Goiás, não diferente de outros Estados brasileiros, a instalação de uma imprensa regular também foi tardia, considerando-se o mesmo tema na Europa e Ásia. Buscamos em fontes diversas o registro desta história e felizmente nos deparamos com uma obra rica pelas minúcias, que trata do assunto em questão. Refiro-me ao Dossiê 200 anos da história da imprensa no Brasil, cuja autoria é da radialista Rosana Maria Ribeiro Borges e da jornalista Angelita Pereira de Lima. As autoras iniciam suas análises referindo-se à imprensa em Goiás como um fenômeno de resistência política e cultural, o que consubstancia o olhar admirado que tenho para o jornal que ora dá o título a este artigo.
O primeiro jornal goiano foi o Matutina Meyapontense, que foi editado pela primeira vez no dia 5 de março de 1830. Surge através da iniciativa privada, visto a negação de subsídios do governo federal para que aqui se instalasse a primeira tipografia do Centro-Oeste. Com o fechamento do Matutina Meyapontense em 1934, surge o Correio Oficial de Goyas, criado por Lei Provincial em 1837 e vai até o ano de 1890. Em seguida vem a Gazeta Oficial de Goyas que tem seu fim no período da Proclamação da República no Brasil, cedendo vez à Informação Goyana até 1935.
Segundo o Dossiê da Imprensa, “em meados de 1940, o Estado de Goiás já estava saindo do ostracismo político e econômico (...)”. Além disso, a transferência da capital de Goiás de Vila Boa para Goiânia faria com que se acelerasse o processo de expansão da imprensa em Goiás. “No início do ano de 1936, o Correio Oficial foi transferido para Goiânia, e em 1940, passou a denominar-se Diário Oficial de Goiás. Em abril de 1938, temos o surgimento do jornal O Popular, que, segundo Rosana Maria e Angelita Pereira, sofria também com a censura, o que “pode ser explicado pela análise dos mecanismos de controle e censura empregados em grande escala de 1936 até a abertura política do País no início da década de 1980”.
Ainda segundo as autoras, cronologicamente, “o golpe militar de 1964 desencadeou outros processos históricos na imprensa goiana(...); Este período de ditadura militar foi marcado tanto pela opressão dos militares e de seus apoiadores quanto pela resistência de jornais e jornalistas(...); Um veículo goiano, cuja duração atravessou anos, deixou um legado muito importante: trata-se do jornal Cinco de Março, criado em 1959, após forte repressão da polícia a uma manifestação de estudantes secundaristas(...); Entre os líderes estudantis da União Goiana dos Estudantes Secundaristas (UGES) estavam Javier Godinho, Telmo Faria e Batista Custódio. Os três lideraram a criação do jornal com contribuição de outros estudantes, como Valterli Guedes, Zoroastro Artiaga e Consuelo Nasser, que viria a ser uma das mais expressivas figuras na imprensa goiana e na luta em prol dos direitos da mulher”.
Devido ao foco de jornalismo opinativo, em 1964, sob violenta repressão, o Cinco de Março deixou de circular por um tempo e, após este triste episódio, sob vigilância contínua, retorna e ainda continua mantendo a sua linha editorial voltada para denúncias até o início da década de 80. O jornal Cinco de Março, em 1981, com o processo de redemocratização do Brasil, se tornou o Diário da Manhã, que, no último dia 12, completou 56 anos de história laboriosa.
São 56 anos de lutas árduas! Várias vezes aviltado com fechamentos, repressão, dificuldades inúmeras, mas nem isto foi capaz de vergar a inquebrantável obstinação do sr. Batista Custódio, Consuelo Nasser, Fábio Nasser e inúmeros jornalistas que sempre estiveram ao seu lado, mantendo aberta a porta do jornalismo criativo e inovador.
Ao sr. Batista Custódio e equipe, que transformaram o jornalismo com ideias arrojadas e, ao longo da história, vem contribuindo de forma única para que seja repensado o papel dos jornais na vida dos cidadãos e cidadãs, meu reconhecimento e respeito pelos grandes feitos realizados em prol de uma imprensa livre e democrática através do jornal Diário da Manhã.
Ainda em reconhecimento a esses feitos é que na próxima quarta-feira(18), às 20h, no Plenário Trajano de Sá Guimarães e sob minha presidência, a Câmara Municipal de Goiânia homenageará, em uma Sessão Solene, o jornal Diário da Manhã, pelos 56 anos de sua existência.
Concluo com a transcrição da fala do sr. Batista Custódio elaborada pelo jornalista Marcelo Mendes: “A minha história não cabe na minha biografia. Vi na semente dos frutos que se colhem os plantios do idealismo que renascem no chão pisado das adversidades. Que reflorescem nas bordas das esperanças(...); por isso, faça-se nas minhas palavras a voz do brado que ressoa do silêncio das legiões de companheiros o heroísmo deles na legenda da minha história na imprensa.”
Uma das sementes que se tornou frondosa árvore, com certeza é o jornal Diário da Manhã. Parabéns a todos que compõem a competente equipe deste grande jornal.

(Anselmo Pereira, advogado, empresário, vereador e presidente da Câmara Municipal de Goiânia).

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