Home / Opinião

OPINIÃO

Governos pacíficos

Joaquim de Azevedo Machado Especial para Opiniãopública

O último protesto contra o aumento das passagens de ônibus em Goiânia, no mês passado, foi o exemplo vivo de que toda ação gera uma reação. A ação foi o aumento e a reação, o protesto. Num regime democrático, as manifestações são formas legítimas de reagir ao que não vem de encontro aos anseios da população. No início, quando se deu a abertura democrática, houve um estranhamento e muitos diziam que greve era uma coisa ilegal, uma desestabilização da normalidade, enfim a banalização da baderna. Já mais recentemente, já não é este o aspecto que mais incomoda, uma vez que foi incorporado, às duras penas, à aceitação dos reacionários de plantão. Hoje, a exigência é outra, que as manifestações sejam pacíficas. A aceitação de manifestações de rua foi uma conquista paulatina. Agora, exigir a passividade, que é uma reação que interessa aos governantes, dependerá muito de suas ações.
As ações governamentais, para não provocarem reações indesejáveis, devem de certa forma também ser violentas. Calma, leitor. Explico. Não falo aqui de ação destruidora ao pé da letra. No entanto, destruidora em outro sentido, que denominamos de positivo. Exemplos seriam de governos comprometidos, destruidores do está incomodando, do que está de errado, do que não vem de encontro aos anseios populares. Assim governos violentos neste sentido gerariam movimentos desejáveis, ou até nem mesmo os gerariam. As reações, com efeito, seriam no sentido de ações pacíficas de reconhecimento das ações governamentais destruidoras no sentido positivo.
Mas o que se vê, no entanto, são governos que trabalham contra o povo, governos que desejam movimentos pacíficos, mas que fomentam a violência das ruas justamente por não serem violentos na medida certa. No caso específico do aumento das passagens dos ônibus coletivos, o governo deveria ter ingerido certa dose de violência, subsidiando ou estatizando o serviço e viabilizando a tranquilidade do cidadão em termos de qualidade em mobilidade urbana. Que tal, por exemplo, promover uma quebradeira do asfalto urbano, que está deteriorado, e fazer um recapeamento digno da cidade? Outras ações violentas poderiam ser: revitalizar o Detran, descentralizando o atendimento, defenestrar as terceirizações, OSs, enfim, melhorias generalizadas nos serviços de educação, saúde e segurança. Com efeito, um governo que se preze deve ter energia, impulsos violência para se fazer o bem à população, que, por sinal, o elege não para a estagnação, a passividade, mas para a agressividade no sentido da eficiência. Caso contrário, governos passivos gerarão sempre manifestações indesejáveis.
Outro assunto polêmico é a tão propalada liberdade de expressão. Alguns expoentes jornalistas goianos, infelizmente, não raro preferem a passividade à incursão pela seara menos agressiva da liberdade de expressão. (Tomo aqui a palavra agressiva no sentido positivo como corolário do livre-arbítrio também positivo). Lendo em cartilhas alheias, defendendo posições às vezes nem sempre próprias, com honrosas exceções, não raro tergiversam, tripudiam sobre o livre arbítrio de sua liberdade de expressão. Indo assim de encontro a uma verdade escusa, que somente a eles diz respeito, não alcançando o consenso interpretativo da realidade (objetiva ou subjetiva).
Assim sendo, há que se ter ações violentas no sentido positivo, de um jornalismo engajado, que promova uma quebradeira na malversação da liberdade de expressão, para que esta venha de encontro à libertação do indivíduo, porque a expressão legítima de um jornalismo deve conter simplesmente a verdade. Em que pese a palavra verdade, em termos de expressão de ideias, tenha sentido altamente complexo, no campo político nossos formadores de opinião devem se expressar livres das amarras que a impedem de vir à luz, mesmo que para isto o seu arbítrio não seja tão livre assim... Caso contrário, para quem crê na palavra como fonte libertária, a reação indesejada será inevitável.

(Joaquim de Azevedo Machado, professor. E-mail: [email protected])

Leia também:

  

edição
do dia

Capa do dia

últimas
notícias

+ notícias