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OPINIÃO

Jornalismo e jornalistas. Paixão e inspiração

João Moreno, Especial para Diário da Manhã

Dedicado a Pablo Kossa

E vivia em trevas. Trevas da ignorância. Da alienação. Rendido. Como um Winston que lutara. Lutara. Mas no fim percebendo quão vã era a batalha, abdicara-se. Abdicara-se da vontade de pensar. Argumentar. Discutir. Não via além. Via apenas preto. Branco. Via mais preto. Não percebia que poderia existir cinza. Esquecera a palavra dualidade, hoje preferida. Desistira de sua eloquência. Na época apenas uma expressão sem significado. (E então) Um lampejo. Uma busca nas paredes esquecidas da memória. Um acordar para a realidade. O som de uma voz e a lembranças de como o questionamento lhe caía bem, como uma luva. Voltara a pensar. Rebelara-se. Contra o sistema. Mundo. Pessoas. Não uma rebeldia sem causa. (Re)Aprendera sobre a amplitude de sua “voz”. Hoje fraca. Antigamente inexistente. (Re)conquistara o amor. Amor pelas palavras. Livros. Pela literatura. Pela arte de escrever e se expressar. Decidiu-se por Jornalismo. Anos de dúvidas e incertezas, mas sempre estivera ali. De maneira clara. Óbvia. Porque demorara tanto a perceber?! Na dúvida entre ensinar e formar seres pensantes ou questionar e traduzir fatos para esses mesmos seres (não tão pensantes assim), optara pelo segundo. Assim como Orwell. Márquez. Como Capote ou Palahniuk.

E ele não precisou ir tão longe para se inspirar. Bastou ligar um rádio. Ouvir uma voz. Voz marcante. Que marcara a sua vida. Inúmeras vezes. Inúmeras formas. E o desejo. Ser assim. Seria assim. Será assim. (Ou o máximo em que pudesse se aproximar).

E no primeiro contato. Cruzar de caminhos. Olhar. “...Ele então o vê. Real?! Tão irreal!. Como? Tua inspiração. Exemplo. Motivo da escolha da futura profissão (A melhor. Diga-se de passagem) está ali. Aqui. Na tua frente. Cinco. Talvez menos metros de distância. Vêm a mente então. Imagens. Pensamentos. Sinestésicas sensações. Afinal. São cinco anos de companhia diária. Ouvindo e ouvindo. Ouvindo e sorrindo. Ouvindo e espelhando-se. O desejo da conversa bate. Bate forte. A vontade de falar. Falar apenas um ‘obrigado’. Outro, ‘ainda trabalharemos juntos’.

Tocam uma música. Até quando ficaremos sem fazer nada nos é questionado. Você questiona. Cantando. Gritando. Você grita. Ele vê. Punhos ao ar. Troca de olhar. Sim. Foi real.”

Mais que um conto. O conhecimento da admiração. Mais que palavras estruturadas. Sentimentos inerentes a todas e cada uma delas. A confirmação de estar no caminho certo. Não mais perdido e imcompleto. A certeza de que nascera para isso. Isso. Jornalismo. (Ser) jornalista.

E houve um aperto de mão. Um primeiro “você me inspira”. Um novo “obrigado”.

E na breve despedida. No abraço corrido. Comentário entrecortado. Vem-me à mente uma canção. (Dave) Grohl recita, numa melodia, melodia marcante. Poesia tocante.

Recito também: “Lá vai meu herói. Observe-o enquanto ele vai. Lá se vai meu herói. Ele é (extra)ordinário.”

(João Moreno é escritor)

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