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OPINIÃO

O Brasil e a desigualdade

Benedicto Ismael,Especial para Diário da Manhã

Cada povo deveria ter a oportunidade de construir de tal forma que as condições de vida fossem melhores, o que pressupõe uma população lúcida, empresariado e estadistas sérios e competentes, que visam progredir em paz e com sustentabilidade. No Brasil, tem faltado planejar o fortalecimento do mercado interno por meio da população com mais educação e preparo, e participação na riqueza gerada. Com passado colonialista e sistema escravocrata de trabalho, a tradição tem sido a transferência da maior parte para fora. Assim, a nação não se consolidou, pois o objetivo econômico se estabeleceu fora das fronteiras, gerando uma nação frágil, desigual, sem rumo próprio, com poucas escolas e cidades mal construídas.

Falta um choque de seriedade na administração pública. O Judiciário, que deveria ser a tábua de salvação da população indefesa, está assoberbado em meio a um milhão de processos, pressionado para agilizar as cobranças executivas e sem olhar para o mérito, acaba punindo inocentes vítimas. Faltam responsabilidade e consideração para com a população que precisa ser motivada e conscientizada de que pode sair do lodaçal e evoluir como ser humano. Enquanto perdurar essa nuvem de pessimismo, desânimo, despreparo e atos arbitrários, permaneceremos decaindo, abandonando o Brasil na beira do abismo.

Os fatos reais da nossa história documentam a fragilidade do mercado interno. Há descontrole das finanças em todos os níveis e poderes, desde Brasília até os municípios e estados. Houve gastos extorsivos inúteis e desnecessários como, por exemplo, a construção de estádios, além das jogadas internacionais que transferem dólares e empregos para fora. Há os embates e lutas pelo poder, e o abandono da responsabilidade com o todo. Tudo isso faz do Brasil uma terra de ninguém, onde os espertos vem predar enquanto vamos decaindo.

Mais do que nunca é preciso controlar os gastos, poupar, não se endividar e aplicar as normas de bom senso que foram abandonadas por causa das eleições. O problema da falta de equilíbrio entre o que se recebe e o que gasta, entre o que se importa e exporta, se reflete em tudo, inclusive no elevado nível do desequilíbrio fiscal.

A fragilização geral tem sido provocada pelos estadistas de pouca visão, pela extinção do empresário local com algum interesse no equilíbrio e progresso, sendo que alguns se tornaram importadores aproveitando o dólar barato desde 1994, pela especulação financeira, também tem a interferência das multinacionais que planejam globalmente com foco mais dirigido para o mercado consumidor local.

As finanças se globalizaram, mas ainda não alcançamos um tratamento equalizado entre os povos e nações, ficando uns com mais poder do que outros, produzindo a crescente desigualdade. Muitos países estarão fadados a involuir, tendendo para o aumento da miséria, convulsão social, e desordem. Diante da obstinação de acumular riqueza e poder, é o próprio mercado que poderá vir a ser destruído.

Como em outros países, também estamos sob o impacto do esvaziamento da bolha imobiliária, da guerra cambial, da geopolítica dos mais fortes que impõem o que lhes é mais conveniente, da deslocação da produção para regiões de menores salários, mão de obra mais dócil frente às rígidas rotinas de trabalho, menos restrições ambientais. Faltam objetivos nacionais para o progresso, a paz e a sustentabilidade.

Há muita turbulência no mundo. No Brasil temos muitos problemas essenciais para serem solucionados. É preciso construir um caminho de esperança para sair das trevas dos erros humanos, pois como disse o presidente americano Barack Obama as coisas estão se agravando pelo mundo com o aumento do ódio, agressão e maldade.

(Benedicto Ismael Camargo Dutra é graduado pela Faculdade de Economia e Administração da USP)

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