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OPINIÃO

O fascínio dos leilões

Cleverlan Antônio do Vale ,Especial para Opinião Pública

Desde a antiguidade, entre os fenícios, os navegadores já faziam uma espécie de leilão, vendendo as suas mercadorias a bordo, com os navios atracados no porto. Na Grécia antiga, e posteriormente em Roma, as técnicas do leilão foram aprimoradas, assemelhando-se ao que temos hoje.

Vale lembrar que o leilão adaptava-se às circunstâncias. Na 2ª Guerra, por exemplo, devido à grande recessão, havia o “Leilão ao contrário” ou “Leilão reverso”, no qual o martelo era batido para quem vendia por menos. Essa modalidade foi incorporada ao mercado e é utilizada até hoje.

Na crise do petróleo, nos anos 80, o Irã também vendia petróleo por leilão, antes mesmo de os navios atracarem nos terminais petrolíferos. Na época moderna o leilão implantou-se em diversos países, em quase todas as modalidades de venda.

Na Argentina está o Leilão de bovino mais antigo do mundo. Na Nova Zelândia há o Leilão de carneiros. A Sotheby’s e a Christie’s são as mais antigas no ramo das artes. No Estado de Oklahoma, nos EUA, existem concorridos leilões de veículos de todas as épocas.

O Leilão tomou seu lugar de honra na sociedade por promover o contato direto, as negociações imediatas e a seleção de ofertas com muita versatilidade, abrindo perspectivas para dinamizar os negócios. Hoje, no Público Leilão, tudo pode ser negociado: bens móveis e imóveis, sucatas, materiais inservíveis, equipamentos, máquinas operatrizes, veículos, matérias primas de diversas formas e muitas outras opções.

Independentemente do que está sendo leiloado, o que não mudou ao longo dos anos é o comportamento das pessoas que participam de um leilão. Uma verdadeira batalha é travada e ninguém entra para perder. Nessa relação de compra e venda em que o psicológico fala mais alto, muitos compradores se deixam levar pelo impulso e vão além de seus limites. Por isso, a dica é estabelecer um preço máximo que se quer pagar e não se deixar influenciar pelo lance de outras pessoas.

Curiosamente, os leilões reúnem os mais diversos públicos – pessoas de diferentes classes sociais e culturas. Para estabelecer uma identificação é preciso que os leilões sejam realizados em ambientes onde o maior número de participantes se sinta à vontade. Também a forma de conduzir o leilão, a linguagem, a postura e até mesmo a forma de se vestir do leiloeiro são fatores que fazem a diferença na hora do arremate. Os participantes jamais devem se sentir coibidos. Isso é primordial.

No caso de leilões de gado, os vendedores podem ver seu animal ser valorado ou não atingir a cifra desejada, sendo-lhe facultado o direito de proteger seu animal através do seu próprio lance, sobrepondo como defesa do penúltimo lance.

O papel do leiloeiro é o de obter o maior lance possível do animal, sendo responsável pelos danos causados por seu mau desempenho na condução do processo de venda. Termos e condições especiais podem ser inseridos, mas em geral a propriedade do bem é transferida quando o lance é aceito, antes da entrega ou do pagamento.

Quanto aos sistemas de leilão, existem dois mais comuns, que é o método tradicional com lances sucessivos – os interessados ofertam valores crescentes, sendo o mais alto o lance comprador, que pode ser de quem esta vendendo o animal. Noutro, originário da Holanda, estipula-se o preço máximo e a partir daí um mostrador começa a apontar decréscimos de preço até que alguém oferte o primeiro lance.

O estilo pode ser um aceno, um balanço de cabeça etc. O mais interessante de tudo são os altos gritos das pisteiras, responsáveis por avisar o leiloeiro do valor oferecido e de intermediar a negociação entre um e outro.

Na grande maioria dos leilões não existe o preço mínimo, tendo de ser acatado o lance mais alto. Caso ocorra o lance da defesa do animal, o comprador, mesmo sendo o proprietário, deverá pagar duas taxas de comissão à empresa leiloeira, uma como vendedor e outra como comprador.

A grande vantagem dos leilões é a facilidade de comercialização de um número maior de animais; possibilidade de se ver o que se esta comprando; valorização do animal que se coloca a venda; não existência da dispersão física das propriedades.

A maior desvantagem que deve ser observada é o não conhecimento do que se está comprando. A falta de informação do mercado e a não inspeção dos animais – por isto recomenda-se olhar bem os lotes que lhe interessará. Hoje existem empresas de consultoria que auxiliam na compra, confinamento e venda.

A história dos leilões no Brasil pode ser dividida em duas etapas distintas: na primeira, os leilões foram introduzidos no país pelo Sul, com inspiração e nos moldes dos que ocorriam no Uruguai e, principalmente, na Argentina, baseados na produção inglesa.

As datas históricas são imprecisas, mas para alguns profissionais do setor, esta pratica já era difundida por volta da década de 50, com leilões de venda de gado sem raça pura. Antes disso, no período Colonial, já se ouvia em falar de feiras onde os gados eram comercializados.

Foi no Estado de São Paulo que ocorreu o verdadeiro impulso dos leilões no país, com um conceito e uma visão de negócios mais mercadológicos e profissionais, com foco na comercialização de equinos, quando, em 1975, foram realizados leilões oficiais anuais, abertos a grande número de criadores do Quarto-de-Milha e, posteriormente, o Mangalarga.

Com o grande sucesso, logo se disseminou para as Associações dos criadores de raças de bovinos. Priorizaram-se leilões com menor número de participantes, com os denominados leilões de elite, sendo um evento com muita pomba e estilo.

Um dos eventos marcantes dessa evolução foi o leilão da raça Quarto-de-Milha realizado em 1980 no hotel Msksoud Plaza, em São Paulo, denominado Marcas Famosas. Posteriormente, foram frequentes os leilões em hotéis de luxo, estâncias famosas, casas famosas, churrascarias de luxo, tornando-se um verdadeiro leilão-show.

Goiás já possui forte tradição em leilões de gado, principalmente o de corte. Empresas existentes têm se destacado e investido em novas tecnologias. No Giraboi Leilões, localizado nas imediações do trevo de acesso a Bela Vista de Goiás, podemos ver o perfil de uma empresa bem organizada, com excelente infraestrutura e que disponibiliza moderno site e uso de ferramentas de multimídia: o leilão é transmitido ao vivo, todas as segundas-feiras, a partir das vinte horas, para qualquer tecnologia digital.

Segundo dados da Gerência de Fiscalização animal da Agrodefesa, em 2014, dos 82 leilões ativos no Estado foram comercializados, em 3.038 eventos, um total de 2 milhões, 120 mil, 191 bovinos; 282 bubalinos; 133 ovinos; 71 caprinos e 9mil, 388 equídeos.

Dados apresentados pelo Ministério da Agricultura afirmam que Brasil possui o maior rebanho de equinos na América Latina e o terceiro mundial. Somados aos muares (mulas) e asininos (asnos), são 8 milhões de cabeças, movimentando R$ 7,3 bilhões, somente com a produção de cavalos.

A bovinocultura é um dos principais destaques do agronegócio brasileiro no cenário mundial. O Brasil é dono do segundo maior rebanho efetivo do mundo, com cerca de 200 milhões de cabeças. Além disso, desde 2004 assumiu a liderança nas exportações, com um quinto da carne comercializada internacionalmente e vendas em mais de 180 países.

A pujança de nossa economia está no agronegócio, e grande parte dela passa pelos 82 leilões ativos no Estado de Goiás. Conhecê-los é fascinante!

(Cleverlan Antônio do Vale, graduado em Gestão Pública, Administração de Empresas, pós-graduado em Políticas Públicas e Docência Universitária, doutorando em economia, articulista do DM – [email protected])

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