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OPINIÃO

O fundamentalismo religioso e o atentado ao patrimônio cultural

Marcos Manoel Ferreira ,Especial para Opinião Pública

A barbárie do Estado Islâmico parece mesmo não ter limites. Já não bastasse as atrocidades cometidas contra crianças, mulheres, decapitações como a dos jornalistas japoneses Kenji Goto e Haruna Yukawa, enforcamentos, fuzilamentos coletivos e queimar vivo inocentes como o piloto jordaniano Muath al-Kasaesbeh, agora a insanidade dos radicais, em nome do fundamentalismo islâmico e levantar dinheiro – peças vendidas no mercado negro e para colecionadores particulares - para financiar suas ações insanas, estão atacando e saqueando ruinas de cidades históricas e museus. Ações semelhantes ao dos Talibãs em 2001, quando numa ação que deixou a humanidade estupefata, dinamitaram os Budas de Bamiyan. Segundo o filósofo alemão Nietzsche, “o fanatismo é a única forma de vontade que pode ser incutida nos fracos e nos tímidos”.

A 240 km da cidade de Cabul, capital do Afeganistão, local que contém diversos testemunhos culturais do Reino da Báctria, dos séculos I a XIII, nomeadamente da corrente Gandara da arte budista. Na região havia vários mosteiros budistas e próspero centro para religião, filosofia e arte Budista. Foi um local religioso Budista do século II, até a época da invasão islâmica no século XIX.

As duas estátuas mais proeminentes eram os dois Budas, medindo 55 e 38 metros de altura, os maiores exemplares de Budas em pé esculpidos no mundo. Em março de 2001, por ordem do governo fundamentalista Talibã, foram destruídas as gigantescas estátuas dos Budas de Bamiyan, que haviam sido escavadas em nichos na rocha, por volta do século V. “Do fanatismo à barbárie não há mais que um passo”, afirmou o iluminista Denis Diderot.

Da mesma forma e sob os mesmos argumentos, destruir qualquer resquícios de culturas e religiões que não seja o Islamismo. Tanto o Talibã, como o Estado Islâmico. O Boko Haram jurou fidelidade ao Estado Islâmico, tornando-se as maiores organizações terroristas islâmicas da atualidade. “A educação ocidental ou não-islâmica é um pecado” e busca a imposição da Sharia no norte da Nigéria. Oficialmente o Boko Haram alega que luta pelo combate a corrupção do governo, a falta de pudor das mulheres, a prostituição e outros vícios. Segundo eles, os culpados por esses males são os cristãos, a cultura ocidental e a tentativa de ensinar algo a mulheres e meninas. Ou seja, “a religião é um subproduto do medo. Na maior parte da história humana, ela pode ter sido um mal necessário, mas por que ela foi mais má do que o necessário? Matar pessoas em nome de Deus não é uma boa definição de insanidade?”, afirmou Arthur C. Clarke.

Agora, 2015, militantes da facção Estado Islâmico saquearam e danificaram uma cidade milenar no Iraque. A antiga cidade de Hatra, no noroeste do país. O antigo sítio arqueológico de 2.000 anos, localizado a 110 km a sudoeste de Mossul, patrimônio da Unesco, desde 1987.

Hatra foi uma grande cidade fortificada durante o Império Parta – 247 a.C. – 224 d.C. – e capital do primeiro reino Árabe. Para a Unesco, as ações nesse sítio arqueológico foram um “ato de limpeza cultural que equivale a um crime de guerra”.

A história se repete e vergonhosamente, diante de uma comunidade internacional letárgica e omissa. Parte da riqueza arqueológica e histórica, tombado pela Unesco como Patrimônio Cultural e Histórico da Humanidade, está destruído na região da antiga Mesopotâmia. Os insanos e intolerantes radicais sunitas, invadiram o Museu da Civilização, na cidade de Mossul, ao Norte do atual Iraque – região dominada pelo Estado Islâmico - e saquearam e destruíram esculturas de quase 3.000 anos, artefatos assírios e helenísticos.

O Estado Islâmico, que governa um autoproclamado califado em partes da Síria e do Iraque, promove uma interpretação amplamente purista do islamismo sunita que se inspira nos primórdios da história islâmica. A facção rejeita santuários religiosos de qualquer tipo e classifica a maioria xiita do Iraque de herege. “A estupidez e o fanatismo do homem não os permite perceber que Deus não tem religião”, Ary Souza.

(Marcos Manoel Ferreira, pedagogo, historiador, professor e escritor. [email protected])

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