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OPINIÃO

A importância da Fisioterapia no controle da hanseníase

A organização dos sistemas de saúde influi diretamente sobre o perfil de adoecimento e morte da população e sua qualidade de vida.

Nos últimos 20 anos houve uma mudança no conceito de Saúde. Anteriormente as ações de saúde eram voltadas para evitar as complicações de problemas já existentes. Atualmente buscamos evitar a instalação de qualquer problema.

A Hanseníase (antiga Lepra) ainda não é vista como uma doença comum, mesmo com o sucesso do tratamento da PQT(Poli quimioterapia). Os índices no Brasil ainda estão elevados e cerca de 23,3% dos casos novos de hanseníase diagnosticados anualmente, já apresentam graus de incapacidade I e II, ou seja, as sequelas que tanto estigmatizam e incapacitam pessoas de todas as idades.

O momento atual representa uma oportunidade singular para implementar atividades específicas de prevenção de incapacidades(PI), decorrente da implementação bem sucedida da multidroga ou poliquimioterapia (MDT / PQT), e não pode ser dissociadada PI: PQT e PI são parte integrante das ações de controle. Então o tratamento de uma pessoa que está com hanseníase, não pode ser resumido numa simples caça ao bacilo de Hansen: isso será apenas uma dedetização!

O SUS tem um grande desafio em relação à hanseníase: aumentar ao máximo a capacidade da rede para diagnosticar, tratar a doença e os quadros reacionais em tempo de evitar sequelas graves, e consequente aumento crescente de gastos na média e alta complexidade.

É imprescindível aumentar o quantitativo de profissionais e incluir os fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais para realizarem a PI, cuja abordagem é escassa em nosso país, porém muito necessária. Estes profissionais têm os recursos que podem auxiliarna PI,no processo de reparo das úlceras (que se mostram como a principal morbidade desta patologia), alívio da dor e melhora ou recuperação da função motora. Historicamente, esses profissionais são vistos como um assistente somente para o nível de atenção terciário, centralizado nas áreas curativas e reabilitadoras.

Nos dias 15,16 e 17 de abril, em Foz do Iguaçu, foram realizados o XXXI Congresso Estadual Cosems-PR e o I Congresso Regional de Secretarias Municipais de Saúde Centro-Oeste, Sudeste e Sul, onde foi citada a orientação da Organização Mundial de Saúde (OMS), a qual recomenda um fisioterapeuta para cada 1000 habitantes. “Com isso os municípios podem reduzir custos de internação, reabilitação, medicação e, consequentemente, promover ações de saúde preventiva e de qualidade de vida. O Brasil precisa, urgentemente, mudar o paradigma da Saúde, salientando a importância da adoção de um caráter multi e interprofissional, ao contrário do modelo atual, que visa apenas à ampliação de uma categoria.”

Os retornos são lentos, mas se não houver políticas setoriais e intersetoriais, eles não acontecerão e a riqueza dos programas do Ministério da Saúde ficarão no papel.

“A hanseníase tem cura!!! Esta é uma das mais importantes e espetaculares manchetes do século XX. É uma pena que tão poucas pessoas saibam disso. Inclusive a grande maioria dos doentes, porque nem sabem que estão doentes.” (frase do texto apresentado no Congresso Internacional de Hanseníase em 1993, na Flórida, EUA, por um ex-paciente:Francisco Augusto Vieira Nunes – o Bacurau).

(Glenia Feitosa dos Santos Barbosa é fisioterapeuta, graduada em 1991 pela Unifor – Universidade de Fortaleza e especialista em Saúde Pública, através da Unaerp – Universidade de Ribeirão Preto)

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