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A propaganda política do PSDB: “nunca antes na história deste país”

Ontem foi ao ar a propaganda política do PSDB – Partido da Social Democracia Brasileira. Mais um capítulo da recente história de embates entre o partido e seu principal opositor o PT – Partido dos Trabalhadores. Tem sido constante a crítica à propaganda governamental e petista, pois há uma enorme distância entre o que é apresentado, em filmes, imagens e discursos bem construídos, e a realidade do país. Por conta disso, havia grande expectativa na propaganda do PSDB.

Carlos Sampaio e Cassio Cunha Lima, líderes do partido na Câmara e no Senado, respectivamente, deixaram o seu recado, tecendo críticas ao governo. Obviamente, coube a Aécio Neves e Fernando Henrique Cardoso - FHC - o principal a ser dito. FHC foi o tucano que mais bicadas distribuiu. Bicadas cirúrgicas objetivando o ex-presidente Lula. FHC usou de sua bem conhecida ironia ao fazer a afirmação mais forte do programa: “nunca antes na história deste país” se errou tanto e roubou tanto em nome de uma causa. Mais ainda: FHC afirmou, peremptoriamente, que a principal responsabilidade do quadro de crise em voga é de Lula. FHC não poupou Dilma, mas o alvo foi Lula.

Não nos esqueçamos de que FHC conviveu – convive, bem menos hoje, é certo – com a expressão “herança maldita”, com o qual Lula e o petismo buscaram caracterizar a gestão de Cardoso. Essa expressão servia para criticar o antecessor e jogar em sua conta os problemas e as mazelas do país. As grandes realizações, os acertos, estes, sim, foram obra de Lula e, ainda, de forma inédita: “nunca antes na história deste país”. Quem conhece um pouco da personalidade de FHC sabe que, provavelmente, esta ironia em relação a Lula estava engasgada há tempos e tinha o momento certo para ser feita. E o porquê de ter sido mais brando com Dilma? Tenho, aqui, na memória, uma possível explicação: Dilma, já Presidente, enviou a FHC, na ocasião das comemorações de seus 80 anos de vida, uma carta, elogiando o “acadêmico inovador”, “político habilidoso” e reconhecendo que o controle a inflação e a estabilidade econômica são marcas positivas de seu governo. Tal fato sensibilizou FHC. Lula nunca, jamais, foi capaz de reconhecer algum mérito nos anos FHC. Infelizmente, os elementos do jogo político fez Dilma, pouco depois, assumir a retórica do lulopetismo, trazendo à baila, novamente, a tese da “herança maldita”. Quanto a Aécio, este foi mais comedido nas críticas, mas afirmou que o governo propõe um ajuste e que ele o chama de “injusto”, visto que a conta será paga pelos brasileiros e bem menos pelo governo. Busca se manter em evidência, dado ao enorme capital político que angariou após o segundo turno, em 2014.

No geral, o programa trouxe trechos com as falas da então candidata Dilma e, agora, os resultados de seu governo: corte de direitos trabalhistas, aumento das contas de energia, juros, inflação, etc. Esteticamente, apresentou panelas sendo batidas e depoimentos de pessoas indignadas com a atual situação. Claro, também sob a égide do marketing político. Um grupo alegre no restaurante pede a conta e esta vem com gastos que não são deles, mas sim, do governo: o governo erra e você paga a conta, isso não é justo. Eis mais um dos recados. Uma das imagens fortes é de uma família se apertando para dividir o espaço embaixo de um guarda-chuva e de repente, uma mão vem e retira a proteção, deixando a família na chuva. Aqui, vale lembrar, está uma resposta a um filme de propaganda na qual o PT afirmava que não se devia voltar ao passado, contrapondo imagens de um presente em cores, alegre, com trabalho e renda com um passado em preto e branco, sombrio, melancólico e de graves problemas sociais (novamente, a tal da “herança maldita”).

A propaganda, no limite, teve o mérito de fazer a crítica que se espera de um partido de oposição. Foi bem construída esteticamente e trouxe a fala de figuras importantes do partido. Aguardemos para ver se o PSDB conseguirá ultrapassar o marketing, a propaganda, e chegar a construir uma proposta real e alternativa ao atual governo. Lula, ao que tudo indica, já parece articular sua volta para 2018. Em 2005, quando do auge o mensalão, ele teve inteligência e habilidade suficiente para se descolar do partido e foi reeleito. Até o momento ele, Lula e o PMDB, têm sido, em muitos casos, melhor oposição à Dilma que o próprio PSDB.

*Rodrigo Augusto Prando, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie,  licenciado e bacharel em Ciências Sociais, mestre e doutor em Sociologia, pela Unesp, Araraquara.

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