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OPINIÃO

A volta:o eterno retorno e o futuro

Nas ondas do eterno ir e vir segue a vida. O que existe entre a rotina e a sobrevivência? O que podemos fazer para lidar com as coisas triviais de nosso cotidiano? Nos rituais da atualidade demarca nos a tradição constituída pelo mercado de consumo: o jeito e produto certo para lavar o cabelo; a marca e forma de ensaboar as mãos; o manual de etiqueta para fazer o café da manhã; o ideal de esterilização no lavar a louça... da higiene pessoal à limpeza doméstica, no trabalho, lazer, nos estudos, na religião, vida familiar, no sexo... um jeito que se repete, nossos hábitos, costumes e tradições. Quem é você de verdade?

Hoje um dos pontos de crise do ser humano, invariavelmente enquadrado como “patológico”, está na ruptura dos padrões de convencionalidade. Foi prescrito pela era moderna que todos devem ser “normais”. O mercado de consumo e as regras de convívio social delimitaram os preceitos desta normalidade a partir de várias convenções sociais formatadas por leis e regras de conduta. Os anormais como os descritos por Foucault seriam os apartados da sociedade.

Você pode ser preso ou ser considerado louco por ousar ser diferente?

Mas para além dos discursos e conceitos a crise instalada na pós-modernidade aqui tem seu cerne. Em especial quando a crise do desejo, nossa criatividade nos impõe a curiosidade de viver e fazer as coisas de forma diferente. Pode?

Em consultório hoje em dia em vários momentos posso observar as pessoas em crise, seja no âmbito profissional ou afetivo por vivenciarem a rotina, com a perda de sentido de vida em sua existência. A individuação massificada? Quem hoje em dia pode assumir com legitimidade sua identidade, gosto pessoal sem ofender os ditames de mercado? Qual o espaço para um desejo real na vida, com a existência da propaganda, televisão, redes sociais, marketing? E na dissolução dos valores de nosso tempo, com a falência das ideologias, com o estado cínico de Zizek funcionando a pleno vapor; a dúvida de quem era aumenta e com ela toda ansiedade, decepção, com a vontade de fugir, de alugar outra identidade para não ter de lembrar quem eu sou. Esta é a queixa proposta pela rotina dos dias atuais. E nisto obviamente acentua a crise a proporção que as pessoas e a sociedade rompem com a criatividade seja ela na expressão pessoal, na religiosidade, na alimentação, nas formas prescritas de viver e se expressar. Para sobreviver bem nestas bandas é bom não raciocinar, não questionar e fazer tudo igualzinho, do mesmo jeito sem graça de sempre. Até para reclamar existe roteiro politicamente correto.

O atual castigo de Sísifo é a ilusão de ser diferente repetindo a inquietação e angústia, a mesma coisa. Tentando achar um canto, resgatar a própria identidade, repensando as questões da vida. A pedra rolada ao alto é a constância no embate entre poder ser e a coragem do persistir, hoje finada. E agora? O que você tem feito de sua criatividade?

(Jorge Antônio Monteiro de Lima, analista, pesquisador em saúde mental, psicólogo  clínico músico, MSC em antropologia social)

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