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OPINIÃO

Avanços e desafios da Medicina

Eu costumo falar para muitos amigos e pacientes que a Medicina hoje encontra-se num estágio de desenvolvimento que dá para escolher por exemplo do que se quer morrer. Ou ficaria melhor a afirmação do que não se quer morrer. Se passar desta para a outra já não é agradável, tem umas formas muito mais sofríveis. Os avanços conquistados nas Ciências de saúde nos últimos 50 anos é muito maior do que os conhecimentos  nos dois  mil anos anteriores. Não é pouca coisa. Vamos pontuar aqui alguns exemplos. A tuberculose pulmonar há 60 anos atrás tinha a mesma mortalidade da aids de hoje. Os primeiros antibióticos eficazes  contra o bacilo de Koch (tuberculose) surgiram em fins de 1940/50. As doenças virais como varíola e sarampo dizimavam milhões de pessoas porque não havia vacinas. A varíola hoje nem existe mais, foi extinta. A poliomielite (paralisia infantil) em breve deverá ser abolida  da terra graças à eficácia das campanhas vacinais. As vacinas e os soros de imunização são uma das grandes conquistas da Medicina.

É evidente que a Medicina ainda enfrenta muitos desafios com os quais vem estabelecendo um combate inelutável. Como exemplos a aids, a malária em regiões endêmicas como a Amazônia e no continente africano e a dengue que vem assolando o País inteiro.

A malária . Trata-se de um doença conhecida de milênios . Ela mostra-se explicável  a dificuldade em sua eliminação porque há  em sua gênese e perpetuação um mosquito vetor e transmissor, o anófele, que procria em águas de clima tropical. Caso por exemplo do norte do Brasil e África.

No que concerne à dengue, eu já disse em outro artigo e repito que ela é fruto da precariedade ou falta de higiene das pessoas. Seja aqui no Brasil ou alhures. Ela resulta maciçamente  de falta de higiene pessoal e privada (particular). Bastaria que cada pessoa, cada família, cada empresa privada ou pública dessem uma destinação correta aos lixos produzidos e não haveria criadouros do mosquito Aedes aegypti. Não tendo o vetor e  doentes para contaminá-lo ter-se-ia a extinção da doença, que vem molestando, tumultuando os já precários hospitais e postos de saúde  do SUS e matando centenas de pessoas. Trata-se de uma calamidade pública , mas com muita culpa  de gente sujismunda e porca com o lixo que se produz. Eu nunca vi falar de dengue na Suécia ou Cingapura. Lá não se joga um palito ou bituca de cigarro na rua. Aqui se joga tudo em vias públicas, até vergonha e honradez são jogadas fora. As pessoas perdem-nas e não acham mais. Que triste!

Se tem outra doença 100% evitável com método simples e eficaz, a camisinha-de-vênus se chama aids. Além de grátis pelo SUS, quando custa muito, não passa de R$ 1,00 o preço de um bom preservativo. A contaminação pelo HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis (DST) é hoje mais uma daquelas idiotices que acomete o gênero humano. Numa transa ou relação sexual, na dúvida sobre o estado sorológico do parceiro(a), é inconcebível que o indivíduo não use preservativo. Se o sujeito não conhece (laboratorialmente) o estado clínico do(a) parceiro(a) como se expõe a essa atitude de falta de higiene de um sexo de alto risco? Tal prática se mostra inconcebível para nós humanos que somos racionais e inteligentes .

É oportuno lembrar que nessa tragédia da pandemia do HIV e aids está subjacente outra tragédia de igual monta e impacto na saúde global, o consumo crescente das drogas lícitas e ilícitas. Entre as drogas lícitas temos desde as bebidas alcoólicas até aquelas compradas com receita médica ou no mercado clandestino. É o caso dos já populares Lexotan, Rivotril, Citalopram, Sertralina, Sibutramina e outros tantos vendidos por aí . São substâncias de uso generalizado, sem critérios médicos no seu emprego e que se adquirem facilmente com a prescrição conivente de um médico bonzinho e amigo, ou nem precisa dessa ajudazinha porque se acha em muitas farmácias que vendem sem receita, ou mesmo se compra pela internet ou no camelódromo de cada esquina. Um deboche e escárnio das policias e das autoridades sanitárias. Mas , com as leis complacentes que temos não se poderia esperar outra coisa. Somos campeões em automedicação e consumo de remédios sem receita médica.

Portanto, esse tem sido o principal mecanismo ou fórmula de perpetuação de tantas trágicas epidemias;  de muitas doenças contagiosas facilmente preveníveis. No rol dessas evitáveis doenças que causam milhares de morte no mundo inteiro temos as hepatites virais, a aids, o câncer de colo de útero pelo HPV e muitas outras bem conhecidas pela Medicina. Todas contraídas por falta de higiene e atitudes simples de biossegurança como sexo seguro, uso de água e sabão na lavagem de alimentos e mãos , preservativos etc.

No âmbito das doenças degenerativas e oncológicas (câncer) temos vários exemplos bem conhecidos e estudados pela Medicina para as quais o melhor remédio está na sua prevenção. Para fecho desta resenha vamos pinçar alguns tipos bem sabidos até pelas pessoas comuns e leigas em Medicina (basta perguntar ao dr Google).

O câncer de pulmão em 95% dos casos tem como causa o tabagismo, seja ele ativo ou passivo. A nicotina é a principal causa de tumores de boca, vias aéreas superiores e sistema gênitourinário. O álcool é a principal causa de cirrose hepática, doença esta  mais maligna do que muitos tipos de câncer. Na área cardiovascular, as principais causas de infarto e derrames cerebrais são o fumo, a hipertensão arterial, o colesterol alto e o diabetes.

E por fim, cada vez mais existe uma clara associação entre ingestão excessiva de alimentos e sedentarismo com doenças metabólicas e degenerativas de alto impacto na qualidade e expectativa de vida das pessoas. Existe um clichê popular, mas não menos verdadeiro que diz; comida tanto engorda quanto mata. Ou este outro: o peixe morre pela boca. Eu acrescento:  nós temos um cérebro muito  evoluído e morremos pela boca tanto quanto os peixes. Para isso as boas e apetitosas iscas estão sempre ali, nas gôndolas dos supermercados para nos fisgar como as carnes vermelhas contaminadas de hormônios e nitrosaminas (cancerígenas), os queijos gordurosos, as massas, os doces, os refrigerantes, as cervejas, os frangos criados com anabolizantes etc.

Portanto, fica aqui esta sentença como conselho: a chamada Medicina baseada em evidências (científicas) tem plenas condições de mostrar a cada pessoa as chances ou riscos do que ela pode morrer ou deixar de fazê-lo se adotar as medidas profiláticas; medidas esta que são  simples e baratas ao alcance de todos. Por falar nisso eu vou continuar fazendo minhas caminhadas diárias e comendo o suficiente para viver. De preferência viver  bem e com saúde.

(João Joaquim, médico, articulista do DM. [email protected])

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