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OPINIÃO

Cântico a Goiânia e ao mês de maio

Maio, noite de sexta-feira, transformo a minúscula sacada do meu apartamento no maior observatório astronômico do mundo. A escura abóbada celeste, neste dia sem lua ressalta a beleza ímpar das estrelas, que mais parecem diamantes lapidados ou um enorme jardim de margaridas fluorescentes. Do meu ponto estratégico, começo a perscrutar aquela beleza infinita. Lembro-me das estórias e histórias, lendas e mistérios que envolviam dois mundos tão distantes: minha infância e o universo.

Divago na simetria perfeita das constelações Orion (onde encontram-se as Três Marias) Cruzeiro do Sul, Ursa Maior, Ursa Menor, Hidra, Ganopus, Eridamus, Lepus, Rigel, Capella e outras. Admiro o Caminho de São Tiago entre bilhões de estrelas e começo a contá-las, mas lembro-me que poderia nascer verrugas em minhas mãos. Paro. Aprecio estrelas cadentes e trato de fazer três pedidos urgentes.

Lindos planetas, Marte, Júpiter, Vênus e outros que lembram tochas servindo de balizas demarcando os limites do sideral.

E nessa viagem astral, descubro que a cronologia do tempo não se conta em anos, meses, dias, horas, minutos ou segundos. O tempo ali é estabelecido pelos sentimentos e emoções, por isso mesmo como num passe de mágica, percebo que as estrelas ou as margaridas, como queiram, vão desaparecendo, se apagando, ou se escondendo para voltarem no dia seguinte, dando lugar ao brilho único da estrela matutina que anuncia a inexorabilidade da chegada do amanhecer.

Desruborizando a aurora e transformando o firmamento num azul infinito e puro, o astro rei vem surgindo, trazendo consigo os segredos do outro lado do planeta e derramando sua luz feérica e criadora sobre os homens e a terra.

É a manhã de um sábado do mês de maio que desperta nossa bela Goiânia. Como é bom acordar bem cedo e vagar por suas ruas, ver e sentir o seu despertar numa manhã morna de outono, como morno é o colo de uma mãe! Como mornos são os leitos que ainda não acordaram e resguardam os sonhos e amores do amanhecer, como se o dia de ontem não houvesse acontecido e se acontecido, não houvesse acabado. Cidade capital ainda relativamente jovem, às vezes ainda preguiçosa para acordar.

Navego à vontade por tuas largas avenidas, onde vejo esse povo bom e amigo andando de cabeça erguida, acreditando no futuro e refrescando-se na brisa da manhã que chega inebriada e soprada pelos ventos nascidos no planalto central. De bicicleta, carro ou a pé, todos saúdam-na como a uma jovem mulher.

Passo por uma feira popular e vejo que ali todos são afeitos ao trabalho e são muito iguais. Goiânia que há 47 anos me recebia, um jovem, a exemplo de tantos outros vindos do interior, cheios de sonhos e ideais. Goiânia, foi, é e será sempre a concretização de planos e projetos para muitos sonhadores (e como sonhar vale a pena !).

Quando criança, aprendi ouvindo, vendo e vivendo que o mês de Maio, é o mais belo inserido nesse calendário numérico, onde matematicamente conta-se o tempo, embora no calendário de minha alma, onde guardo as recordações de minha infância, os números tenham pouco valor, por isso o fiz preferido entre os doze. E para se chegar a essa constatação basta observar o ciclo mágico deste belo mês: As flores explodindo em quase todas as plantas, colorindo e perfumando o mundo em cada canto. Seria porque se trata do mês das flores, da abolição, ou dos amores? Mês das mães, mês de Maria?

Ah, se todas as mulheres se chamassem Maria, os homens José e todas as cidades fossem como Goiânia e todos os meses fossem assim! Certamente nada se complicaria tanto e o tempo seria um eterno mês de Maio.

(José Cândido Póvoa, poeta,

 cronista, advogado. ([email protected]))

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