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OPINIÃO

Demolidores de Estados

Há uma guerra sendo travada no País. Para além dos nossos desafios diários, individuais ou coletivos, na política brasileira ocorre um fenômeno semelhante ao que vemos na internet. Nas redes sociais, grupos radicais eriçam suas bandeiras e defendem seus protegidos a qualquer custo, principalmente pelo sacrifício da verdade.

Neste cenário, o embate PSDB e PT ganha ares de arena romana, num enfrentamento pouco ético e repleto de movimentos cruéis e golpes baixos. Na política não há mocinhos ou detentores da razão ou da ética. Mas o que temos visto é o terror da dialética e o sacrifício das ideologias em nome do Poder.

Em uma realidade de discursos radicalizados e extremistas, defender o PT é uma tarefa para poucos, assim como é quase impossível presenciar a um debate sensato na qual se encontre o reconhecimento dos avanços do Brasil em contraposição aos desmandos dos escândalos recentes. Relativizar estas duas pontas é um erro ético, como se os fins justificassem os meios. Mas apagar no que o Brasil se transformou é retraduzir a história de forma incoerente e leviana.

É nesta seara que entra um trabalho sujo operado pelo PSDB de forma institucional. A legenda que já representou a evolução do discurso político nacional ao dar um passo à frente do que o MDB, depois PMDB, foi no processo de combate à ditadura e no processo de redemocratização, o partido dos tucanos tem se apequenado num embate mesquinho de desconstrução do PT. E fazer isto é esquecer a própria trajetória. É optar por não se construir para demolir o outro.

Primeiro, a cúpula nacional, até hoje representada por um cansado e pouco popular Fernando Henrique Cardoso, instaura uma política de discursos sistematizados contra o ex-presidente Lula. É a verdadeira Batalha das Bengalas, na qual FHC e Lula se digladiam. A razão para se atacar um político sem mandato é inexplicável, exceto pelo temor real de que, após Dilma, Lula siga dando sequência ao projeto que ele mesmo criou. Para o PSDB, ataca Lula três anos antes da eleição é anunciar o medo eminente de mais uma derrota. O PSDB já absorveu o golpe antes mesmo dele ser desferido.

Com isto, a legenda se ausente do verdadeiro debate: o de explicar à sociedade brasileira o que seus representantes têm feito em seus Estados. Esbravejam contra o PT e Lula no intuito de ensurdecer o eleitor brasileiro para que ele não ouça o silêncio da falta de explicações.

Em Goiás, Marconi Perillo está liquidando o Estado: quer vender a Celg e transformar Goiás em um Estado Mínimo, importando um questionável conceito de OS para a Saúde e para a Educação. Em breve, se deixarem que conclua suas ações, Perillo irá entregar o Estado à iniciativa privada.

Além disto, parcela salários porque o dinheiro acabou. Há 16 anos no poder, Perillo sequer pode por a culpa em anteces- sores. E sequer se dá ao trabalho de explicar o porquê do Estado ter chegado a este patamar de crise, inchaço e falta de gestão. A solução por ele encontrada é o loteamento das opiniões da imprensa e a divulgação de dados estatísticos feitos por empresas contratadas, como a do Movimento Brasil Competitivo, do todo-poderoso Jorge Gerdau.

Em São Paulo, Alckmin transforma a cidade em um deserto sequíssimo infestado pela dengue e pela ausência de gestão e ainda consegue culpar o governo federal pelos desmandos. O PSDB está há 20 anos no poder e ainda assim o paulista crê na propaganda tucana de que a culpa pertence aos outros.

No Paraná, o caos administrativo, político, de imagem e a violência estatal campeando as ruas e avenidas em cenas lamentáveis. Professores que saem às ruas para defender o assalto às suas aposentadorias, sob a medida de alterações na Previdência, são recebidos à bala e pauladas pela polícia do Estado. Beto Richa, enquanto isto, tenta apagar incêndios de revelações de indícios de corrupção em sua campanha e atos nada republicanos.

Ao atacar o PT – dizendo verdades e mentira, bem entendido –, o PSDB na verdade esconder a sua autêntica vertente: a de ser um partido de demolidores de Estados. Em todos os governos do PSDB há uma crise combatida com tiro, porrada e bomba e muita, mas muita propaganda.

Assim, também, esconde a sua ausência de lideranças e prefere se manter no ar condicionado, falando mal do Brasil e do governo ao vivo, direto de Nova Iorque. No entanto, a legenda sequer tem um discurso popular, que entre em sintonia com a população maciça, ou alguém que consiga abrir um diálogo além dos nichos sociais. O povão está descrente e longe do tucanato. Imagine qual político que hoje poderia fazer críticas a Lula ou ao PT num palanque instalado no meio de uma praça de comunidades como Paraisópolis, Heliópolis ou na Rocinha.

O grito do PSDB para que todos vejam a lama do Partido dos Trabalhadores é uma tentativa de esconder a sua própria sujeira localizada nos Estados e, ainda, um movimento ofensivo e agressivo para esconder suas deficiências como uma legenda que não conseguiu se renovar desde FHC, mantendo as mesmas práticas, discursos e o pior: um distanciamento progressivo da verdadeira sociedade brasileira.

(Ernane de Paula é ex-prefeito de Anápolis)

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