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OPINIÃO

Trabalho morto x capital vivo – III

Antônio Lopes,Especial para Diário da Manhã

O neoliberalismo, combustível da globalização, traz a máxima de que o futuro é imprevisível e, se é viável, depende daquilo que o cidadão dispõe, hoje e no agora.

À ruptura entre trabalho e proteção chamamos de remercantilização do trabalho. A este mercado ‘autorregulado’, segundo Polanyi: “Credita-se a ausência do Estado, a falta de coesão social, a sociedade salarial fragilizada e fragmentada pela terceirização, categoria não organizada tampouco assistida em seus direitos, os mesmos ‘bens jurídicos’ conquistados nos ‘30 anos de Ouro’ (1945/1975) das conquistas trabalhistas, recorte histórico de uma sociedade industrial capitalista, emergente, de exploração cumulativa e hegemônica.”

No início dos anos 1980, ocorre a tentativa de controle deste processo desagregador da sociedade salarial, a busca de soluções para o desemprego na necessidade do capital em reinserir o trabalhador no meio de produção, tirando o cidadão da margem excludente e marginalizada (delimitada entre 10% a 15% de desempregados) que caracteriza uma “sociedade doente”, segundo Cartel. E necessário, além do suporte salarial, o apoio estruturado na proteção jurídica das políticas sociais destinadas à Assistência e Previdência do indivíduo enquanto ser social e de direitos.

Surge então o Terceiro Setor, economia solidária, parte da sociedade produtiva que vai desenvolver suas atividades a partir da sua ‘marginalidade’ em relação ao setor mercantil e fora da competitividade capitalista, aguçada pela globalização e mundialização da economia modernizada do século XX para o Planeta pós-moderno do século XXI, ou a Era Eletrônica. Novas fontes de emprego e também atividades emergentes, – necessidades às quais o mercado regulado não corresponde, – dão parto ao mercado paralelo de trabalho sem direitos nem garantias, compromisso, identificação ideológica ou técnica.

Esta degeneração do modo de produção faz surgir a ideia de que as formas de trabalho regulamentado estão ultrapassadas. As transformações tecnológicas, informatização das indústrias e sua consequente robotização reduzem o tempo de trabalho social útil. A jornada de trabalho diminui com o passar do tempo e a mecanização do processo produtivo traz consigo as novas doenças dos trabalhadores alienados a cargas horárias incompatíveis com sua saúde mental e relações sociais no campo ou ambiente de trabalho.

O proletariado, antes imerso na produção industrial, passa a perceber que fazer uso das horas vagas na tentativa de se especializar, vai dar a ele um ‘feedback’ muito maior, tornando-o independente e capaz de assegurar-lhe então o salário bonificado com alguma dignidade. Este processo desmonta a classe trabalhadora enquanto parte integrante da luta entre mão-de-obra x capital. Nenhuma sociedade é formada para sempre, podendo durar sim, mas com transformações culturais e econômicas dos seus modos de produção, enfim, mudar toda a organização social que existe em volta da categoria a qual define o modo de ser do trabalhador e ainda do conceito, que delimita ideia de como usar da ferramenta ao invés de se tornar uma delas.

Na construção da sociedade estamos sempre inventando novas identidades sociais através do trabalho. O direito ao trabalho regula e insere o cidadão. Dentro da sociedade salarial, emprego e desemprego, especialização ou exclusão da mão-de-obra fazem a diferença que vai permitir ou não a sociedade reconhecer este indivíduo trabalhador como parte integrante dos modos de produção no sistema capitalista moderno.

E o pulso... ainda pulsa!

(Antônio Lopes, assistente social, mestrando em Serviço Social/PUC-GO)

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