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As devidas posições de gente e bicho no quadro valor do lugar

A importância dos animais domésticos e selvagens, sem dúvida é indiscutível. São incontáveis os serviços prestados por cães, cavalos e outros bichos, melhorando a qualidade de vida do ser humano, tanto no aspecto econômico/produtivo, quanto no aspecto emocional, sendo que em várias situações contribuem, inclusive nos tratamentos da saúde do homem. Entretanto, apesar das infinitas qualidades, dentre as quais podemos destacar a incrível fidelidade canina, não são humanos e, conforme vários pensadores, eles, devem ser bem tratados sim, mas, como bichos, porque são bichos. Mesmo sendo defensor dos animais, não concordo com os excessos, nos quais, anualmente muitos bilhões são gastos com animais de estimação, às vezes sacrificando a própria vida e de familiares. Não é raro encontrarmos pessoas que não querem gastar com despesas médicas e remédios para alguém da casa, porém, são capazes de grandes sacrifícios para custear as despesas com veterinários e todos os gastos objetivando o bem estar do bichinho querido. Nada contra a adoção e cumprimento do dever de cuidar bem dos animais, o que preocupa é o abandono aos idosos em asilos ou nas ruas; é a falta de assistência aos mais necessitados e às crianças, que são nossos meninos e meninas de rua, cujas vidas pequenas estão definhando nas esquinas, mesmo com a existência daqueles bilhões, que poderiam resgatar milhões desses pequeninos seres humanos da fome e desamparo.

Pensando bem, se dispensássemos uma pequena parte daqueles bilhões para cuidar das crianças, poderíamos recuperar mais vidas humanas que, por falta de uma dieta básica (perfeitamente tangível com essa quantia), estão fadadas a uma existência lesada, uma vez que já na sua primeira infância lhes falta o suprimento nutricional necessário para um desenvolvimento adequado. Considerando que o menino de hoje pode vir a ser o marginal de amanhã, tão somente porque tivemos a capacidade de gastar bilhões com cachorros e gatos, desprezando nossas crianças, seremos obrigados a engolir a seco esse futuro, provavelmente bastante amargo. Certa vez um compositor escreveu: “Dê guarita pro cachorro, mas também dê pro menino / Se não um dia desse você vai amanhecer latindo.” A verdade é que problemas são solucionados com políticas próprias e dinheiro. Quem tem bicho precisa cuidar direito e dar conforto, é claro que tem gastos com veterinário, ração de boa qualidade, brinquedos para entretê-lo, arranjar um lugar decente para ele dormir. Isso é obrigatório se a pessoa escolheu ter o bicho, mas, sem exagero com roupas, jóias, psicólogos e hotéis caninos, pelo menos uma parte dessa grana poderia ser utilizada para o auxílio de humanos. No meu ponto de vista, respeitando os demais, cachorro tem que ser tratado como cachorro, para eles não importa a marca do shampoo, da roupinha (será que precisam delas?), da ração e não se importam com joias. Animais selvagens e domésticos são criaturas maravilhosas de Deus, cuidar e protegê-los é uma coisa, mas, transformá-los em símbolos da futilidade humana é outra bem diferente e totalmente dispensável. Atualmente, muitos casais preferem ter dois, um ou nenhum filho, muitos, não os tendo, adotam um cachorro e transferem para ele toda a atenção que dispensariam aos filhos, criando-os como tais. Só quem tem filho sabe... não tem comparação.

Vídeos e notícias de resgates de animais, de boas relações entre humanos e animais emocionam, são bonitos e engraçados os que mostram o carinho e confiança especialmente de crianças pequenas e seus animaizinhos. Contudo, no quadro valor do lugar, o ser humano ocupa uma posição diferente dos bichos e precisa da devida atenção. É preciso que haja respeito e a valorização de ambos, sem superestimar os animais e depreciar a vida humana. Apesar de algumas frustrações com os humanos diante do egoísmo e da maldade humana e de muitas pessoas gostarem mais de animais não humanos que de humanos, não podemos generalizar. Podemos cuidar bem dos animais, entender a nós mesmos e desenvolver a capacidade de estar bem entre os humanos.

(Natal Alves França Pereira, servidor público, graduado em Ciências Contábeis, filiado à Associação Goiana de Imprensa)

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