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OPINIÃO

Deus, a maior ideia

Na intimidade da individualidade que sou sempre mergulho na imensidão do desconhecido universo. Nessa ida, encontro com uma realidade extraordinária que vai muito além do grosseiro que me cobre. O que vejo o olhar opaco de alma devedora impede de descrever em signos literários comuns aos homens. Apenas focalizo por segundos, mas sei que é real e transcende ao meu rudimentar conhecimento. Fica então na dimensão mental dessa velha alma, a imagem consciente do tempo desconhecido pela maioria dos imperfeitos, em tom multicor e como canção doce ninando criança adormecida no presente finito.

Nessa dança mental, navego solitariamente em busca de respostas que preenchem o vazio do ser temporal, que um dia, esquecendo mazelas e virtudes já vivenciadas pelo velho espírito caminhante, aventurou nas linhas das Leis superiores, renascendo novo, para envelhecer constantemente na cata do verdadeiro valor e de quando em quando, fechando os olhos com medo do tempo atual e do tempo que virá. Num mundo ainda disforme do entendimento, tento justificar fugindo pra dentro da alma, como um ator em monologo no grande palco da vida, buscando abrir a cortina ferrenha das minhas existências pra vislumbrar além das possibilidades do físico em que estou.

No auge das minhas pretensões visionárias, para muitos, loucuras, tento dar forma ao sentimento, sem abalar a consciência de que tudo que vejo e sinto é de um patamar superior e real ao vivenciado na presente experiência em que piso no planeta azul. Assim, vou tentando enxergar Deus numa óptica simples, tentando trazê-lo para o meio rude em que vivo, não para diminuí-lo, mas na esperança de tocá-lo e dar-lhe um forte abraço. O potencial da grandeza Deus, não impede de sonhar e tentar dar-lhe uma forma. Isso me acalenta e me faz ascender ao encanto buscado pela alma viajante da eternidade, que almeja no tempo sagrado a evolução ainda distante.

Na clareza da minha impotência de mensurar Deus, descobri que posso mesmo assim, ir além, dando-lhe uma forma e vê-lo nesta realidade diminuta em que existo. Na voga impelida pelos meus desejos, encontro com Deus no Nazareno de olhar seguro, que denotava carinho, amor e dava segurança, mas que a maioria ignora até o presente; encontro-o na mulher mãe que mesmo abandonada pelo infiel companheiro, é capaz de dar a vida pelos seus filhos; vejo Deus também no olhar carente de crianças que vagueiam nas esquinas das suntuosas cidades de gente orgulhosas; vejo Deus no matuto de mãos calejadas e rachadas pelo frio da madrugada, que semeia o trigo confiando numa farta colheita e que, sem saber, mata a fome de heróis e condenados; vejo Deus no divino potencial interior que todos os homens e mulheres carregam como essência desse Criador que, apesar das diferenças morais, deverá eclodir no tempo reservado a cada um; focalizo Deus também nos animais, tidos como irracionais, que são sacrificados pelos considerados inteligentes.

Para muitos viventes terrenos que colocam Deus apenas num reino sagrado, mantendo-o distante de si mesmo, posso afirmar com segurança que o identifiquei no indiano conhecido como Mahatma Gandhi. Caracterizado na suavidade de suas palavras e sua rica humildade, Deus manifestou nesse deus, dando-lhe vitorias sobre um opressor poderoso, provando que o poder bélico e a tirania dos orgulhosos podem ser derrotados pela sabedoria do amor. Encontrei com Deus num deus chamado Martin Luther King Junior, marchando com multidões nas ruas da pacata cidade americana de Montgomery, chegando até as ruas da poderosa e suntuosa Washington, onde depositou nos ouvidos do mundo o desejo de ver a fraternidade e igualdade entre seu povo e nações da terra. No período mais recente observei Deus no cidadão Nelson Mandela, que por amor a sua gente, doou sua juventude enclausurada na masmorra da perversidade humana. Como herói, pode assistir e dançar com seu povo, num novo movimento de liberdade.

Não tenho a devida idoneidade espiritual para ver o Celeste e augusto construtor da vida na sua plenitude. Mas posso também, ir mais além de um simples e formal olhar. Percebo-o na busca das melhores escolhas; posso experimentá-lo cá nas minhas relações com meu semelhante, principalmente, no doce lar junto a amada família; ter sua companhia no momento de lazer; permito até que entre comigo na fabrica empoeirada que trabalho. Quando o ser bruto que ainda habita o calejado espírito eu, Deus nunca foge, apenas fica por instantes de lado, aguardando, que essa pedra bruta, busca a lucidez da luz, pra retornar ao trabalho do desbaste, na intenção de cunhar o novo, não para o deleite individual, mas para servir o todo universo da vida e compreender além da matéria Deus, a maior ideia.

(Carlos Campos Mariano – Pedra Bruta)

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