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OPINIÃO

Evolução urbana da cidade de Mineiros-GO

O Plano Diretor Democrático do Município, visando fins mais urbanos do que rurais, virou alicerce, teórico-legal, com que Mineiros pode alcançar 52.965 habitantes em 2010, com mais de 48.000 deles no setor citadino, onde a aplicação desta lei há de ser rigorosa e, onde, como já enfatizamos, a urbanização acelerada não vem somente do aumento populacional, destacando-se, também, a posição geográfica privilegiada do sudoeste de Goiás;  fundação da Cooperativa Mista do Vale do Araguaia (Comiva), em 27 de fevereiro de 1972, tendo como principal incentivador político José de Assis e fundador Dom Eric James Deithman, primeiro presidente; fundação e instalação da Associação Comercial,  em 15 de agosto de 1980, com primeiro presidente Raul Brandão de Castro; inauguração do Escritório da Empresa de Assistência Técnica de Extensão Rural de Goiás (Emater), em 31 de outubro de 1982; fundação do Distrito Agroindustrial de Mineiros (Daim), em 1988, inaugurado em 23 de setembro de 1990, sendo principais idealizadores, Antônio Soares Bezerra, Higino Piacentini e Durlei Vasques de Souza.

Incentivos fiscais, internos e externos, atraindo indústrias; empréstimos e financiamentos bancários; presença de estudantes de outras cidades em busca de ensino superior; presença da nova classe média, trazida ao debate político e talhada para a melhoria de vida; repasses ao município através de programas administrados pela agência da Caixa Econômica Federal, instalada em 30 de outubro de 1980, a qual, segundo o gerente, Valentim Dias Guerreiro Júnior, só em benefícios ao trabalhador e a outros segmentos sociais, em 2010, destinou R$ 109.950.000 (cento e nove milhões, novecentos cinquenta mil reais), em seguro desemprego, pagamento FGTS, pagamentos programas econômicos, previdência social, PIS (quotas), PIS (rendimentos); Pete, Garantia Safra, Bolsa Família, Bolsa Formação, Chapéu de Palha, Pró Jovem, Crédito Comercial PF, Crédito Comercial PJ, Habitação e Infraestrutura.

Não esqueçam os programas habitacionais, administrados em parceria com a prefeitura, sobretudo Minha Casa Minha Vida, deixando moradia para as famílias, renda para os trabalhadores e desenvolvimento para Mineiros e o país; Carta de Crédito FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) e Carta de Crédito SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo), através dos quais a Caixa financiou, em 2008, R$ 5.358.109,21, para edificar 118 casas; em 2009, R$ 6.383.649,36, para 91 casas; em 2010, R$ 20.290.091,50, para 485 outras, somando 694 casas. Se não bastara, sem contar o da sorte, o de carro e o do povo, pelo menos nove bancos têm sede no centro da cidade, começando pelo Mercantil do Brasil, primeiro a se instalar em Mineiros, em 12 de junho de 1962, como os demais, emergindo emprego, renda e bem-estar social, sem poder omitir, contudo, a expansão urbana  desenfreada e ruas lotadas, gerando estrangulamentos de ruas e avenidas, principalmente durante os horários de pico; em alguns aspectos, deixando sociedade  “enferma”, estressada e esquizofrênica; onde os velhos cinemas desapareceram e a locadora de vídeo tomou seu lugar;  onde a própria visão sobre Deus já é outra, mais passível de lucro, devendo ser por isso que as prendas maliciosas como espigas de milho e ovo de galinha caipira são as que mais saem nos leilões religiosos, já fora de moda na porta da Igreja; não se diz mais: “Quem com ferro fere, com ferro será ferido”, nesse particular  ensinando o escritor Marcelo Barros: “Mesmo a Bíblia, o Corão e outros livros sagrados têm sido reinterpretados para não legitimar a imagem de um Deus patriarcal, autoritário e até cruel.”

Já se vê que Mineiros – até os anos 70, do século findo, uma cidade solitária ou do “vai quem quer”, vítima do isolamento geográfico e das omissões medrosas a serem acertadas no céu – sofreu as mudanças do mundo, da década de 1970 para 1980 e com mais razão as mais recentes, com a velocidade com que as coisas acontecem no nosso tempo, parece sem definir com clareza, um norte sobre o seu futuro. Com essa dúvida, típica da transição e da cultura aos solavancos, onde nada permanece, a cidade não teve como evitar a chatice e o forte assédio das modernidades do “aqui e agora” “estressante”. E de tão embebida pela “maquiagem”, deve ter esquecido dos  bens  histórico-culturais e ecológicos, indeléveis, de âmbito material e imaterial, aqui fixados no coração da terra, evidenciando os “pontos focais”  para onde “se vai ou deles se chega”,  na circulação e imaginação citadinas, como:  Avenida Antônio Carlos Paniago;  Matriz do Divino Espírito Santo;  Igreja São Bento, de inspiração européia, no final dessa avenida; Feiras e Supermercados, onde todos são iguais pela necessidade alimentar; as encantadas nascentes do Córrego Mineiros; sem omitir o monumento “Índia América”, principal “marco visual” da cidade, da lavra do artista plástico Sinval Cipriano, na Avenida citada, esquina com José Joaquim de Rezende, carinhosamente  “Avenida Jardim”. Curioso: deve ter esquecido também do que certa época escrevera Drummond: “Ficou chato ser moderno / eu quero ser eterno.”

É assim, portanto, que ouso afirmar que nem tudo na urbanização acelerada “mineirense” quer dizer mentira ou engodo. Apesar de alguns obstáculos, gerando anacrônicas injustiças, como a acentuada concentração de renda, urbana e rural, e a intolerável demora do Estado no atendimento às vítimas de crimes diversos, com médicos legistas, exigindo imediata solução, já somos um lugar especial, chegando a primoroso, onde, aliás, se nasce mais do que se morre, notando-se que em dois anos (2009-2010), período dividido em trimestres, segundo o Cartório de Pessoas Naturais e IBGE, a taxa de natalidade foi de 1.691 pessoas, enquanto a de mortalidade alcançou 512 óbitos, podendo assim dizer que esse fato também melhora a cidade em alguns aspectos, como aumento de pagamento de impostos e circulação de divisas, sem, todavia, deixar de ampliar o  processo de urbanização irritante.

É assim ainda, que o município, na sua malha urbana, após alcançar o número de habitantes citados e conforme registros analisados em julho de 2010 pela Consultoria NGR Soluções Ltda, apresentava 69 loteamentos e parcelamentos de solo, com um total de 21.637 lotes, entre eles, 8.602 vagos, alguns por sentimento mesquinho, ocupando atrativos espaços onde  estão seus bairros e setores, em perímetro urbano constituído, delimitado e descrito, fundados em origens diversas.

Setor Aeroporto, 336 lotes. Surgiu em 1947, como “campo de avião”, de pequeno porte, os famosos “teco-teco”, asa dura, atração até de moça fujona. Tem base na tradição e homenageia Fúlvio Riccioppo, aviador da Empresa Nacional Transportes Aéreas (linha de avião que serviu Mineiros de 1954 a1958), tendo como um dos agentes Raul Brandão de Castro, quando o “campo de avião” virou Aeroporto Municipal, por influência  de Riccioppo, casado com a mineirense Celina, filha de Dr. Neves e dona Neném;  Ioris,  lembrando família gaúcha, 388 lotes; Leontino, lembrando pessoa deste nome, 1.368 lotes; Alcira de Rezende, evocando  nome de mulher querida, 750 lotes; Polivalente, recordando escola desse gênero, 94 lotes; Rodrigues, em respeito a uma família, 125 lotes; Naves Martins, recordando famílias, 80 lotes; Dona Letice, recordando uma mulher, 59 lotes; Jardim Goiás II, de quando se pensou Mineiros “Cidade Jardim”, 203 lotes; Carrijo, homenagem a família tradicional, de origem espanhola, 36 lotes; Mineirinho, 80 lotes,  a bem dizer, bairro simultâneo do “Mineirão”, pois só se chegava no “Mineirão” passando pelo Mineirinho, mesmo antes da primeira  Rodovia (Sul-Goiana-1918), vinda de Jataí, aportar nele. Tem esse nome, certamente, recordando uma pessoa de origem mineira que teria morado ali; ou mais acertadamente, para se diferenciar do primeiro, “Mineirão”, sempre considerado centro, iniciado na Praça Coronel Joaquim Carrijo de Rezende, já meio esquecida, na pressa da urbanização turbulenta; Cipriano, evocando nome de um homem, 27 lotes; Vila da Paz, ironia burguesa, mostrando que independente do lugar onde se mora, deve-se estar em “paz”, 70 lotes; Pecuária, evocando economia primária e local das festas anuais dos fazendeiros, 64 lotes; Costa Nery, recordando nome de família, 330 lotes; Centro, dando os primeiros passos de metrópole, 1.440 lotes.

Seguindo modelo da rápida industrialização e urbanização, com base em visíveis desequilíbrios e desigualdades sociais e espaciais, de que fala Manuel Castells, célebre autoridade em estudos urbanísticos, emergem: Condomínio Residencial Fechado, “Portal do Cerrado”, nas nascentes do córrego do Cedro, 250 lotes; Residencial Vilhena, 579 lotes; Residencial Versailles, 226 lotes; Residencial Jardim Floresta, 801 lotes; Residencial Alvina Paniago, 844 lotes; Distrito Agro-industrial de Mineiros (Daim), sem indicar loteamento; Setor Novo Horizonte, 96 lotes; Setor Cidade Nova, 561 lotes; Chácara 22 (Zé do Café), 15 lotes; Remanescente Lago I (Esp. Adir e outros), 18 lotes; Remanescente Lago II, (Esp. Eurípedes e outros), 130 lotes; Remanescente Lago III (Esp. Toninho Ciotte e outros), 45 lotes; Araujo Neto, 25 lotes; Adzir e outros, 12 lotes.

Assim, creio poder dizer ao Brasil e ao mundo, que Mineiros, pouco importando passar por urbanização acelerada, cheia de espírito de concorrência, população incrivelmente heterogênea, se afastando da natureza orgânica e perdendo vínculos de solidariedade, tem história cativante do passado e ousa administrar a turbulência do presente. De todo modo, é uma profecia para o futuro. Um lugar bonito, com organização teórica imprescindível, gestão empírica plausível, onde se pode viver, estudar, trabalhar e ser feliz.

(Martiniano J. Silva, escritor, advogado, membro do Movimento Negro Unificado, Academia Goiana de Letras e Mineirense de Letras e Artes, IHGG, Ubego, mestre em História Social pela UFG ([email protected]))

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