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OPINIÃO

O Facebook e a “língua”

Dizem que o tal do Faceboock – para facilitar-nos doravante somente Face – começa pegando na sua mão, de modo bem discreto e, quando você menos espera, você está “casado” com uma “entidade” que sabe mais sobre você do que o seu cônjuge ou o seu confidente e, pior, você não sabe nada sobre ele, por exemplo, ninguém explica o comando, ou botão “cutucar” no alto da página do Face. No começo foi assim comigo também e, por que não seria não é mesmo? Confesso, estou me dando muito bem nesse “relacionamento”, quer dizer, “relacionamentos”, porque ali tenho encontrado pessoas de todas as classes sociais e “culturais” com as quais mantenho “diálogos” participando, através de “partilhas”, de reuniões, embates, palestras e recebendo as mais diversas sugestões sobre filmes, teatro, literatura em geral, enfim, um verdadeiro reino encantado do mundo virtual aonde todos trabalham sem ganhar um tostão não é verdade misericordioso leitor? Tem até gente querendo processar o Mark Zuckerberg, mas, claro, para toda a regra existe uma ou mais exceções. O tal do Face, também, pode “virar” um verdadeiro inferno na vida de uma pessoa. No Reino Unido, por exemplo, um terço dos divórcios ocorre porque um dos parceiros viu ou rastreou algo no Face do companheiro. Imagine o que ocorre no resto do mundo, afinal, são um bilhão e trezentos milhões de usuários. Há muitos relatos de crimes em decorrência da má utilização da “ferramenta”, onde há muita coisa imunda, muita pornografia, pedofilia e muito mais que nem vale a pena ficarmos comentando.

Eu nunca escondi, aliás, deixo bem escancarado nos meus artigos a minha admiração por D. Pedro II, o brasileiro, “carioca”, que “reinou” por 58 anos e mudou tudo, transformando o Brasil no maior país em extensão territorial abaixo da “Linha do Equador”. Meu nome, Gonçalves Dias, deve ser “responsável” por esse meu comportamento, essa minha mania de estar sempre aborrecendo o misericordioso leitor, repetindo que o ouro que os portugueses levaram é mixaria perto do legado que nos deixaram, porém, devemos tomar cuidado e não incorrer no cúmulo de prosseguirmos querendo parecer com o “colonizador”. O nosso idioma é nosso. O mais complexo, o mais difícil de ser aprendido e falado, com a maior quantidade de adjetivos, enfim, pode até ser chamado de “Português-Brasileiro”, não me importo, entretanto, até o tudo tem limite. Hoje, segunda-feira, vejo, no tal do Face, um comentário, da eminente professora Tânia Rezende, que deixou-me estupefato. Ei-lo:

“(...) Minha opinião, já formada há bem uns 20 anos, é que língua é muito mais que “instrumento de comunicação”, não é só para comunicar que a língua se presta. Língua é poder, língua é muito mais instrumento de dominação do que instrumento de comunicação. Se assim não fosse o Marquês de Pombal não precisaria ter proibido o uso da Língua Geral e obrigado o uso exclusivo da língua portuguesa em sua colônia sul-americana. Entretanto, o conhecimento que temos da sócio-história de formação do Brasil é muito frágil para que relacionemos uma “questão de conteúdo escolar” (sim, porque questões linguísticas para nós dizem respeito ao ensino escolar de gramática e ao bom ou mal uso do padrão de prestígio social da língua, nada mais) com a sócio-história de constituição do português brasileiro. Soma-se a isso, o fato de não termos uma sólida formação política e, pior ainda, de termos até vergonha (ou medo talvez) de falar em política ou de interpretar os fatos da realidade politicamente. Tudo isso nos impede de ver a língua como instância de poder e instrumento de dominação. Outro véu a nos embaçar a visão é a nossa ainda forte colonialidade (linguística, epistêmica, cultural, social etc) e nosso imaginário luso-cristão, que perpetuam nossa mentalidade e nossas práticas extremamente escravocratas. O sonho do/a colonizado/a é ser, pelo menos, confundido com o colonizador. Por isso e em nome disso, é totalmente obediente à metrópole. Sem perceber (é muito inconsciente), agride e humilha seus pares (as pessoas que, por razões históricas, de ordem econômica e social, não têm o pleno domínio da entidade denominada de “português culto” escrito) para louvar enaltecer seus algozes, os mesmos que historicamente impediram que todos/as os/as brasileiros/as tivessem acesso à escola e assim conseguissem dominar plenamente a “santíssima entidade, o português culto”. Precisamos, sim, urgentemente, melhorar nossa autoestima linguística, deixar de ser catequistas de plantão e abandonar essa nostalgia colonialista de que o português brasileiro não merece o status de língua”.

Obrigado professora Tania Rezende. O misericordioso leitor poderia, por favor, quando encontrar um amigo “estrangeiro” ou “gringo”, pedir que pronuncie a palavra “português”? Preste atenção na locução “por”. Eles não conseguem fazer os movimentos da língua no palato para produzirem o som correto. Podem viver entre nós 1.000 anos! Kkkkk, como fazemos no Face. Até.

(Henrique G. Dias, jornalista)

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