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OPINIÃO

Alguém que se forma através da história

Por favor, apareça, senhora ou senhor esse alguém – nós aguardamos ansiosos! Esse alguém tão falado essa semana precisa aparecer, antes que não sobre ninguém para contar essa História. Achei bem engraçado esse apelo do vice-presidente. Caramba, ele é o vice-presidente! Se ele que é ele está por aí chamando alguém, melhor gritarmos Socorro! Help! SOS!

Não posso dar os nomes desses alguéns. Vamos deixar indefinidos. Mas, essa semana, ao ouvir o clamor de Michel Temer, não pude deixar de lembrar uma velha história de imprensa que ouvi há tempos de alguém que sabe das coisas. Um grande jornal, aqueles problemas administrativos de sempre que acabam desolando a redação e, em uma reunião, o dono, o próprio, clama: “Alguém tem de fazer alguma coisa!”

“Empregados fantasmas se apresentem!” – respondo, quando me pedem coisas que, puxa, faz você!

Nunca esqueci, já brincava com a expressão “alguém precisa fazer alguma coisa” (tem de falar em tom imperial) vendo aquelas situações meio absurdas onde os próprios culpados por ela fazem cara de santo jogando a culpa em alguém que não teria feito o que eles próprios já deviam ter feito e há muito tempo. Malandragenzinhas e espertezas.

No nosso dia a dia de jornalistas escutamos apelos, recebemos mensagens que invariavelmente nos contam coisas, novidades, notícias sigilosas, “exclusivas”, “furos”, muitas informações inclusive que nós mesmos tínhamos acabado de publicar – uma espécie de telefone sem fio, que é como anda esse mundo onde ninguém presta mais atenção em nada. Tanto faz como tanto fez.

Vivem reclamando em nossas orelhas como é que a imprensa não faz nada, não diz nada, não publica nada. Alguém tem de fazer alguma coisa e só vocês podem – e escutamos uma quase crítica. Acham mesmo que temos a força do He-man: pelos poderes de Grayskull!

Mais ou menos o mesmo do que dizerem vai lá, se joga do precipício.

Viram o programa do PT? Vivem reclamando que a grande imprensa distorce, patatipatatá, mas quando precisam o que é que usam na tevê? Os jornais. Nessa hora não servimos para embrulhar peixe.

Quem é alguém? Quem pode ser alguém aí, tão especial, mas que ainda é diáfano? Esse ser que não se apresenta logo no portão de embarque? Parece aquele povo que ainda não saiu do armário e que diz que vai se encontrar com uma pessoa, vai sair com uma pessoa. Falou isso, pode crer. Pode dar a ela de presente de arco-íris, uma coisa mais delicada, a compilação de Orange is the new black – coisas assim.

Todo mundo quer ser alguém. Talvez por isso mesmo a oposição esteja tão acirrada, haja tanta rejeição ao atual comando. Muitos estavam quase sendo alguém, até ajudados pelas benesses sociais indiscutíveis, e agora caíram do cavalo, ou tropeçando no que ele deixa no caminho. Vide os financiamentos dos estudantes, as mães cheias de filhos vendo a bolsa da família se esmilinguir, e um monte de promessas virarem desencantos. Investimos contra porque há alguém culpado por chegarmos a esse ponto.

Será que tem alguém olhando pela gente? Pensamos assim quando lembramos de quem já nos deixou e acreditamos que esse alguém está lá no céu nos ajudando. Parece que pensar assim nos torna mais fortes. Alguém lá em cima gosta de mim.

Estamos no terreno duro do chão. Não podemos mais fingir de ver alguém que não aparece, porque ninguém cai do céu. E quem aparece quer jogar no nosso colo a bomba para aparecer depois cantando como o Roberto Carlos, esse cara sou eu.

Fingem que não ouvem as panelas, que não somos alguém, fingem que não veem alguém nas ruas.

Ninguém merece. Sabem com quem estão falando?

*Na rua dia 16, porque certamente encontrarei alguém que sabe que, juntos, podemos sim fazer muito. Inclusive achar alguém que aceite essa batata quente.

(Marli Gonçalves, jornalista - E-mails: [email protected] / [email protected])

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