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Europa: a vanguarda do atraso e como isto contaminou o Ocidente, inclusive o Brasil

Os europeus conseguiram o que queriam: “igualar a todos e domar o ímpeto da individualidade autoritária”. “As casas na Noruega são todas iguais; não há pobres, não há ricos, lindo, não?”. Seria lindo se não tivessem matado o espírito humano de iniciativa e de evolução. Geraram uma sociedade “cansada”, que flerta com a estagnação (e vai piorar). Por exemplo, altos níveis de toxicomanias, suicídios, pessoas que saem em cruzeiros na costa só para “liberarem geral” (alcoolismo livre, sexo livre, jogatina), famílias que não querem a “canseira de terem filhos”, enorme conflito de gerações (“filhos saindo de casa, odiando pais, usando drogas, etc.”), conflitos de gênero (“os homens daqui estão querendo casar com as tailandesas”). A estagnação econômica caminha para o incômodo: antes trabalhavam pouco, ou sem muita gana, mais tinham a vantagem do alto valor agregado (tecnologia) das manufaturas, hoje até isto estão perdendo para sociedades onde a iniciativa privada é mais estimulada (p.ex., Taiwan, Coreia do Sul, etc). A medicina de complexidade e de relações humanas é ruim, por exemplo, os médicos, funcionários públicos, desmotivados e sem-iniciativa, “não conversam”, uma paciente com doença neurológica grave (Guillan-Baré) me reclamava que “seu médico assistente era um clínico geral”; um professor universitário me disse que teve de levar sua mulher para operar de apendicite supurado na Espanha, país onde ainda existe um resquício de “medicina onde se pode pagar para ser melhor atendido”. A estagnação não parece ser apenas econômica, mas também humana e intelectual. Estudos mostram uma perda de 3% do QI médio dos adolescentes franceses, talvez por falta de “pressão para evolução”. Sem a pressão para a evolução há algo chamado “regressão para a média”.

O “espírito europeu” está matando o espírito ocidental. Faça um teste simples: coloque dez pessoas em uma sala e pergunte: o que vocês acham mais desejável: que todos cidadãos ganhem mais ou menos igual (mesmo que seja menos), ou que uns possam ganhar mais que os outros? Já fiz este teste com meus alunos, aproximadamente 8 irão responder que preferem o sistema “socialista” (todos iguais). Acham que ele é mais “justo”, mais “ético”.

A Europa se defenderia de meus ataques: “se não fosse pela força do povo, estaríamos sendo dominados pelos ditadores (das Armas ou do Capital) até hoje”. É um bom argumento, no entanto, tem muitas falhas. Em primeiro lugar, na maioria dos lugares onde tentou-se implantar o “socialismo”, os “implantadores” (representantes do Estado) são os novos déspotas. E, nos países da Europa nórdica, onde o “socialismo” foi implantado de fato, os “podres” teimam em aparecer, entre eles o massacre de 90 pessoas, por motivos racistas, numa ilha da civilizadíssima Noruega. A Europa, de fato, gerou uma “desmotivação da Civilização”, gerou um tipo de “Fim da História”: “estamos cansados e acomodados, mas estamos todos iguais”.

É isto que países atrasados como o Brasil ainda teimam em implantar: o modelo socialista do “todos pobres mas todos iguais”. Provavelmente não irá funcionar porque o PT cometeu um erro crasso: ao contrário dos partidos sociais-democratas da Europa setentrional, o PT roubou. Roubou e aparelhou, a bel-prazer, as estruturas do Estado. Ou seja, “queimou” grande parte do discurso socialista. Por outro lado, o povo brasileiro tem um outro tipo de relação com o Estado: “gosta de mamar nele mas não confia nele”. O europeu nórdico é o contrário: confia no Estado e , por isto mesmo, não pensa em utilizá-lo como patrimônio próprio.

Sem uma mudança de consciência íntima, com base no amor pelo próximo, nem todas leis do mundo transformam a mente de um capitalista. Mesmo com todas as leis e regras, a mente maquiavélica dele arrumará um meio de explorar o menor. Pode não ser uma exploração escandalosa, será velada, mas nem por isto menos asfixiante. Mesmo com todas as leis mais bem feitas do mundo, os dramas da contravenção das pequenas leis morais continuam assolando a Europa, resultando em sua consequência não-computada criminalmente : drogas, alcoolismo, abortos, suicídios, divórcios, filhos abandonados afetivamente e psicologicamente, homicídios lentos e indiretos, assédios sexuais, assédios morais velados e inteligentes, agressões psicológicas, etc. Ou seja, sem a modificação profunda do homem, os ganhos social-econômicos, social-criminais, não passam de ilusões de superfície. E isto tudo a um custo enorme: a morte da iniciativa do indivíduo, a morte das potencialidades de evolução.

(Marcelo Caixeta, médico psiquiatra, artigos as terças, sextas, domingos - [email protected])

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