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OPINIÃO

Mais mulheres na política, uma luta também partidária

Apesar da fase delicada que atravessamos, tanto no âmbito econômico como no político, já é ponto pacífico que, para se construir um país melhor para as próximas gerações, é preciso realizar uma reforma política. E me parece também consensual que, no bojo dessa reforma, deva haver espaço para medidas que consolidem o aumento da participação da mulher no parlamento.

O debate sobre uma ampla mudança, capaz de engajar a mulher e aumentar sua participação na política, já é uma realidade e essa consciência se fortalece a cada dia, em toda a sociedade. No entanto, ainda é preciso inserir nessa discussão uma questão fundamental: qual é o papel e a contribuição dos partidos políticos nesse processo?

Pouco se discute o quanto a baixa participação feminina na política está diretamente relacionada à forma como as legendas tratam a questão e ao espaço que disponibilizam para as candidatas.

Os partidos são os responsáveis por determinar, dentro do espaço de que dispõem, o tempo que cada candidato terá para expor suas propostas, tanto no rádio como na televisão, sem dúvida os meios de comunicação mais poderosos em qualquer campanha.

Da mesma forma, são os partidos que escolhem quem poderá candidatar-se a cargos eletivos em qualquer eleição, ou seja os que irão representar sua legenda. Com exceção dos cargos majoritários, o mandato pertence ao partido e não ao parlamentar e, por fim, são os partidos que definem quais entre seus candidatos receberão maior ou menor apoio a cada eleição, seja esse apoio financeiro ou político.

Dadas essas informações, cabe-nos questionar: será que o atual formato partidário pode, de alguma forma, favorecer a inserção da mulher na política? Há, por parte das legendas, real preocupação em buscar e formar novas lideranças, capazes de transformar o país para melhor, ou apenas o interesse em preencher as cotas mínimas exigidas pela legislação para as candidaturas?

Há 16 anos militando, desenvolvendo um trabalho social e político, pude tornar realidade um movimento com mais de 150 mil mulheres, lideranças que estão sempre se empenhando para que fazem muito por seus bairros, cidades e comunidades, muitas vezes até sem mandato. Mas tenho consciência da sorte de estar inserida em uma sigla que valoriza o papel da mulher na sociedade e que essa, infelizmente, não é a regra. Sendo assim, o que podemos fazer para que isso não seja apenas uma exceção?

Todos sabemos que a estrutura partidária tem um forte e fundamental papel na política e qualquer reforma que não leve isso em conta terá seu alcance limitado. Aliás, sempre costumo dizer que não há melhor fórmula para uma reforma política do que àquela que seja capaz de aproximar os bons da tomada de decisões.

Dentro desse contexto, é fundamental termos em mente que, se queremos mudanças positivas e concretas, temos que partir do início. Até porque a questão vai além da igualdade e tange, na verdade, as reais oportunidades que estamos dispostos a proporcionar para novas lideranças, nas quais identificamos verdadeiro potencial. E, mais do que isso, qual é a sensibilidade de que dispomos para entender que muitas delas já nasceram prontas, precisam apenas do espaço e do apoio de suas legendas?

Essa é uma questão que deve ser discutida dentro dos partidos, uma verdadeira batalha que precisa ser travada para tornar possível às mulheres ocuparem os espaços a que fazem jus no âmbito da política.

(Marlene Campos Machado é coordenadora das ações de todos os partidos políticos na Campanha Nacional por mais Mulheres na Política)

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