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OPINIÃO

O estresse na atividade policial

Nós, operadores de Segurança Pública, incorporamos tanto a condição de prevenir a violência que, às vezes, nos cobramos e somos cobrados por nos anteciparmos a eventos inevitáveis, causando uma sensação de impotência. Essa (auto)cobrança excessiva acaba direcionando esforços e recursos para o impossível, e desconsideram todas as nuances não-policiais que podem fazer com que um crime ocorra.

As forças policiais não são a fonte de toda prevenção, às vezes essa excitação por evitar o crime e levar às medidas extremas que inviabilizam a sociabilidade. Crimes só deixarão de existir se a sociedade também não existir, o conflito é uma consequência natural das relações sociais.

Em 1974, nos Estados Unidos, um médico, por no nome Freudnberger, descreveu a Síndrome de Burnout como um distúrbio psíquico. Sua principal característica é o estado de tensão emocional e estresse crônico provocados por condições de trabalho físico, emocional e psicológicas desgastantes, manifestando especialmente em pessoas cuja profissão exige envolvimento interpessoal direto e intenso, o que é caso da rotina dos agentes da segurança pública.

O fato preocupante é que muitos destes profissionais, acometidos por estes transtornos, buscam refúgio no alcoolismo, tabagismo e até no uso de entorpecentes e se torna cada vez mais difícil a tarefa de evitar o acometimento que surge cada vez mais frequente devido ao crescente número nos índices de violência no Brasil. Muitas corporações até dis-põem de mecanismo de tratamento e acompanhamento e assistência social, mas que infelizmente muitas vezes, são ignoradas pelos agentes que resistem a ajuda com receio de serem rotulados ou menosprezados pelos colegas de trabalho.

A corporação a qual trabalho, a Guarda Civil Metropolitana de Goiânia, por exemplo, disponibiliza para seus agentes através da Divisão Segurança do Trabalho e Assistência Social (DSTAS) vários serviços de apoio nas áreas: espiritual, psicológica, academia de educação física globalizada, fisioterapeutas, musicoterapia, capelães e etc., e tem obtido resultados positivos com relação à reinserção dos guardas atendidos, nas suas atividades operacionais. Mas o interesse dos guardas em buscar ajuda quando necessário ainda está a quem da realidade vivida por estes servidores.

Outro ponto importante é a participação efetiva da família na identificação precoce deste problema, e mais importante ainda é a compreensão e a iniciativa dela em buscar recursos para solucioná-lo juntamente com o paciente (agente de segurança).

Aqui fica a reflexão sobre quais são os limites humanos? Uma vez policiais diante do cenário crítico pelo qual estamos vivendo no nosso cotidiano, onde cada vez mais ele é exposto às situações de conflitos intensos e frustrado com o contexto geral da legislação brasileira. Saibamos que, uma sociedade livre da violência, não se constrói somente com efetivo policial e suas ações, mas sim com educação de qualidade, uma distribuição de renda justa, uma legislação eficiente, uma polícia incorruptível e uma maior confiabilidade da população nos órgãos policiais.

Somos sim, enquanto policiais, ferramentas importantes na manutenção da ordem pública e na garantia de direitos e do exercício da cidadania, mas para isso é necessário buscar sempre o zelo pela nossa saúde física, emocional e principalmente psicológica. E que não sejamos iludidos com o rótulo de super herói, por trás da nossa farda existe um ser humano que sangra que ama e que pensa diuturnamente em uma sociedade ordeira e igualitária.

(Jucimar Ferreira de Sousa, guarda civil em Goiânia e promotor em Polícia Comunitária)

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