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OPINIÃO

Dia Nacional da República

“A partir de então, meus horizontes foram muito ampliados pelo estudo histórico da moral. Percebi que tudo dependia radicalmente da política, e que, de qualquer modo que se encarasse o problema, todo e qualquer povo somente seria aquilo que a natureza de seu governo o fizesse ser; daí essa grande questão do melhor governo possível.” J.J.Rousseau, Confissões.

República nossa de cada dia, intragável, pouco a comemorar da parte do povo, pois, vem ela sendo mutilada pelos próprios governantes contratados pelo voto para fazer dela exemplo estóico, no tocante ao progresso e bem-estar de sua gente, na grande maioria, ainda ordeira e laboriosa, mesmo esbulhada pelos corruptos, prospera, alimentando a esperança, vencendo, com denodo, toda sorte de barreiras, ciladas arquitetadas, de forma maquiavélica, por eles.

Com efeito, leitor, o ideal republicano, ora desvirtuado pela ação mesquinha de maus gestores, terá que ser revertido buscando inspiração na corrente política aristotélica, tendo como objetivo, como dito, o bem-estar econômico e social da família brasileira, carecendo, consoante doutrina filosófica, de sua participação na vida política da comunidade, vigiando, controlando, os atos inescrupulosos dos traidores do ideal republicano. Já naquele tempo, começo do movimento Iluminista, embreado na floresta, pergunta Rousseau a si mesmo, se os vícios da sociedade pertenciam “não tanto ao homem, quanto ao homem malgovernado”.

Aqui entre nós, leitor, a orgia pública daquele tempo de reis, príncipes, desencadeou o movimento iluminista destronando os maus gestores do passado, na atual conjuntura, transcorridos quase três séculos, oxalá fosse, nossa gente, contagiada por germe benigno inspirando-a à luta ordeira, pacífica, alijando, do poder público todos inimigos da democracia, responsáveis, pela imagem distorcida, negativa, da república, descrença, no regime e nos governantes. Proclamada no dia 15 de novembro de 1889, foi mais uma quartelada do que a sublimação do sentimento nativista nacional, o baixo nível cultural, neste, a cultura política, tornou nossa gente, como ainda hoje, indiferente a participação na vida política.

Quanto ao império, várias agravantes selaram seu fim destacando-se, entre elas, a idade avançada do Imperador, a abolição da escravatura sem indenização reivindicada pelos escravocratas, todos influentes na corte, ausência de um príncipe herdeiro ao trono, descontentamento no seio militar. Além do mais, era forte, no partido republicano, o movimento positivista oriundo da França, tendo como inspirador o conde Saint Simon, filósofo mentor e Augusto Conte, seu fiel seguidor, doutrinador, com a morte do patrono inventor da religião universal da humanidade. “Conte concluiu que toda filosofia e sociologia a disposição do homem não bastavam para mudar a sociedade.”

Esta filosofia positivista influenciou, sobremodo, os militares eram os próprios proclamadores da República, marechais: Teodoro da Fonseca, Floriano Peixoto e benjamim Constant ardorosos enamorados do positivismo. Advogava ele, uma espécie de república ditatorial, consubstanciada à religião universal da humanidade, tida, por seu doutrinador, como único meio de reverter à degeneração dos costumes da humanidade. O que, de certa forma, coadunava, em muito, com a vocação caudilhista reinante, em toda a América Castelhana, bem como, portuguesa, advindo, dessa comunhão positivista, a conspiração caudilhista de ambos os marechais, em permanecerem, ad perpetuo no poder, que por sorte não se consumou.

Aliás, uma vocação inerente aos humanos, pois, as mazelas de nossa democracia estão, intimamente, associadas à vocação perdulária, de quase todos os governantes, desde os primórdios, aos tempos atuais, pelo poder. O poder pelo poder, a própria corrupção, em caráter endêmico, existe para alimentar a permanência de maus gestores eleitos pelo voto, ainda hoje, subserviente leniente, no poder, daí leitor, a máxima de Lord Acton: “O poder corrompe, o poder absoluto, corrompe absolutamente.”

A grande virada ocorrida com o movimento das luzes está a carecer, de novo, de remendo, mudança radical na arte de governar, hábito bolorento dos eleitos, tanto no o legislativo como no executivo, estão a confundir, cada vez mais, seus interesses mesquinhos, com os lídimos anseios da sociedade contribuinte, desgastando a imagem republicana tornando-a repudiada, em vez de aclamada, querida por nossa gente. Fosse mais querida, mais aclamada, inspiraria, para melhor a governabilidade, facilitando o ajuste fiscal, e assim, a arrancada, mais depressa, do atual atoleiro econômico, a volta ao crescimento, a saída da recessão, resgatando o PIB do negativo, abaixo de zero, para o positivo.

Mudanças incisivas, leitor, terão que ser realizadas, para elevar o austral republicano, contudo, deverão partir da sociedade eleitora, a depender de iniciativas deles, contratados pelo voto, pouco ou nada virá, pois, o corporativismo falará sempre mais forte, a razão própria da esfera pública, continuará postergada, escorraçada, pela paixão, própria da esfera privada. A sociedade que paga as contas deles, contas astronômicas, continuará burra de carga (serva) do estado, mais grave ainda, burra de carroça dos governantes, porquanto paga tributos de primeiro mundo, recebe em troca, serviços abaixo do sofrível.

Portanto, vale a pena lutar, sair da indiferença, inação, para a ação, participando da vida política de sua terra, lugar onde mora, vive, controlando seus passos, cutucando-os com vara curta, valorando a república. “Toda sociedade onde a paz não tem outra base do que a inércia de seus cidadãos, os quais se deixam conduzir como um rebanho e não se exercitam, senão na escravidão, não é uma sociedade é um ermo, uma solidão.” Trecho do tratado político de Spinosa. Trabalhamos com afinco, pagamos tributos pesados, mas não temos os frutos saborosos que o sistema democrático pode proporcionar, como segurança, saúde, educação de qualidades e, tantas outras regalias, tudo em virtude das sucessivas orgias financeiras dos que são contratados com nosso voto, voto que deveria ser, mais ainda não é, nossa arma mais poderosa, valiosa, na república, porquanto, prossegue subserviente leniente, enquanto já deveria ser, se tivéssemos educação de qualidade nas escolas, consciente-independente.

A república, leitor, nasceu indireta, portanto, de forma diferente da original, direta, praticada na Grécia antiga, que deu fama universal ao mundo, na época, pelo tamanho dos estados republicanos instituídos, era inviável, mas agora, com o progresso, era da transitoriedade, tornou-se viável, possível praticar a democracia direta, ou mesmo, a combinação de um modelo, com o outro, o direto com o indireto. No modelo indireto, os eleitos acabaram usurpando a vontade geral, indelegável, consoante Rousseau, na sua obra prima “o contrato social”, e com ela, fazem eles o que bem entendem da sociedade, ainda, despolitizada.

Então leitor, o caminho para sair da servidão lamuriada por Spinosa, denunciada por Rousseau, é a devolução da vontade geral à sociedade eleitora, permitindo-lhe, até por meio da internet, o direito de fechar, se necessário, direito da maioria, o próprio Congresso, corrigindo através de plebiscitos eletrônicos os desatinos, orgias públicas, que vem maculando a república tornando-a antipática, a nossa gente.

A ciência, tecnologia e progresso tornaram possível a combinação de uma forma com a outra, possibilitando a sociedade comandar, fazer, valer sua vontade dentro de sua própria casa, com a cabana eletrônica de Alvim Toffer, escritor americano – ou, nos estádios, Ágora moderno, rememorando os tempos idos de democracia Grega, direta, dissolvendo com a urna eletrônica, assembleias, dispensando e contratando novos governantes, porém, com mudança de paradigma, troca do voto subserviente-leniente, pelo voto consciente-independente.

A mais inovadora, legítima revolução se faz, pela cultura, conhecimento e nunca, pela violência, anarquia, através dela, você leitor, pode construir, ajudar a construir a republica verdadeira, como foi concebida, tornando-a, bem festejada, aclamada, por todos patrícios brasileiros.

(Josias Luiz Guimarães, veterinário pela UFMG, pós-graduado em filosofia política pela PUC-GO, produtor rural)

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