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OPINIÃO

Recuperação de nascentes significa fartura na produção

Quando Vicente Benjamim de Albuquerque, com formação em engenharia agronômica e criador nos idos de 60 da Acar-Goiás, hoje Emater, presidiu a Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (Embrater), em Brasília, fui convidado a conhecer no limiar da década de 90 a região de Toledo, Paraná, nascentes de rios que secaram porque as matas ribeirinhas foram derrubadas para o plantio diverso. Como jornalista voltado para o agro teria que conhecer e difundir essa prática nova e desejável. Com a sua recuperação, devido ao plantio de novas árvores, as águas engrossaram os córregos e impedem a erosão do solo. É a garantia de uma boa colheita para quem plantou.

O que vejo, desde então, é um esforço de instituições como a rede de Emateres, disseminada pelo Brasil afora e Goiás encontra-se inserido nesse contexto, propagando a necessidade da preservação do solo e das matas ciliares. O Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-GO), retirou na época dos quadros de extensionistas rurais o engenheiro agrônomo Lauro Lúcio Viana. Uma grande aquisição para quem, acostumado à convivência com o produtor e sua família, passou a levar a ideia preservacionista ao meio rural degradado por falta de informação. Num município no vale do Araguaia, a ideia de recuperação das nascentes foi adotada e vi o pequeno agricultor feliz da vida e observar aos presentes que desconhecia os efeitos danosos do desmatamento nessas condições.

Muitos desses produtores desconhecem, na verdade, que, mantendo a mata ribeirinha e das nascentes em pé, a resposta da natureza tende a ser positiva e assegurar a fertilidade à terra. Hoje, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), com sede em Brasília, encampa a idéia da recuperação das nascentes. E em Goiás, a Faeg, como uma das suas afiliadas, desenvolve um trabalho que merece inteiro apoio da sociedade urbana e, sobretudo, rural. Pelo que José Mário Schreiner, presidente da Federação da Agricultura, informa já aderiram sem pestanejar ao movimento os municípios de Aparecida de Goiânia, Bela Vista de Goiás, Orizona, Itaberaí, Silvânia, Rubiataba, Alexânia e Trindade. É, sem dúvida, um bom começo.

O representante da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) no Brasil, Alan Bojanic, dispôs-se a conhecer a execução do Programa Nacional de Proteção de Nascentes, ora executado no Estado. Bojanic mostrou-se impressionado com o programa posto em prática por iniciativa dos próprios produtores. E num discurso em Santo Antônio de Goiás, sábado, conferiu seu testemunho, com toda a sensibilidade de quem nasceu na Bolívia, um país pobre e que faz divisa com o Brasil, de que os brasileiros serão os maiores produtores de alimentos do mundo. Isto tudo, sem a necessidade de derrubar florestas, mas pura e simplesmente agregando 56 milhões de hectares de terras degradadas, ou metade da área produtiva de todo o continente africano.

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) tem contribuído com a pesquisa que resulta em adoção de novas tecnologias. Uma ferramenta sem precedentes para os agropecuaristas patrícios. A Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) promove a recuperação de áreas de pastagens degradadas agregando, na mesma propriedade, diferentes sistemas produtivos, como os de grãos, fibras, carne, leite e agroenergia. Busca melhorar a fertilidade do solo com a aplicação de técnicas e sistemas de plantio adequados para a otimização e a intensificação de seu uso. E este processo desperta o mundo, ansioso por uma alimentação saudável, que o Brasil pode ofertar cada vez mais, dentro das técnicas modernas, preservacionistas e da preferência dos exigentes mercados globais de consumo.

O vale do Araguaia, por exemplo, tem um solo pobre em mais de seus 1.500 quilômetros de extensão. É areia que para ser recuperado o solo, há necessidade de incorporação de calcários e nitrogênio. A Emater tem participação positiva na incorporação das terras do vale do Araguaia ao processo produtivo. O seu corpo técnico na área de pesquisa difundiu o aproveitamento desse solo com o plantio de oleaginosa como a soja. Os resultados foram os mais positivos, a fertilidade da lavoura e das pastagens. Esses dados são demonstrativos da prática de uma agricultura dos novos tempos e que impressionaram o representante da FAO no Brasil em sua primeira visita a Goiás.

Isso tudo me leva à frase de Pero Vaz de Caminha, que como o nome de escriba nos idos de 1.500 não passava de jornalista da esquadra de Pedro Alves Cabral, que ao aportar pela primeira vez no Brasil, anteviu com clareza ímpar as possibilidades brasileiras no campo agrícola. “Aqui em se plantando tudo dá.” Claro, hoje mais que nunca, com a adoção de tecnologia e outros ingredientes, é realmente a terra prometida por São João Bosco, em que correrá leite e mel, ou seja, os produtos da agropecuária.

(Wandell Seixas, jornalista voltado para o agro, bacharel em Direito e Economia pela PUC-Goiás, ex-bolsista em cooperativismo agrícola pela Histradut, em Tel Aviv, Israel, assessor de imprensa da Emater e autor do livro O Agronegócio passa pelo Centro-Oeste)

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