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OPINIÃO

A inflação corrói mais o pobre

O pessoal ligado ao governo tem posto em dúvida a participação popular nas últimas manifestações de ruas. O seu discurso básico é que somente “as elites” têm ido para as praças gritarem contra Dilma, Lula e o PT. De fato os manifestantes apresentam aparência de classe média. Por sinal, a mais sofredora, porque deseja pessoalmente crescer e permanece estagnada. Há, contudo, empresários que são empreendedores e vê seu caminho sofrerem as conseqüências de uma economia recessiva. E pior onde o governo não controla os seus gastos, daí as pedaladas fiscais. Uma inconsequência sem tamanho.
Se as camadas mais humildes da sociedade deixam de ir aos protestos é porque estão desiludidas de tudo. E esse comportamento é péssimo, porque sinalizam entrega, porque o desgoverno encontra-se presente na vida dos brasileiros. E, iludindo-se este povo que se veste das cores verde-amarelo, sucedem as mentiras de campanha e agora com “é golpe”, e tentativas de desqualificar figuras do porte de um juiz como Sérgio Moro, de Gilmar Mendes ou do judiciário como um todo e da Polícia Federal.
Mas, é o pobre, a grande maioria assalariada, que mais sofre com o processo inflacionário. Apenas a título de exemplo. Uma inflação de 10% retira igual percentual de sua renda. Se a pessoa percebe R$1.000,00, R$100,00 é a perda. A cesta básica em recente levantamento do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) apresentou variação anual de 23,67% em Salvador, 22,78% em Curitiba, 20,16% em Porto Alegre, 19,19% em Brasília, 11,51% em Goiânia.
Os itens da cesta ficaram mais caros. O feijão sofreu aumento de 8,47%, a farinha de mandioca: 5,38%, o açúcar: 3,46%, o tomate: 1,96%, a banana: 3,45%, o café: 3,26%, a carne: 2,42%, o leite: 1,03%, o arroz: 0,69%. Dos 12 produtos pesquisados em Salvador, cinco acumularam alta superior a 25% em 2015. Foram eles: tomate, 88,24%; banana, 63,16%; o açúcar, 59,33%; o óleo de soja, 34,13%; e o arroz, 25,80%.
A inflação está solta, afetando a todos os bolsos. Mas, no pobre é onde ela mais atinge. Do remediado para cima, as aplicações financeiras minimizam a situação, embora a poupança venha se apresentando insatisfatória. Nos supermercados, nas feiras, são os locais aonde as donas-de-casa, que habitualmente fazem as compras, sentem que o dinheiro está sofrendo a corrosão a cada volta ao mesmo local. Quem não dá conta de pagar a escola, e os filhos ficam sem estudar.
E, ainda, há o desemprego que afeta a todos. No lar mais humilde, a dor bate mais forte. Já pensou um chefe de família perder o emprego? É um Deus no acuda. Ele não tem de onde retirar dinheiro. Até os “bicos” somem. A mulher e filhos têm que se “virar” como podem. Fazem quitandas, pede apoio dos vizinhos, vão para os terminais de ônibus, para os sinaleiros. Os homens tentam vender bugigangas nas ruas, submetem a um processo de humilhação. O malandro aproveita a “deixa” a vai bater carteiras nas ruas, ou usando um processo mais avançado, roubam celulares das pessoas indefesas, bolsas das mulheres e até pneus de carros estacionados. Isto, quando não passam a trafegar no mundo das drogas.
Afinal, as remarcações de preços se sucedem em praticamente em todas as vendas, no supermercado, no bar, na feira, na farmácia, na loja de roupas, no posto de gasolina, de calçados, a indústria começa a fechar suas unidades ou reduzir a produção. O comércio diminui o número de empregados, os pontos de vendas. As placas de aluga-se ou vende-se começam a aparecer em profusão. É só andar pelas ruas para ver. As imobiliárias sentem o baque de uma economia recessiva. As vendas caem. Se o preço da passagem do ônibus sobe, veículos são depredados como se as empresas de transporte coletivo fossem culpadas da elevação contínua dos custos operacionais, com os combustíveis.
E há, infelizmente, vozes (ou seriam inocentes úteis) que ficam ao lado de um governo inepto, corrupto, desagregador e de tendência ideológica ultrapassada. A política econômica posta em prática é responsável pela corrosão ética, moral, econômica e política brasileira. A nação demonstra que não quer mais a continuidade do governo Dilma. Pesquisas recentes do IBOPE dão ao governo petista: Ótimo/bom: 9%; Regular: 20%%; Ruim/péssimo: 70%; Não sabe: 1%. As manifestações públicas recentes comprovam. Mais de sete milhões de pessoas foram às ruas de forma espontânea, e sem a ingerência de políticos de partido A ou B.
E, ainda, chamam atitude assim, se profundo sentimento patriótico, que chega a lembrar dos comícios das Diretas Já, de golpe? A sociedade exige respeito, porque está em jogo o presente e o futuro do Brasil.

(Wandell Seixas, jornalista voltado para o agro, bacharel em Direito e Economia pela PUC-Goiás, ex-bolsista em cooperativismo agropecuário pela Histradut, em Tel Aviv, Israel, e editor de Agronegócio do Diário da Manhã)

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