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OPINIÃO

Não vai ter golpe!

Michel Temer é uma das figuras mais abjetas da política nacional; Eduardo Cunha é um tempo vivo e latente de trevas e desgraças que vive entre nós; é o anti-modelo; é tudo o que um ser humano, veja bem, nem estou falando em político, a coisa é bem mais ampla, Eduardo Cunha é tudo o que um ser humano não pode ser. É mau, perverso, dissimulado, cínico, corrupto e que se esconde como uma traça faminta sob as vestes de certa religiosidade para fraudar o dinheiro público, para roubar e deixar no nível zero as finanças do País. É, em si, a degenerescência do já muito decadente mundo da política brasileira; Renan Calheiros é, da mesma forma, um cangaceiro ao revés, aquele que toma dos pobres e dá a si mesmo, que se entesoura, enrica e, em seguida, sob o rito da senatoria, orienta, determina e controla ao seu modo, os rumos do governo. É o bastião derradeiro do triunvirato do crime que mira ávido pelo poder central da União.
O conceito de governabilidade do Partido dos Trabalhadores (PT) deu forma ao mundo lodaçal em camadas. Está em cargos-chave do Governo, no Congresso Nacional e deste articulado de perversões jamais visto na história do Brasil temos o efeito colateral e fértil do fascismo militante que gravita entre o ódio do anti-comunismo e sua co-irmã, uma alargada burrice fundamentalista para o qual um adolescente com uma camiseta vermelha é ameaça nevrálgica ao ponto do avivamento de ódios ancestrais.
É assustador! Mas como a refrega entre os contrários nos move; move nossas vidas e mesmo nossos pensamentos, no oceano miasmático em que nos encontramos, com outros olhos percebemos a lótus que, tal qual símbolos de esperança, nos mostra caminhos. E o vemos!
Não vai ter golpe! E não é correto o tecnicismo do “impeachment”. Tal categoria é neste momento, nestas relações e nessa conflagração, uma armadilha teórico-jurídica para amortecer esse crime que os grandes capitais querem empreender no Brasil. Não nos esqueçamos, a linguagem é campo de disputa.
O termo é Golpe! E que militantes sociais, educadores e toda a esquerda conte do bicho como ele, de fato, é; trata-se de Golpe; de nefasto e grotesco golpe em curso e, com tais características, somente possível em um país dependente e marginal como o Brasil.
A boa-nova é que os movimentos sociais estão carcomendo as entranhas do golpe; são estudantes espraiados em centenas de universidades do país e que estão afrouxando a ânsia golpista; são professores corajosos e decentes que estão a denunciar esse velho estratagema das elites nacionais e internacionais contra esta sofrida pátria.
Mas o que estamos defendendo? O governo Dilma? Olha... Agora é pra gente inteligente, gente de sensibilidades sutis e profundas; que faz leituras nas pedras ou aprende com as nuvens e com os ventos; que sabe que os olhos dos velhos trazem lições e ensinamentos e que as gargalhadas das crianças inspiram lutas e poesias.
Todo mundo sabe que o governo Dilma é ruim, fraco e debilitado; governo de rico, pra rico e muito distante da população, mas mesmo assim... Que obteve mais de cinquenta e quatro milhões de votos; que foi eleita com o meu voto, com o voto de milhões e milhões de brasileiros e brasileiras e que, segundo a lei, é a vencedora. Por isso deve dar prosseguimento ao seu governo.
Ao fim, a população é sabedora. Ela sabe exatamente quem vai se ferrar em caso do retorno de governos neoliberais, militares ou neo-militares; ela, a gente do povo, sabe exatamente, quem vai ser assassinado em calabouços; quem vai ser estuprado e executado; o povo sabe e nós sabemos quem serão os desaparecidos, os mutilados, os que serão lançados ao mar.
A população sabe quem vai virar cadáver em caso de mais golpeamento. São os mesmos que viram cadáveres na saúde púbica, no transporte urbano, na violência do bairro ou no assassinato sistemática da juventude negra do país. Nós sabemos!
Ora, ora... Serão os pobres; os pequenos, os menores. Defender a democracia, e que, de fato, e ao fim, só interessa aos mas pobres, porque rico está pouco se lixando pra tal da democracia, é impedir que os horrores tão comuns na história brasileira, retornem com mais força; é garantir que o horror econômico neoliberal não volte nunca mais ao cotidiano do país e que tenhamos mais escolas, mais hospitais, mais praças com flores e poesias, mais universidades, mais empregos, mais dinheiro no bolso do povão e mais liberdade.
Não vai ter golpe porque novos atores, no dizer de Éder Sader, entraram em cena e quando novos atores se achegam, se acomodam e miram no que dever ser mirado, o roteiro da peça, bem como a performance dos atores é integralmente alterada.
E vai ser muito bom, vai ser delicioso ver essa gente negra, cabocla, boa de samba, carnaval, catira e forró dando um basta na sanha dessa oligarquia nefasta e que, atrevidamente, insiste em se dizer brasileira. Venceremos!

(Ângelo Cavalcante, economista, cientista político, doutorando (USP) e professor da Universidade Estadual de Goiás, campus Itumbiara)

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