Home / Opinião

OPINIÃO

Poluição assassina

A Organização Mundial da Saúde alerta: a poluição do ar pode ter sido responsável por mais de 3 milhões de mortes em nosso planeta, somente no ano passado. Estudos científicos têm indicado consistentemente que a poluição está relacionada a várias doenças graves, pulmonares (até câncer de pulmão), cardiovasculares etc. Mas, desta vez, um relatório extenso da OMS conseguiu comprovar a correlação significativa entre a intensidade da poluição do ar e o aumento progressivo do número de óbitos na população em vários países do mundo.
Além da óbvia e amplamente divulgada poluição ambiental causada por indústrias e veículos automotores, o relatório confirma que grande número desses óbitos é devido à poluição doméstica. Em regiões de limitadas condições econômicas, como na Índia, em Bangladesh e no interior da China, o uso de fornos caseiros e carvão para cozinhar, esquentar água ou aquecimento domiciliar está relacionado com elevadas taxas de morte precoce.
Um estudo multinacional, realizado em conjunto por cientistas do Instituto Max Planck de química atmosférica, do Centro Cipriota de Pesquisa em Energia, Ambiente e Água, e da Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard, e liderado pelo doutor Jos Lelieveld, foi publicado na prestigiosa revista científica Nature. Esse estudo utilizou um modelo químico atmosférico global para avaliar a conexão entre mortalidade prematura e diferentes fontes de emissões, tanto em regiões urbanas quanto rurais de vários países.
Estimam os pesquisadores mais de 3,3 milhões de óbitos por ano, predominantemente na Ásia. Naquela região do Sudeste Asiático, a queima de combustíveis de baixa eficiência ou madeira para aquecimento e para cozinhar é a fonte mais importante de poluição. Nos Estados Unidos e na Europa Ocidental, a poluição oriunda das emissões de veículos e da indústria é responsável pela maioria das mortes prematuras. No Oriente Médio e no Norte da África, as tempestades de areia são uma fonte dominante de partículas no ar ambiente.
Os autores do estudo alertam para a gravidade desses dados, e as estimativas nada otimistas são de que dobre o número de óbitos causados pela poluição até 2050. Lelieveld sugere que as políticas de combate à poluição atmosférica devem ser estabelecidas de forma individualizada, levando em consideração a cultura e as práticas locais ou regionais. Reflete o cientista de que não basta ter tecnologia disponível. As nações precisam convencer a população rural, principalmente a abandonar práticas tradicionais de uso de combustíveis.
As mulheres pobres e as crianças que crescem nessas regiões desprovidas e marginalizadas sofrem intensamente os efeitos nocivos da poluição domiciliar. Numa era de zika, nossas autoridades de saúde não podem relaxar contra o galopante perigo da poluição ambiental. O professor Paulo Saldiva, pioneiro em tal pesquisa no Laboratório de Poluição Atmosférica da Faculdade de Medicina da USP, também enfatiza o impacto extremamente nocivo da poluição nas grandes cidades brasileiras. “A mortalidade entre mulheres e crianças brasileiras pelos efeitos da poluição atmosférica está em níveis escandalosos.” Seu controle é imperativo e urgente.

(Riad Younes, médico, diretor clínio do Hospital Sírio-Libanês e professor da Faculdade de Medicina da USP - Texto originalmente publicado na CartaCapital)

Leia também:

  

edição
do dia

Capa do dia

últimas
notícias

+ notícias