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OPINIÃO

Quem são os idiotas?

Podemos ser idiotas e não saber. Digo mais: muitos querem ser. Para entender quem são os idiotas é necessário mergulhar mais fundo na origem da palavra. Originado do grego antigo o “idhiótis” ou “idiotés” era um cidadão privado, individual; mas não se engane, o idiotés não era um indivíduo que operava na autonomia, militando contra a massificação de ideais.
Na pólis grega, o termo era usado depreciativamente para referir a quem recusava a vida pública. Ao negar a própria vontade deixavam-se representar por outrem. O destino da cidade ficava a cargo dos outros. Permitamos o peso do nosso mundo às costas de Atlas. Abandonemos a responsabilidade, tomamos a forma dos idiotés.
Vemos inúmeros idiotas em nossa democracia representativa se submetendo a caricatura de pantomineiros. Passamos a responsabilidade. Lavamos as mãos no nosso próprio sangue, como se selássemos um pacto de isenção de culpa: essa culpa não é minha! Será mesmo? Não sejamos idiotés. Há quem diga que política não se discute, infeliz afirmação, política se discute sim, se aprende e se transforma.
Não posso generalizar, sabemos que muitos ainda lutam por dias melhores, assumem suas responsabilidades. Quiçá estamos aprendendo. Ainda há esperanças aos que manifestam, aos que consolidam em seus concidadãos a coragem e o amor à pátria. Quisera eu que, ao lado de nossos representantes, sentíssemos o gosto do bem comum. Quisera eu que meus compatriotas fossem não somente livres das garras da idiotice, mas dignos dessa liberdade.
Não sabemos a força que possuímos, nem tão pouco a eficácia que teríamos caso participássemos mais da nossa política. Os idiotas transferem suas forças aos representantes, escolhidos a dedo em meio a uma escuridão quase palpável. Alimentam o Leviatã. Tornamo-nos súditos e ele o soberano, amamos seu veneno. Somemos as nossas forças, lutemos. O Leviatã veste a vontade do povo, devora a responsabilidade que lhe foi cedida, vomita uma crise, e ri. Quem lhe resistirá à frente? Quem ousou desafiá-lo e ficou ileso? Ninguém debaixo do céu.

(Eder Carneiro, escritor)

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