Home / Opinião

OPINIÃO

Primeiro supermercado que só vende comida “vencida” já é realidade

Loja em Copenhague vende laticínios, carnes, frutas, vegetais, pães e alimentos congelados que já passaram data de validade

O Wefood foi inaugurado na capital Copenhague (2016), pela princesa Marie e a ministra do Meio Ambiente e Alimentação, Eva Kjer Hansen. A iniciativa é de uma ONG dinamarquesa; a ideia é combater o desperdício. A ONU calcula que pelo menos um terço dos alimentos produzidos no mundo é jogado fora a cada ano.

"Todos os dias, mais de 800 milhões de pessoas no mundo vão dormir com fome. Ao mesmo tempo, só na Dinamarca cerca de 700 mil toneladas de alimentos por ano vão para o lixo", disse à BBC Brasil o dinamarquês Per Bjerre, da ONG responsável pelo Wefood, a Folkekirkens Nødhjælp.

É talvez o primeiro supermercado do gênero no mundo, diz Bjerre - que faz questão de destacar que não se trata de um "supermercado social", destinado a pessoas de baixa renda.

"Os clientes são de várias camadas da sociedade, e têm em comum o desejo de comprar produtos a preços substancialmente menores e combater o desperdício de alimentos. Além, talvez, do desejo de lutar contra a pobreza, que está entre os motivos da abertura do Wefood."

O interesse dos dinamarqueses pela novidade já é, segundo Per Bjerre, evidente.

"Vendemos praticamente todo o nosso estoque no primeiro dia de funcionamento", disse ele. "E há filas do lado de fora do supermercado antes de abrirmos as portas."

Com um espaço de 250 metros quadrados, o novo supermercado oferece uma variedade de produtos que inclui laticínios, carnes, frutas, vegetais, pães e alimentos congelados que já ultrapassaram a data de validade recomendada nas embalagens. Os preços são entre 30 a 50 por cento mais baixos em comparação ao que é cobrado nos supermercados tradicionais.

Para suprir as prateleiras, o Wefood opera em cooperação com duas das maiores cadeias dinamarquesas de supermercado, a Føtex e a Danske Supermarked, além de mercados locais.

"E estamos buscando mais fornecedores", diz Per Bjerre.

Todos os funcionários do Wefood trabalham de forma voluntária, e os lucros serão destinados a projetos de combate à pobreza conduzidos pela ONG Folkekirkens Nødhjælp em regiões como a África e a Ásia.

O trabalho dos voluntários cumpre uma função essencial. "Quando há frutas já em vias de apodrecer em uma caixa, é mais barato para os supermercados jogar toda a caixa fora, em vez de gastar tempo selecionando as frutas boas e ruins. Mas os voluntários do WeFood fazem esse trabalho com prazer", disse Bjerre.

Entre as razões apontadas para o desperdício mundial de alimentos, estão as condições inadequadas de armazenamento - e também a adoção de prazos de validade demasiadamente rigorosos.

"Ainda existem regras e barreiras que tornam difícil distribuir alimentos com prazos de validade vencidos", destacou a ministra dinamarquesa do Meio Ambiente durante a inauguração do Wefood, observando que pretende discutir a questão no âmbito da União Europeia.

"É ridículo jogar comida fora e é prejudicial ao meio ambiente, já que implica em desperdício de recursos como água e energia, necessários à sua produção. O Wefood é um passo importante na batalha contra o desperdício de alimentos", concluiu Eva Kjer Hansen.

Financiamento coletivo

A ideia do supermercado foi resultado de um projeto que levou um ano para ser concretizado, e que foi viabilizado através do sistema de financiamento coletivo conhecido como crowdfunding.

A coleta de doações reuniu um milhão de coroas dinamarquesas (cerca de US$ 145 mil). A fim de superar obstáculos legais para a venda de produtos com prazo de validade vencido, a ONG Folkekirkens Nødhjælp trabalhou junto a políticos dinamarqueses para mudar as regras. Só depois disso, o supermercado pôde abrir as portas.

O Wefood é mais uma iniciativa deste país que, nos últimos cinco anos, conseguiu reduzir em 25% o desperdício de alimentos. A empreitada, liderada por ONGs dinamarquesas como a Stop Spild Af Mad ("Pare o Desperdício de Comida", em tradução livre), inclui campanhas de conscientização dos consumidores e palestras em escolas para chamar a atenção para o valor - tanto financeiro como ambiental - de comprar produtos com datas de vencimento prestes a expirar.

Cada vez mais, os dinamarqueses buscam nas prateleiras dos supermercados esse tipo de produto, que é vendido com desconto.

Reduzir o desperdício de alimentos também se tornou uma estratégia central dos principais supermercados da Dinamarca para aumentar a competitividade. Reportagem da TV dinamarquesa mostrou recentemente que produtos de preço reduzido, com data de validade a ponto de vencer, têm "voado" das prateleiras - nos últimos anos, o supermercado Dansk Supermarked, pioneiro dessa estratégia, passou a jogar fora 50% menos pães, e entre 10% e 20% por cento menos frutas e vegetais.

"Parece pouco, mas faz uma grande diferença. E nossos clientes apreciam isso", disse na TV dinamarquesa Maja Lindstrøm Sejersen, porta-voz do Dansk Supermarked.

Conter o desperdício é vital: projeções da ONU indicam que a população mundial deve chegar a 9,5 bilhões de pessoas até 2075 - o que vai significar três bilhões a mais de pessoas para alimentar, em um mundo onde milhões já passam fome agora. Fonte - BBC

De acordo com um estudo realizado pela FAO – a Agência da Organização das Nações Unidas que se dedica à Alimentação e à Agricultura - um estudo feito em 2013 apontou que um terço dos alimentos produzidos no mundo é desperdiçado. Ao passo que milhões de pessoas ao redor do mundo passam fome ou necessidades alimentares mínimas.

No caso do Brasil, o desperdício chega a 40 toneladas por dia, conforme dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, a Embrapa.

O estudo da FAO mostra que mais da metade dos alimentos desperdiçados são perdidos em uma dessas fases produtivas: na própria produção, na manipulação após a colheita e na armazenagem  e por fim nas prateleiras em supermercado. O que sobra se perde no processamento, na distribuição e no consumo. Daí conclui-se que quanto mais tarde os produtos são perdidos na cadeia alimentar, maior a consequência danosa para o meio ambiente. Isso se evidencia quando se olha o custo inicial da produção: basta somar os custos de processamento, transporte e armazenamento.

A Embrapa estima que a quantidade desperdiçada de alimentos por ano no país seja suficiente para saciar a fome de aproximadamente 19 milhões de habitantes. Dezenove milhões de pessoas que poderiam ser alimentadas diariamente.

Um filé de salmão perfeito vai para o lixo simplesmente porque se passaram alguns dias da data de validade – muita gente já se viu nessa situação. Segundo Rose Prince, do site do jornal Daily Mail, milhões de toneladas de comida e bebida são desperdiçadas por ano – 19% de tudo o que se compra – sendo que a maioria poderia ter sido comida.

De um modo geral, os produtos são comestíveis depois da data de validade – basta usar o bom senso, os olhos, mãos e nariz para determinar o que passou da conta. Veja algumas dicas de alimentos que podem ser consumidos depois do vencimento.

Veja a lista dos alimentos que podem ser consumidos depois de ultrapassarem a data de validade:

Batatas fritas: cerca de 10 tiras de batata frita caseira tem aproximadamente 171mg de sal, valor que aumenta significativamente quando são batatas embaladas. O sal ajuda na conservação do produto.

Chocolate:  este alimento proveniente do cacau, sofre diversas modificações até chegar a casa do cliente. Uma delas é a introdução de manteigas e açúcares que ajudam a preservá-lo, durante algum tempo depois de ultrapassada a data de validade.

Ketchup: dura mais um ano após a data inscrita na embalagem, quando guardado num local seco e fresco.

Iogurte: depois da atingir a validade, pode durar mais seis semanas. Depois disso é possível ingerir a parte do iogurte que fica por baixo na embalagem.

Ovos: um bom teste para comprovar se esta fonte de proteínas está ou não boa para consumo é colocá-los numa bacia com água. Se o ovo flutuar significa que está a acumular bactérias e gases no interior, se afundar é porque está em ótimo estado para consumir.

Pão: alimento muito consumido na dieta mediterrânica, é um desperdício deitá-lo fora. Quando está duro pode sempre ser aquecido no forno ou usado numas rabanadas, e desde que não tenha muito bolor pode sempre ser aproveitado.

Arroz: depois de meses, e até anos, este cereal continua ainda bom para consumo.

Frutas e vegetais: o senso comum pode ser aplicado também às frutas e vegetais. Se não está podre nem muito mole está bom para ser ingerido.

(André Júnior, membro UBE - União Brasileira de Escritores - Goiás - [email protected])

Leia também:

edição
do dia

Capa do dia

últimas
notícias

+ notícias