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OPINIÃO

República da baderna

O Brasil é intitulado o país do amanhã. Só que este amanhã parece que nunca vai chegar. O sofrido povo brasileiro, que já enfrentou os horrores da hiper-inflação, seguida dos congelamentos dos preços, falta de mercadorias nas prateleiras dos supermercados e logo após o terrível confisco do Plano Collor, vive hoje a pior crise política e econômica da nossa jovem República.

Vemos hoje ameaçados os pilares da nossa democracia, fundamentada sob a independência dos Três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), cuja autonomia vem sendo testada num ritmo preocupante. É hora do Executivo escutar a voz das ruas e reduzir o tamanho de sua estrutura e dos seus gastos, ao invés de querer aumentar a nossa já pesada carga tributária para sustentar seu gigantismo paquidérmico.

Foi dito na semana passada pelo Ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que para cumprir a meta fiscal pode haver aumento de impostos. São tributos pouco revertidos para o contribuinte, visto que serviços públicos básicos não são entregues e os desvios que eliminam qualquer tentativa de se ter uma gestão eficiente estão sendo trazidos à luz do dia num ritmo inédito.

Temos um Legislativo que não fica atrás, demorando quase uma década para aprovar um projeto de lei, e um Judiciário extremamente caro e ineficiente, que acumula pilhas de processos a serem julgados sabe-se lá quando. Um Judiciário que também está contaminado por uma suposta onipotência que permite que ideias esdrúxulas, como a anistia ao caixa 2 em campanhas políticas, medida ventilada recentemente por um ministro da Suprema Corte.

Se algo assim realmente se concretizar, os empresários que cometeram a mesma prática também estarão anistiados? Poderemos então decretar o regime de baderna? A cada dia fica mais evidente a separação entre um Brasil que paga e um que gasta, sendo que este último se esconde em uma poderosa armadura chamada foro privilegiado.

É evidente que o país precisa passar por reformas essenciais e urgentes, como a da Previdência e a revisão das leis trabalhistas, mas temos por um lado uma discussão puramente ideológica, sobre o papel assistencialista do Estado, sem apego à realidade dos números que apontam para a falência do nosso País caso a Previdência não seja reformada, além do atraso do setor produtivo se mantermos leis ultrapassadas e deslocadas da realidade das relações de trabalho.

Armar um Fla x Flu político nestas discussões essenciais sem se apegar à razoabilidade dos argumentos técnicos, como tem feito partidos como o PT, é jogar contra o futuro do nosso País para obter dividendos político-eleitorais. Lembrando que as divisões que o lulopetismo criou para justificar suas bandeiras políticas são todas falsas: brancos X negros, sul X norte, empregador X empregado. Somos todos brasileiros e precisamos uns dos outros para fazer avançar nossa nação, oferecendo oportunidades e condições dignas para todos.

Mas temos que ficar atentos. Enquanto as reforma fundamentais são alvo de ferrenhas discussões, na penumbra dos corredores de Brasília alguns agentes políticos armam um golpe maior à nação. Querem anistiar o caixa dois, anular as delações decorrentes da Operação Lavajato e instituir a votação por lista fechada, uma forma maravilhosa dos corruptos conseguirem se perpetuar no poder sem enfrentar a população na hora da eleição, pois o voto não será mais nominal.

Está na hora do povo brasileiro impor suas vontades aos políticos, que nada mais são do que representantes do povo. Não podemos deixar que os protestos que tomaram as ruas recentemente desapareçam enquanto reclamamos dos desmandos dos nossos representantes nos sofás das nossas casas, onde somos ouvidos somente pelas paredes. Temos que forçar a chegada deste prometido amanhã para o mais breve possível. Está na hora do Brasil que gasta ouvir o que paga.

Romildo Machadinho, pecuarista e diretor da Associação dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB)

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