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OPINIÃO

O super governador

Quando Marconi Perillo venceu sua primeira disputa para o governo de Goiás, na eleição de 1998, contra o então imbatível Iris Rezende, o PMDB e seus aliados desdenharam um monte, e creditaram a surpresa eleitoral como acidente de percurso, uma zebra. O governo daquele jovem deputado federal seria um desastre tão grande que os candidatos peemedebistas seriam aclamados pela população de Goiás em 2002, previam.

O tempo passou, a eleição chegou a Marconi liderou um grupo bem maior como candidato a reeleição. Ele não venceu somente, mas despachou os opositores logo no primeiro turno. De quebra, ajudou decisivamente na eleição dos dois candidatos ao Senado, a então deputada federal Lúcia Vânia e o estreante procurador de Justiça Demóstenes Torres, além da maioria dos deputados federais e estaduais. A previsão dos peemedebistas só funcionou num ponto: a eleição foi quase uma aclamação realmente. Mas de Marconi e seu grupo.

Os planos dos peemedebistas foram adiados para 2006, quando a base aliada não poderia mais contar com a candidatura de Marconi ao governo. No papel, a coisa realmente estava bem desenhada. Vitória fácil do candidato do PMDB contra um então vice-governador quieto e discreto, Alcides Rodrigues. Aliás, o vice era tão desconhecido que seu nome foi modificado sem maiores problemas. Saiu o Cidinho, como se tornou conhecido em sua cidade, Santa Helena, e surgiu o Alcides Rodrigues. O PMDB foi com seu melhor e mais popular candidato na época, Maguito Vilela, e ainda tinha Iris Rezende como prefeito de Goiânia. Ou seja, era “viola no saco” pa­ra a turma do Tempo Novo, de Mar­coni. Mas esqueceram de combinar com o eleitorado. Marconi disputou e venceu para o Senado e ainda car­regou o candidato ao governo até as escadarias do Palácio das Esmeraldas.

De todas as disputas, a melhor chance para o PMDB surgiu em 2010. O Tempo Novo deixou de existir durante a gestão de Alcides, que rompeu com o parceiro logo depois de tomar posse no cargo. A Prefeitura de Goiânia estava com Iris, que a deixou sob aliança com o PT, que também comandava Brasília com o ex-presidente Lula. Tudo somado, Marconi estava brutalmente isolado pelas máquinas administrativas em todos os níveis, federal, estadual e da capital, além das duas maiores cidades do interior, Aparecida e Anápolis. A confiança na vitória era tamanha que Iris abandonou o restante de mandato de prefeito e o Palácio das Esmeraldas bancou Vanderlan Cardoso na eleição. Deu Marconi, nos dois turnos.

Os dois primeiros anos desse terceiro mandato foram terríveis. Em 2011, Marconi começou com folhas de servidores atrasadas, estradas há muito sem conservação e milhares de concursados aguardando serem chamados. Em 2012, quando começava a se recuperar administrativamente, veio a tempestade da CPMI criada pa­ra pegar Demóstenes Torres, o mais ar­ticulado antipetista do Congresso até então, desviou-se para acertar também Marconi Perillo. Em seu livro, “As­sassinato de Reputações”, Romeu Tuma Júnior diz que Marconi se tornou alvo por causa de Lula, que o via como principal desafeto por causa do mensalão.

Mais uma vez, o PMDB julgou que Marconi e seu grupo estava no fim, e que isso seria decretado nas eleições de 2014. E mais uma vez o diagnóstico peemedebista estava errado. Marconi venceu os dois turnos novamente, e saiu das urnas com a maior base de sustentação desde 1998.

O que vem agora?

Esse histórico mostra exatamente que o grande problema até hoje do principal partido de oposição ao grupo governista comandado por Marconi Perillo é se basear em bandeirolas passageiras e não em formatação de ideias de governo que possam funcionar como alternativa para escolha do eleitor. E esse erro crasso está em curso mais uma vez, para 2018. O PMDB, que trocou de parceiro — saiu o PT e entrou o DEM, do senador Ronaldo Caiado —, avança para o calendário eleitoral muito mais preocupado com o nome a ser apresentado para a disputa do que em torno de ideias que possam embalar essa pretensão eleitoral. Pode ser que funcione, mas igualmente pode dar tudo errado de novo.

No exato oposto dessa mesmice peemedebista, Marconi Perillo continua se reinventando e renovando o discurso da base aliada estadual. A maior virtude dele enquanto líder de um grupamento é seu total desapego político a preconceitos. Que se pergunte ao mais popular peemedebista neste momento, o ex-prefeito Maguito Vilela, sobre o tratamento que ele encontrou no governo estadual, e isso será confirmado. E, não só. Marconi estendeu a mão até para aquele que é considerado pelo mundo político estadual como seu maior adversário, Iris Rezende, e avaliou apoiar o peemedebista em seu plano de voltar a ser prefeito de Goiânia, no ano passado.

Esse tipo de ação aberta acaba fa­zendo uma enorme diferença. O mais novo programa do governo, o Goiás na Frente, é exatamente essa renovação constante, a ebulição permanente de novas formatações político-administrativas. O programa vai se estender em parcerias com todas as cidades do Estado, independentemente do partido que o prefeito está filiado. Essa visão municipalista surpreendeu a cúpula do PMDB, que tem se preocupado apenas com o nome de seu futuro candidato. E isso é muito pouco para se oferecer como alternativa para avaliação do eleitor em 2018.

(Victor Hugo de Lima Bastos Mendes, acadêmico de Direito)

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