O clima festivo e fraternal de fim de ano nos motiva a externar os sentimentos que nutrimos por amigos e familiares. Mas nem todos estão acostumados ou mesmo preparados para manifestar o amor que sentem pelos entes queridos, de forma sincera e espontânea.
Essa realidade me faz recordar a história de um menino que, estando muito doente, definhava dia após dia num leito de hospital. Pelo que se comentava, seus pais nunca lhe haviam dado a necessária atenção, o necessário calor. Num certo momento, sua mãe perguntou ao médico por que aquele filho estava assim, morrendo aos pouco.
– Por causa do marasmo, disse-lhe ele.
– Que é isso?, ela quis saber.
– Marasmo é melancolia, tristeza profunda, é o desgosto pela vida – explicou o médico, adicionando – seu filho está morrendo por falta de amor.
A expressão do afeto, do calor, do carinho é algo muito precioso na convivência humana. Mas é preciso que a pessoa tenha aprendido a fazer isso.
Conheci um pai que, sendo muito seco no trato com os filhos, justificava-se dizendo: “Fui criado sem nenhum beijo ou abraço. Nunca meus pais me disseram que gostavam de mim. Só xingavam. Minha mãe dizia que beijo é coisa má, pois foi com um beijo que Judas traiu Cristo.”
São as crendices e superstições como esta que esfriam o peito, que matam os sentimentos e dificultam, inclusive, a manifestação do amor dos pais aos filhos.
Transportemos essa imagem para o nosso dia-a-dia e perguntemos a nós mesmos, neste oportuno fim de ano deste conturbado 2017: “Existem nesta terra pessoas que amamos? Se existem, temos mostrado a essas pessoas – no dia-a-dia, momento após momento, com palavras e ações – que nós a amamos?”
Isso é de uma importância enorme. Quem sabe expressar seu afeto, seu carinho, é o primeiro beneficiado. É alguém muito mais feliz do que aqueles que não aprenderam a fazer isso. Mas a expressão dos sentimentos beneficia também os demais. Quem, acaso, não gosta de conviver com alguém que sabe transmitir o calor da amizade, do companheirismo, do amor?...
Hoje em dia, os sentimentos estão ficando muito calados. Encontrar nos diversos ambientes uma pessoa realmente afetuosa, que sabe expressar com soltura seus sentimentos, é algo que se vai tornando uma raridade.
Numa boa parte, as pessoas têm vergonha de mostrar carinho aos filhos. É que elas também foram criadas assim. O que fazer, então?
A ciência logosófica ensina o ser humano a desenvolver seu sistema sensível, dedicando atenção muito especial aos sentimentos. Ensina a conhecer cada um deles, a cultivá-los, a mantê-los vivos através do tempo, a expressá-los às pessoas queridas, a manifestá-los com liberdade interna. Mostrar para as pessoas queridas o quanto gostamos delas é algo que vale a pena aprender.
(Dalmy Gama, escritor, professor, docente de Logosofia)