O mundo seria maravilhoso se o homem se libertasse da inveja, da maldade e do ódio. Jesus quebrou o sistema bancário na feira em Nisã porque a prática mercantilista centrada no lucro fácil nos torna cada vez mais egoístas, mesquinhos e sem amor ao próximo. A humanidade continua mergulhada na longa noite que transformou Jesus em sócio de mercado. Os milagres acabaram depois que as igrejas se aproximaram do Seu poder para dele se beneficiar. A bondade materializada no saco de brinquedo de um Papai Noel de face carmesin visitando lares e se confraternizando com a humanidade, amargura o coração do mestre da vida que se imolou por amor aos seus filhos. O verdadeiro amor ao próximo é o que Ele quer sentir em cada coração pelos refrões das músicas natalinas neste Natal que refulge os tesouros do Seu coração – a riqueza do reino de Deus. O rosto das pessoas estampando sincera alegria no brilho da magia natalina que simboliza o Seu amor à humanidade, se abraçando e se confraternizando, é o que Ele idealizou para todos nós. Este foi o sonho do mestre que ardentemente desejou um mundo sem mercados, sem vitrines e sem bazares enfeitando prateleiras com embrulhos mercenários e atraentes. Existe, sim, em Seu coração, um Natal, mas é o Natal do amor, da compaixão, da bondade, da pureza e da inocência. Não existe em cristo, o Natal da espúria confraternização, do fácil elogio, da mentira explorando a figura do velhinho sempterno, generoso e de largo sorriso. A humanidade eclipsou a veradeira imagem do Papai Noel, porque esvaiu dos seus corações, o amor que Ele jorrou em torrentes de água viva a cada um de seus filhos quando foi crucificado no gólgota. A sua imagem no fogo das sarças simboliza o Seu ardente amor divino à humanidade, amor este hoje renegado pelo volúpia enganosa do enriquecimento fácil, da ânsia cifronária, do despurado sonho de Midas, de avarentos Tio Patinhas agarrados em cofres e piscinas de ouro reluzentes. “Junte tesouros dos céus, que a traça não come”, ensinou ele. “Os tesouros do céu” são as nossas virtudes, as melhores capacidades, porque estas não podem ser tiradas da gente. A humanidade engendrou máquinas feéricas alcançando distâncias incomensuráveis sob o signo da civilização mas se perdeu na gelidez dos apertos de mãos, no deserto dos lucros egoístas e hipócritas. A profusão dos lucros auferidos não acendem as estrelas nos olhos dos nossos próximos, não orquestram verdadeiros sentimentos humanos nas batidas dos corações sem amor espontâneo – como faróis apagados na amplidão do vácuo, apagam-se no brilho fácil da fraternidade e do sentimento ao próximo. Natal é tempo de deixarmos renascer em nós, a pureza das crianças, o espírito dos verdadeiros cristãos que não atendiam os seus semelhantes em balcões com a volúpia dos juros e correções monetárias. Que neste natal renasça em casa um de nós, a beleza, a justiça, a fraternidade e a bondade, escondidas nos desertos das almas que secaram sem o infinito amor de Jesus em seus corações.
(Edvaldo Nepomuceno, escritor)