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OPINIÃO

Direta ao ponto

Quando soube que seria pai de uma linda garotinha, o Neto nem imaginava a energia e disposição da peque­na Camile. Com um vigor surpreendente, a menina de ra­ciocínio afiado e inteligente não deixa nada passar batido. Deixa o pai até meio tonto com tanta informação e vontade de fazer as coisas. Com dificuldade, ele tenta acompanhar – e cansar a filha.

A geração do Neto procura se equilibrar entre trabalho e a vida doméstica com empenho. Ele próprio procura se dedicar com zelo à família, fazendo-se presente em todas as atividades e acompanhando o desenvolvimento da fi­lha com atenção. Quando Camile nasceu, por tradição ou cultura, pensou que seria uma mocinha à moda antiga. Foi pego de surpresa ao notar que ela tem uma disposição que o botava no chinelo.

Tenho que colocar mais atividades na vida da Cami­le, mãe.

Ela é espertinha, né?

Fico impressionado. Ela não cansa.

Criança é assim.

Não igual a ela. Chego pregado do trabalho e quan­do vejo estou brincando de casinha. Ela também é genio­sa. Teima e nem sempre me obedece. Ameaço corrigi-la no cinturão, mas não tenho coragem para isso.

Faz parte, meu filho.

Preciso pensar em algumas atividades a mais para que ela fique mais tranquila. Ela tem energia demais. O que você sugere, mãe?

Tente natação e balé.

Será que funciona?

Criança precisa gastar energia. Importante ter contato com artes e alguma atividade física.

Assim o Neto fez. Contratou aulas de balé e natação. En­volveu a filha em atividades culturais, como pintura e mú­sica. Colocou na escolinha. Mas, aos cinco anos, Camile é uma força da natureza. Continuava com a mesma disposi­ção ao final do dia, independentemente da quantidade de situações que tivesse experimentado ao longo do dia. O pai ficava pregado.

Matutando sobre o assunto, Neto percebeu outra coisa: quanto mais estimulava a filha, mais esperta ela se torna­va. O raciocínio de Camile era imediato. Não se contenta­va com pouco. Se fazia uma pergunta, teria de receber uma explicação detalhada, senão o pai não teria sossego. Resul­tado: além de energia de sobra, não faltavam à filha argu­mentos para tudo.

Mãe, a Camile anda me botando no bolso.

Minha netinha é muito inteligente.

As aulas não estão resolvendo. Ela não cansa.

Meu filho, tenha paciência. Ela é uma criança prodí­gio. Neto tentava. Mas ficava completamente desnorte­ado com a perspicácia de Camile. Aos poucos, desistia de cansar a filha. Passou a resignar-se diante do próprio cansaço e a curtir os momentos domésticos da melhor maneira. Descobria maravilhado o quanto a menina era inteligente. Por outro lado, tinha dificuldades em botar­-lhe freios. Nem sempre ela lhe obedecia. Isso deixava-o doido. Sempre respirava fundo para não botar bronca e evitava qualquer palmada.

Dias atrás, exausto do trabalho e atrasado para uma fes­tinha, tentava se arrumar para sair com a família. Cami­le não lhe deixava sossegado. Perguntava-lhe tudo sobre tudo. Meio desorientado com tanta informação e correndo contra o relógio, percebeu, já dentro do carro, que a calça lhe folgava. A filha não teve rodeios.

Papai, o senhor não está com cinto.

Eu me esqueci de colocar, filha.

Percebi, papai.

Mas não se preocupe. Ninguém vai notar.

Eu sei, mas se o senhor precisar, eu estou de cinto.

Filha, acho que não vai servir em mim.

Papai, deixa de ser bobo. O senhor pode usar o meu cinto se precisar me educar...

(Victor Hugo Lopes, jornalista)

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