Home / Opinião

OPINIÃO

Fuzuê no velório de um “defunto morto”

Se­nhor De­le­ga­do.

O Jo­a­quim mor­reu.

Mas an­tes de mor­rer ele ti­nha ar­ran­ja­do du­as mu­lhe­res.

A ou­tra sa­bia da uma.

Mas a uma não sa­bia da ou­tra.

Jo­a­quim mor­to, foi lá a ou­tra ver­ter o seu do­ri­do pran­to jus­to na ca­sa e na ca­ra da uma. De­sa­fo­ra­da...

Ah! Lá nin­guém me co­nhe­ce mes­mo...

Vão achar que eu sou ami­ga da vi­zi­nha

da tia do ir­mão de um pri­mo de se­gun­do grau

do Jo­a­quim... e pron­to.

Fi­ca tu­do por is­so mes­mo.

Eu vou.

E foi.

Me­teu-se num ves­ti­do que não cha­mas­se mui­ta aten­ção e en­trou de fi­ni­nho. Mui­ta gen­te pe­los can­tos a cho­ra­min­gar. Ca­da um mais des­con­so­la­do que o ou­tro. Ou­tros, por ou­tros e mais dis­cre­tos can­tos, a ba­ter pa­po fu­ra­do. Ou­tros mais até con­tan­do pia­das a bo­ca-pe­que­na pra pas­sar o tem­po... de um ve­ló­rio tão com­pri­do. Ma­nia que to­do mun­do tem de fi­car co­zi­nhan­do de­fun­to...

D’en­tre es­tes, a ou­tra.

No meio da sa­la, o Jo­a­quim.

Du­ro.

Frio.

Es­pi­cha­do e bem ves­ti­do. Com des­ve­lo e mui­to

ca­ri­nho, bem ar­ru­ma­di­nho nu­ma im­bu­ia de se­gun­da.

O pran­to lí­ci­to, le­gal, le­gí­ti­mo, mo­ral e na­tu­ra­lís­si­mo da uma bem jun­ti­nho do Jo­a­quim es­pi­cha­do no meio da sa­la, fa­zia-se ou­vir por to­do o quar­tei­rão.

- Bu­á­a­aa!... Bu­á­á­áá!... Bu­á­á­áá!...

A ou­tra che­gou, deu al­gu­mas olha­das de sos­laio, e de fi­ni­nho foi tam­bém pra

jun­to do mes­mo Jo­a­quim. E lá, bem no meio da sa­la, pu­se­ram-se  as três:  a uma, a ou­tra, e a im­bu­ia.

A uma, de cá. 17

A ou­tra, de lá.

A im­bu­ia, no meio, guar­dan­do o Jo­a­quim.

E to­ma ber­rei­ro da uma:

- Buá!... Buá!... Buá!... Buá!...

Tão do­ri­do e co­pi­o­so pran­to hou­ve tam­bém de, tan­to quan­to, co­mo­ver a ou­tra. Foi lá no fun­do do co­ra­ção, su­biu aos olhos e... fe­chou her­me­ti­ca­men­te a bo­ca e...  abai­xou a ca­be­ça e... fe­chou os olhos e... não agüen­tou. As com­por­tas se abri­ram e as águas ro­la­ram. Foi mais for­te do que ela. Ta­di­nha...

- Bu­é­é­éé!... Bu­é­é­é­éé!... Bu­é­é­éé!...

Mas que coi­sa, gen­te?!...

É. Afi­nal, ela tam­bém ti­nha os seus di­rei­tos, pois não...?

E tan­to cho­rou que a uma foi fi­can­do des­con­fi­a­da.... Trem es­qui­si­to, uai... quem é es­ta ou­tra­zi­nha que gos­ta­va tan­to as­sim do meu Jo­a­quim...? Não é ir­mã, não é mãe, não é fi­lha. En­tão... se­rá que aque­la fo­fo­ca da Te­re­zi­nha ti­nha mes­mo al­gu­ma ver­da­de...?

Era o que, à me­mó­ria, per­gun­ta­vam os pen­sa­men­tos da uma do Jo­a­quim, lem­bran­do-se do que há tem­pos ha­via lhe di­to, no pé do ou­vi­do, aque­la Te­re­zi­nha.  De­ci­diu con­fe­rir, fa­zen­do tor­ci­da pa­ra que fos­se mes­mo men­ti­ro­sa, tal Te­re­zi­nha. Es­ten­deu o bra­ço por ci­ma da ca­ra-de-pau do Jo­a­quim e, prin­cí­pio, res­pei­to­sa e ca­ri­nho­sa­men­te cu­tu­cou a ca­be­ça bai­xa da ou­tra. Que­ria por­que que­ria sa­ber quem, com ela, tão so­li­da­ri­a­men­te, di­vi­dia tan­ta dor...

-Re­pa­ra não, do­na, mas... a se­nho­ra co­nhe­cia o meu Jo­a­quim...?

A ou­tra le­van­tou a ca­be­ça. Fun­gou o na­riz, lim­pou os olhos e no au­ge do de­ses­pe­ro – ‘ta­di­nha... ela tam­bém gos­ta­va me­e­e­es­mo mui­to da­que­le Jo­a­quim... – fez foi abrir mais ain­da a bo­ca no mun­do, e dei­xar ex­tra­va­sar mui­to mais do que a uma, seus re­ver­be­ran­tes bu­és:

- Bu­é­é­éé!... Bu­é­é­é­éé!... Bu­é­é­é­éé!...

Se à ou­tra não deu mais pa­ra se­gu­rar, à uma não deu mais pa­ra du­vi­dar. Era a ou­tra mes­mo! O fe­da­pu­ta do Jo­a­quim nun­ca dei­xou tran­spa­re­cer na­da  mas... a uma nun­ca dei­xou de fin­car um pé atrás. En­tão, não há de ver que o Jo­a­quim era é um sem-ver­go­nha mes­mo, gen­te?!... E ago­ra, a pro­va ‘ta­va aí, ó.  Te­re­zi­nha ti­nha ra­zão e o pau que­brou...

Sem mais, pas­san­do por ci­ma do Jo­a­quim a uma so­cou com a des­tra no ou­vi­do ca­nhes­tro da ou­tra, com pe­so e im­pul­so tais e qua­is a um sa­co de areia ca­in­do da car­ro­ça­ria de um ca­mi­nhão, um mui­to ma­cho pes­co­ção, acom­pa­nha­do de mui ca­lo­ro­sa de­di­ca­tó­ria:

- To­ma is­so, va­ga­bun­da:  Póff!

- Ai!!

A coi­ta­di­nha da ou­tra foi com as du­as mãos so­cor­rer a ore­lha vi­ti­ma­da pe­lo coi­ce da uma. Dei­xou as­sim a ou­tra, a des­co­ber­to. Dis­to ser­viu-se a uma, e des­pa­chou pra lá mais um coi­ce da sua des­tra, sem­pre acom­pa­nha­do de fer­vo­ro­sas de­di­ca­tó­ri­as:

- E mais is­so: Póff

!- Ai!-Ai!...

Não ha­via mais co­mo dis­si­mu­lar. A ou­tra, as­sim des­co­ber­ta, as­su­miu. E sem mais res­pei­tar im­bu­ia de Jo­a­quim ne­nhum deu o tro­co. De mes­mo pe­so e nú­me­ro. Con­quan­to de ou­tro ja­ez. Pa­ra tan­to cor­res­pon­deu com o tro­co na­que­le ve­lho sis­te­ma: “te­le­fo­ne”. En­tre­tan­to não ao mes­mo tem­po. Se­não ‘re­ben­ta­ria seus mi­o­los. Mas foi um qua­se jun­ti­nho do ou­tro. O pri­mei­ro com a des­tra, e o se­gun­do com a ca­nhes­tra:

- To­ma ‘ocê ta­mém, sua chi­fru­da!

Ta­póff!!

- Ta­póff!!

Deu-se as­sim o iní­cio de um in­ter­mi­ná­vel in­ter­câm­bio de ta­pas e coi­ces se­gui­do de uma la­da­i­nha de mes­ma du­ra­ção em tí­tu­los da mais va­ri­a­da es­pé­cie.  Pra­gas, pe­sa­das, mão­za­das, pu­xões de ca­be­lo, unha­das, den­ta­das, mor­di­das, e pa­ta­das tan­tas que nem Deus con­ve­nia­do com o Ca­pe­ta, em com­pa­nhia de to­dos os an­jos, san­tos, de­mô­ni­os e di­a­bos des­tas du­as tran­scen­den­tais mi­lí­cias se­ria ca­paz de dar um jei­to. Cre­do.

E foi mais ou me­nos ip­sis lit­te­ris... as­sim:

- Pu­ta!

- Ra­pa­ri­ga!

- Bis­ca­te!

- Quen­ga!

- Pai­a­ça!

- En­cos­to!

- Égua véia!

- Des­gra­ça­da!

- Ra­pa­ri­ga!

- Lar­ga meu ca­be­lo, bu­cho!

- En­tão lar­ga o meu ta­mém, ba­ran­ga!

- Mãe, res­pei­ta o pai!

- Res­pei­to não! Ele era um sa­fa­do mes­mo!

- Sa­fa­da é ‘ocê sua sem-ver­go­nha!

- Gen­te, pá­ra com is­so pe­la­mor­de­deus!

- Num pá­ro! Es­sa pu­ti­nha vai ver uma coi­sa!

- Pu­ti­nha é ocê sua bes­ta!

- Aco­de, meu Di­vi­no Pai Eter­no!...

- Eu aca­bo c’ocê, sua mer­da!

- Eu aca­bo c’ocê pri­me­ro, sua fe­da­pu­ta!

- Aa­a­ai, dis­gra­ma­da dos in­fer­no’! Ti­ra o de­do do meu ôi!

-‘In­tão ti­ra o seu do meu ta­mém!

- Num ti­ro!

- ‘In­tão eu ta­mém num ti­ro o meu do seu! E vou é en­fi­ar mais ain­da!

- Gen­te do céu! De­xa’ dis­so, pe­lo amor da Vir­gem San­tís­si­ma!

- Não! Ela tem que me pa­gá!

- Vai se da­ná mer­da!

- Sa­fa­da!

- Pus­te­ma!

- Sar­nen­ta!

- Bru­xa!

- Ba­lo­fa!

- Ca­nhão!

- Tra­bu­co!

- Co­rôa véia!

- Ra­bi­cho!

- Do­na Ben­ta, o pa­dre  che­gou pra ben­zê e en­co­men­dá a al­ma do ‘seu’ Jo­a­quim!

- O pa­dre que vá pro in­fer­no da pu­ta que pa­riu êle!

- Deus que me per­doe a se­nho­ra, mãe! Quem xin­ga pa­dre é ex­co­mun­ga­do!

- ‘Cê num res­pei­ta nem um ho­me’ de Deus, sua pe­ca­do­ra ‘mar­di­ço­a­da!

E de pro­fun­dis des­te in­fer­no uma mu­lher es­qui­si­ta, igual­men­te des­co­nhe­ci­da da uma e da ou­tra ten­tou apa­zi­guar, li­vran­do a ou­tra de mais uma sa­rai­va­da de pa­ta­das da uma:

- ‘Fa­iz is­so com a coi­ta­da, não, do­na!

E ten­ta­va mos­trar por­que não va­lia mais a pe­na bri­gar:

- Pá­ra! O ma­ri­do d’oceis du­as já mor­reu mes­mo!

A uma res­pon­deu na fu­ma­ça, dan­do uma cus­pi­da no ru­mo da es­qui­si­ta che­gan­tee apa­zi­guan­te:

- Apos­to que ‘ocê da­va pra ele tam­bém, pu­ta sa­fa­da!

- Ôpa! Me res­pei­ta, muié!

Se­nhor De­le­ga­do, daí o cu­ra que ha­via aca­ba­do de che­gar em­pu­nhou o seu his­so­pe e deu com ele um ver­da­dei­ro ba­nho de água ben­ta no de­fun­to, nos ami­gos do de­fun­to e nas du­as mu­lhe­res do de­fun­to, abra­ça­di­nhas uma à ou­tra ali no chão bem de­bai­xo da im­bu­ia do Jo­a­quim.  Nem aque­le di­lú­vio aben­ço­a­do de água ben­ta e con­sa­gra­da apa­gou o fo­go das du­as bri­guen­tas.

- Mi­nhas fi­lhas! Em no­me de Nos­so Se­nhor Je­sus Cris­to e da Vir­gem

Do­lo­ro­sa, pa­rem com es­se in­fer­no...!

- Pa­ro não!

- Es­cu­ta o pa­dre, co­ma­de!

- Vai a mer­da!

- É a pa­la­vra de Deus, ma­dri­nha!

- Por­ra ne­nhu­ma!

- Ex­co­mun­ga­da!

- In no­mi­ne Pa­tris et fi­lio et Spi­ri­tu Sancto, ego te ex­co­mun­go: va­de re­tro, sa­ta­naz!

Na­da. Nem o mis­te­ri­o­so la­tim do pa­dre deu jei­to no ca­pe­ta. Com cer­te­za nem ele en­ten­dia di­rei­to es­sa lín­gua mis­te­ri­o­sa. En­tão, ten­tou mais uma vez a ex­pe­di­ção da or­dem mal­di­ta e re­pe­tiu tu­do no ver­ná­cu­lo, acres­cen­tan­do por con­ta pró­pria al­gu­ma coi­sa mais.

- Em no­me do Pai, do Fi­lho e do Es­pí­ri­to San­to, eu te ex­co­mun­go: vol­ta pro meio do in­fer­no, es­pí­ri­to imun­do do ma­lig­no amal­di­ço­a­do!

E en­quan­to re­i­te­ra­va a chu­va­ra­da de água ben­ta com o seu as­per­sor pra ci­ma do de cu­jus, das bri­guen­tas e de mais to­do mun­do, to­do mun­do, com o res­pei­to mais pi­e­do­so do mun­do, com a ve­lo­ci­da­de do raio se per­sig­na­va de ca­be­ça bai­xa. E as du­as, dan­do re­gu­lar se­quên­cia àque­le en­tre­ve­ro:

- Eu te es­ga­no, fia d’uma égua!

- Eu te pi­co, fe­da­mãe!

- Pa­rem com is­so, mi­nhas fi­lhas! En­tre­guem tu­do na jus­ti­ça das mãos do Al­tís­si­mo!

Se­nhor De­le­ga­do, nis­so tam­bém Vos­sa Se­nho­ria não há de acre­di­tar, mas nem a alu­di­da e su­ge­ri­da Su­pre­ma Au­to­ri­da­de apa­re­ceu pa­ra dar jei­to na­que­le as­saz feio fu­zuê.

E to­do o fu­zuê des­se ba­fa­fá acon­te­cia bem de­bai­xo do Jo­a­quim. Aos pri­mei­ros  ta­pas in­ter­cam­bi­a­dos fo­ram as du­as pa­ra o chão. A ou­tra por ci­ma da uma. Mas a uma, num gol­pe ma­gis­tral, que apren­deu não sei on­de nem com quem, lo­grou gi­rar o cor­po, que foi en­tão pa­rar on­de pa­rou. E lá con­ti­nuou.

- Ca­de­la!

- Ca­chor­ra!

O de­ta­lhe que se há de ob­ser­var, Au­to­ri­da­de, é que o cai­xão don­de se pu­nha o Jo­a­quim... quer di­zer... os res­tos do Jo­a­quim, es­ta­va apoi­a­do em dois ca­va­le­tes. E uma da­que­las vi­o­len­tas es­per­ne­a­das en­con­trou na sua tra­je­tó­ria um pé do ca­va­le­te. Hor­ror, Se­nhor De­le­ga­do! Hor­ror! A im­bu­ia es­pa­ti­fou-se no chão, e o Jo­a­quim, tam­bém. Foi um deus-nos-acu­da que Deus me li­vre e guar­de. Os con­vi­da­dos pa­ra as sa­gra­das ce­ri­mô­ni­as de re­qui­em tra­ta­ram lo­go de fa­zer Jo­a­quim ou­tra vez no mes­mo cai­xão.

Sor­te é que tão te­ne­bro­sa mis­são não de­man­dou mui­to es­for­ço. Àque­la al­tu­ra o Jo­a­quim já es­ta­va tal e qual uma pran­cha de pe­ro­ba.  Só ca­re­ceu de um que pe­gas­se nas per­nas e ou­tro, que o agar­ras­se pe­los so­va­cos. En­quan­to as du­as da­vam pros­se­gui­men­to àque­le acer­to de con­tas. Cre­do.

Foi mes­mo aí nes­se mo­men­to que che­gou, cha­ma­da por não sei quem, pa­ra par­ti­ci­par da ma­nei­ra que lhe com­pe­tia, uma equi­pe de vi­si­tan­tes.  Ze­ca, fi­lho do ca­sal, foi quem, às du­as con­ten­do­ras, tal vi­si­ta anun­ciou:

- Mãe! A Po­lí­cia che­gou!

- Man­da vol­tar mais tar­de! ‘Pos­so aten­dê’ ago­ra não! ‘Tô ocu­pa­da!

A fú­ria era ta­ma­nha que en­co­bria, ob­stru­ía e com­pro­me­tia por in­tei­ro o sen­so da po­bre vi­ú­va. Até que dois pa­res de  co­tur­no de cou­ro de di­men­sões pou­co me­no­res que o cai­xão do Jo­a­quim em­pa­re­lha­ram-se, um de ca­da la­do,  bem per­ti­nho das ca­be­ças da ou­tra e da uma.

Só en­tão é que Ben­ta vi­ú­va deu por fé dos no­vos vi­si­tan­tes. Era uma guar­ni­ção da glo­ri­o­sa Polícia Militar do Estado de Goiás, co­man­da­da pe­lo Te­nen­te Cle­men­te. En­tão, num áti­mo de se­gun­do a uma pos­tou-se so­bre a ou­tra não mais co­mo agres­so­ra, mas co­mo so­cor­ris­ta de emer­gên­cia. Pa­ra con­fir­mar o ca­rá­ter de tal pro­ce­di­men­to con­ti­nuou ba­ten­do, com as du­as mãos, na ca­ra da ou­tra, mas pa­ra re­a­ni­mar a coi­ta­di­nha, uái?!  Ver­da­de, Au­to­ri­da­de! A po­bre­zi­nha ha­via era des­mai­a­do por não con­ter a emo­ção di­an­te do cor­po frio do Jo­a­quim. Por is­so con­ti­nuou ba­ten­do e fa­lan­do as­sim:

- Me­ni­na do Céu! Re­a­je, que­ri­di­nha! Acor­da! Vo­cê pre­ci­sa ser for­te nes­sas ho­ras di­an­te da mor­te! ‘Gar­ra com Nos­sa Se­nho­ra da Boa Mor­te pra te aju­dar! Vou bus­car um co­po d’água pra vo­cê, ‘pe­ra aí, tá?

E ao le­van­tar-se mui­to apres­sa­da é que deu de ca­ra com a ca­ra si­su­da do Te­nen­te Cle­men­te.  En­tão, com a sua lam­bi­da olhou pa­ra eles, es­ten­deu a mão mos­tran­do a ou­tra de­bai­xo da im­bu­ia. E no tom mais ter­no e do­ce des­se mun­do dis­se as­sim

- Ta­di­nha! Não aguen­tou...

O Te­nen­te Cle­men­te, bra­vo co­man­dan­te da­que­la guar­ni­ção fez que foi na de­la, mas res­sal­van­do as­sim:

- É mes­mo, do­na Ben­ta?! Que coi­sa! Mas... quem cha­mou a po­lí­cia fa­lou no te­le­fo­ne que o que fez es­sa po­bre me­ni­na as­sim no chão, pre­ci­sa­men­te de­bai­xo do cai­xão não foi a emo­ção. Foi a sua mão!

- Gen­te men­ti­ro­sa, Te­nen­te! Cre­di­ta ne­les não!

As­sim sen­do, Se­nhor De­le­ga­do, o Te­nen­te Cle­men­te, sá­bio, ca­paz, hu­ma­no e com­pe­ten­te as­saz, sem pre­ju­í­zo do ofí­cio, acal­mou os âni­mos. E co­mo já es­ti­ves­se já es­go­ta­do o tem­po de to­le­rân­cia de um cor­po não em­bal­sa­ma­do a fa­mí­lia pro­vi­den­ci­ou ime­di­a­ta  inu­ma­ção. De­pois, à pre­sen­ça de Vos­sa Se­nho­ria trou­xe as du­as pa­ra mais de­ta­lhes for­ne­cer da vi­da pre­gres­sa do Jo­a­quim. Nes­tes ter­mos as­si­na es­te bo­le­tim.

(Fran­cis­co de Oli­vei­ra San­tos. Chi­quim o ecri­vão. Se­rá pu­bli­ca­do em bre­ve na obra "Te­je Pre­so!")

Leia também:

  

edição
do dia

Capa do dia

últimas
notícias

+ notícias