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OPINIÃO

Haters e o cyber vício

No ano passado, trabalhando também com outra modalidade da arte (ilusionismo), de certa forma não tão distante da literatu­ra, talvez pelo encantamento das situações inusitadas de mun­dos tão distantes e impossíveis (porém, tão visualmente próxi­mos no mundo dos livros e das mágicas visuais), tenho percebido uma grande tensão nas pessoas.

Parece que os aparelhos telefônicos são mais do que extensões das nossas mãos. Muitos de nós não conseguem ficar longe do apa­relho por muito tempo. Tanto que o assunto já é tratado como de­pendência química e psicológica pela psicologia moderna.

Antes, o clássico truque da guilhotina no braço de alguém era grande momento de tensão nos shows que fazia. Do nada levanta­vam dezenas de pessoas e ficavam em euforia ou em pânico. Alguns não perdiam a oportunidade de tirar fotos e filmar o acontecimen­to. Por isso, sempre alguém está filmando quando algo acontece. Bi­lhões de voyeurs espalhados pelo mundo numa distância rudimen­tar de um simples clique, ou triscada de dedo.

Atualmente, quando peço um celular emprestado, faço movimen­tos que supostamente irão estragá-lo e, depois disso, o aparelho ainda desaparece completamente. Isso sim tem causado verdadeiro pânico. Quando uma jovem esboçou sofrimento e lágrimas, cogitei não mais realizar esse tipo de número. Como se de fato perdesse a mão e um pe­daço de um braço fosse menos importante do que perder o smartpho­ne. Vejo os jovens se arriscando ao defender seu aparelho diante de um roubo. Vejo gente que prefere enfrentar uma guilhotina de pescoço a correr risco de danificar ou sumir o seu aparelho celular.

E nessa onda conectada, muitos mascaram (ou se desmascaram) para destilar sua cota de intolerância e ódio no mundo. Num outro texto falei dos trollers, hoje falo dos haters. Afinal, qual a necessidade de tanto estrangeirismo em nossa língua. Simples: a gíria e o interne­tês já dominou quase todo o mundo.

Muito comum alguém infectar seu veneno repudiando alguém ou algum comentário contrário a sua suposta opinião suprema. Mais comum ainda a pessoa criar um perfil falso e atingir os demais com tamanha grosseria. “Hater” é a pessoa que odeia, passa todo o tempo disponível realizando ataques gratuitos a outros usuários de opiniões diferente, seja ela política, sentimental, pessoal, etc.

Os nascidos após o ano 2000, chamados de geração Z, já incorpo­ram na infância com muita facilidade as tecnologias que na geração passada um jovem teria certa dificuldade de absorver. Uma criança de 10 anos hoje já tem acesso a um volume de informações superior ao de um rei da idade média, que detinha maior quantidade de infor­mações naquela época.

Além disso, o imediatismo dos sites de pesquisa e tantos games tem gerado nessas crianças uma irritabilidade enorme, uma ansie­dade fora dos limites e algumas vezes um comportamento inade­quado socialmente.

Quem estiver qualquer tempo disponível hoje pode ser bombar­deado pelas notícias do mundo todo, além dos vídeos de comédia e outras impropriedades para matar o tempo.

Fazer com que o jovem compreenda a necessidade de moderação é uma das tarefas mais difíceis da atualidade.

Se o ócio é ferramenta do diabo, o ódio parece um modismo en­tre aqueles que não suportam conviver com as diferenças. E conviver em harmonia parece ser traquejo para poucos.

Falta de compreensão, aceitação, ramificação em poucos e rasos as­suntos. Falta de densidade de profundos mergulhos nos temas mais importantes da vida. Alienação de conduta e pensamento. Esboço vio­lento nas ações e opiniões. Falta de paciência diante da vida. Fuga, iso­lamento, inapetência. Essas são algumas características desses novos cyber viciados. O que fazer? Desintoxicação total de tempos em tempos e vivências mais interiores e familiares. Até a próxima página!

(Leonardo Teixeira, [email protected])

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