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OPINIÃO

Joesley, o gravador e o psiquiatra

No intervalo de quatro me­ses – que é nada no laspso da história – os irmãos Batista (Joesley e Wesley) deixaram o status de empresários brasi­leiros muito bem sucedidos e deram com os costados na ca­deia de onde, mesmo com todo o dinheiro que juntaram, po­derão ter dificuldade para sair.

A divulgação da gravação, fei­ta às escondidas com o presi­dente Michel Temer, quase o afastou do poder e rendeu des­dobramentos que deverão per­seguí-lo até depois que deixar o mandato, mesmo que o ter­mine em 31 de dezembro de 2018. Mas o método também atropelou o senador Aécio Ne­ves, jogou mais lama em Lula e Dilma e em dezenas de outros figurões da República, revelan­do supostos crimes que a justi­ça hoje se empenha em apurar.

Enredou até o então procura­dor geral da República, Rodrigo Janot, que deu excessivo crédi­to às delações dos empresários e que gastou seus últimos dias no posto na tentativa de recolo­car as coisas nos devidos luga­res e evitar mais perdas à pró­pria imagem profissional.

Ao contrário do intransigen­te deputado índio Mário Juruna, que utilizava o gravador apenas como prova do que lhe prome­tiam, Joesley o fez arma contra os poderosos, buscando cons­tituir prova de crimes por estes cometidos, mas não teve condi­ções (ou interesse) de esconder seus próprios erros. Além dos políticos, derrubou a casa até na Procuradoria Geral da Repúbli­ca, trazendo para seu esquema o ex-procurador Marcelo Miller, de relacionamento profissional próximo a Janot e hoje também envolvido nos processos e com pedido de prisão.

Preso, o empresário é o motivo da insônia de mui­ta gente importante. Deverá continuar sua narrativa, pois é o caminho da colaboração que poderá levá-lo à liber­dade, ainda que provisória.

Ministros, parlamenta­res, empresários e outros fi­gurões temem também te­rem sido, em algum instante, gravados pelo empresário araponga. É aí que mora o perigo. Na medida em que forem se esclarecendo as ar­timanhas, novos persona­gens irão surgindo.

Não é difícil que parte deles, no preigo iminente, mesmo sem a certeza de es­tar no cardápio, comecem a falar o que sabem à espe­ra de, colaborando, reduzir suas possíveis penas. São os casos do ex-procurador Marcelo Miller e do execu­tivo Ricardo Saud que, en­volvidos, só podem esperar que Joesley ainda os denun­cie e, portanto, podem fazer o caminho inverso.

Pelo que se depreende, Joesley sente-se forte, uma espéciedesemi-deuse, como tal, teve a coragem de ir gravar o presidente, não escondeu (e faz questão de divulgar) os próprios crimes, subestimou a inteligência dos apuradores e, possivelmente, não vive em perfeito juízo. Seria de eleva­díssima utilidade, antes de qualquer outra providência, submetê-lo a uma junta psi­quiátrica para a comprova­ção de sua sanidade. Com esse resultado em mãos, a Justiça poderá decidir mais acertada e rapidamente se é o caso de imputar-lhe os cri­mes já explicitados ou sim­plesmente aplicar medidas de segurança para que não continue prejudicando o país com estripulias...

(Dirceu Cardoso Gonçal­ves, tenente, dirigente da As­sociação de Assistência So­cial dos Policiais Militares de São Paulo)

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