Da história ninguém se apaga. Os passos ficam todos eles registrados, não importa se à sombra ou ao sol. Qualquer caminho percorrido guarda um pouco do que fomos um dia.
Para as pessoas ímpares, o reconhecimento, na maioria das vezes, é o que menos importa. O fazer acontecer é mais gratificante que os aplausos. Pois, na verdade, os ganhos e conquistas só valem se trazem benefícios não apenas diretos, ao seu autor, mas benefícios que se estendem radialmente à coletividade onde ele vive.
Falando assim, cordato e genericamente, não estou sendo um ingênuo desconhecedor dos, por vezes, terríveis meandros da natureza humana, tampouco um sonhador que acredita em sua transformação de uma hora para outra. Estou, de fato e de direito, calçando as luvas no governador Marconi Perillo.
Cá entre nós, o momento de orfandade e de incertezas em que vivemos pede que joguemos flores aos vivos. No meio de tanto joio político, é de se louvar as exceções. Joguemos flores aos que, merecidamente, a história já lhes reserva lugar, mesmo se, para eles, ainda não chegou a hora de fechar para balanço e contabilizar os atos da existência.
Por outro lado, há os que, invariavelmente, têm que esperar um sinal de fora para dar valor ao que temos dentro do nosso Estado. Outros, ainda mais lentos e remotos, só reconhecem a importância do momento que vivem ao vê-los destacados nas páginas da história, quando terá sido muito tarde para se manifestarem.
Neste findar de 2017, foi preciso a Kátia Bogéa, presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), vir a Goiás e tornar o governador Marconi Perillo um comendador da cultura (13/12, Palácio das Esmeraldas). É que os goianos, como muitos outros, acreditam mais no eco do que no grito. Se não vier de fora, não existe.
“Marconi possibilitou, ao longo de suas quatro administrações, a elevação da alta estima do goiano no setor cultural. Esta é a maior obra que um gestor pode fazer pelo seu povo. Ele nos ajuda, desde 1999, a olhar para toda a riqueza que temos nas artes, na arquitetura, leitura, música, artes plásticas, poesia, procissões e festividades”, disse a presidente Kátia Bogéa.
Sabemos bem que tecer elogios a um governante ainda no seu posto pode parecer coisa visando outros propósitos que apenas o elogio, ou simplesmente parecer totalmente fora de propósito, visto o que aprontam por aí. Mas é de extrema necessidade que tenhamos hombridade para apontar, entre todos, aqueles nos quais acreditamos. Verdade é que já se tornou impossível não ver o que Marconi fez e continua fazendo pela cultura. Mesmo para os que vivem longe –e até mesmo para os cegos daqui.
O movimento se deu de forma crescente. Goiás é hoje o terceiro estado que mais investe em cultura. Na seara cultural de chão batido goiano já se tornaram cristalinos e evidentes os rastros indeléveis de Marconi Perillo, que soube fazer de suas 4 versões no comando estadual um atestado consistente a favor da cultura e, portanto, da sociedade, que não vive sem ela. É um atestado aos que vivem no presente e um legado aos pósteros, porque a cultura é coisa que vem para ficar, assimilada e incorporada para sempre ao nosso viver.
Não vamos dizer que foi tudo perfeito e que não poderia ter realizado mais e melhor. Não é só de elogios que são feitos os exemplos. Também é certo que ninguém melhor que Marconi Perillo para saber do que não foi capaz. Nem sempre conseguimos fazer tudo que queremos. Por vezes, até promessas caem por terra. Mas se a intenção é verdadeira o que cai por terra vira adubo e faz nascer outras sementes e, nelas, renasce a intenção em outras ações.
Assim tem sido com este governador agora comendador nacional da cultura. Ao receber a medalha Mário de Andrade (maior honraria do Iphan, criada neste ano para celebrar seus 80 anos de existência), destacam-se não somente suas diversas realizações no âmbito cultural, mas também sua vivência e suas intenções perante o mundo da cultura, que, bem sabemos, engloba, justifica e dá vida às demais instâncias da vida.
No espírito de transição de um ano ao outro -que nos guiará de um governador a outro, é preciso jogar flores à gestão pública presente, no anseio de que ela sirva de espelho a outras que virão. Por tudo que realizou pela cultura ao longo de seus mandatos, temos um marco chamado Marconi. Marco divisor, quando olhamos para o passado recente. E marco aglutinador, de convergência, quando pressentimos o que vai render tudo o que foi feito, plantadas as devidas infraestruturas física e mental.
(Px Silveira, presidente do Instituto ArteCidadania)