Todas as semanas, e às vezes mais de uma vez por semana, acostumei-me a receber a sempre jubilosa visita do desembargador Liberato Póvoa, que, amigo de muitos anos e confrade da Academia de Letras do Estado do Tocantins (Alet), consome horas e horas em conversas sempre reminiscentes.
As visitas do Liberato são a clara comprovação de uma das coisas que mais ocorrem neste mundo ingrato: o esquecimento.
Quando estamos lado a lado com o poder e dele desfrutando, somos lembrados, paparicados e procurados. E digo-o “de cadeira”, pois, hoje com meus bem vividos noventa e quatro anos, sinto quão verdadeira é essa assertiva: quando estamos na bonança ou na situação de mando, os amigos nos conhecem, mas quando descemos a escada da importância e passamos a viver na planície da desimportância, conhecemos os amigos.
Quando ainda jovem, militando na política como deputada estadual por Goiás, era procurada, requisitada até por autoridades que comigo se aconselhavam e pediam minha interferência junto aos governantes. No início do Tocantins, quando ombreamos – Liberato e eu – a tarefa de semear a cultura no novel Estado, tínhamos posição de destaque no cenário cultural, e, com a colaboração do escritor Juarez Moreira Filho, fundamos a Academia de Letras do Estado do Tocantins, que, em atividade pioneira e sob a presidência de Liberato, percorremos as cidades-referência da cultura tocantinense, transformando aquela academia em uma espécie de academia peregrina, instituindo concursos literários e outras atividades.
Passaram-se os anos, e hoje (eu esquecida do que fiz pelo Estado), minha casa transformou-se em um imenso vazio, com os gritos do passado ecoando no espaço vazio. Apesar de, no passado, viver com a casa pululante de pessoas que se diziam amigas, hoje posso dizer que o único amigo que me visita regularmente é Liberato, que, nas suas revigorantes palavras, faz de cada momento um refrigério para a minha alma.
O pensador inglês de John Churton Collins já dizia, acertadamente: “Na prosperidade os amigos nos conhecem, mas é na adversidade que conhecemos os amigos”. E cito Confúcio para mostrar o que eu e meu amigo Liberato passamos: “Para conhecermos os amigos é necessário passar pelo sucesso e pela desgraça. No sucesso, verificamos a quantidade e, na desgraça, a qualidade”.
Na última semana de novembro passado, senti sua falta, posto que não me veio visitar, mas não deixou de dar o ar de sua graça: telefonou-me de São Paulo, onde disse estar, na companhia de seu não menos talentoso primo José Cândido Póvoa, realizando um ciclo de palestras, desta vez fora de seu natural “métier”, que é a literatura, o Direito, a cultura regionalista e outros assuntos que povoam sua extraordinária cultura geral. Ele e José Cândido foram a São Paulo com outra missão: levar a paz espiritual e mostrar os benefícios dos tratamentos da “Casa de Dom Inácio” de Abadiânia.
Retornando, veio visitar-me, quando detalhou, em gostoso relatório, o motivo de sua ida à terra dos bandeirantes.
Há poucos meses, estando na Casa de Dom Inácio, foi procurado por um grupo de pessoas de Guarulhos-SP, a pretexto de autografar seu livro “João de Deus – O Fenômeno de Abadiânia” sobre aquela Casa. Na mesma ocasião, apresentou ao grupo seu primo José Cândido Póvoa, autor da mais recente obra, “Cara a Cara com João de Deus”, considerado por Liberato o mais completo livro sobre a obra realizada por João de Deus.
O pessoal de Guarulhos era constituído de pessoas esclarecidas, e Liberato nominou os advogados Carlos Romão, Joselha Barbosa, Luís Dutra e outros, que foram essenciais em dar o necessário suporte logístico no empreendimento cultural e espiritual que desenvolveram em São Paulo, Guarulhos e Guarujá.
E voltaram animados, como que de alma lavada, pois, sendo pessoas esclarecidas e espiritualistas por excelência, com certeza souberam transmitir sua mensagem, pois além de palestrarem para auditórios selecionados, fizeram programas de rádio e TV.
E Liberato, que correu este Brasil inteiro proferindo palestras sobre os mais variados temas e foi recepcionado pelas mais diversas autoridades, confessou-me que em nenhuma das vezes anteriores teve um tratamento tão especial, e a semente frutificou: agora em janeiro de 2018, uma grande caravana de Guarulhos virá a Abadiânia para estar com João de Deus.
O objetivo de José Cândido, corroborado por Liberato, é fazer o caminho inverso: como a “Casa de Dom Inácio”, de Abadiânia, é mundialmente conhecida pelos que ali vão em busca de curas e conforto espiritual, agora o projeto dos dois é exportar a doutrina preconizada, levando a “Casa de Dom Inácio” a todas as paragens do Brasil. E a entidade a quem foi consultada por José Cândido não só aprovou a ideia, como sugeriu que começassem pelo Sul, e eles fizeram uma “turnê” vitoriosa exatamente por Guarulhos, fundada pelo jesuíta contemporâneo de Dom Inácio, Manuel de Paiva, em 1560.
Essa experiência pioneira deverá produzir muitos frutos, pois não existe a velha história de “cachês” para os palestrantes, que vão gratuitamente a qualquer lugar, bastando que lhes sejam disponibilizados o transporte e a hospedagem, qie pode ser em pousadas, pensões, casas particulares, sem exigência de qualquer suntuosidade, pois a caridade nunca exige luxo.
O certo é que os ensinamentos desses dois eméritos doutrinadores abrirão novos horizontes a quantos procuram um conforto espiritual.
(Ana Braga, acadêmica da Academia Tocantinense de Letras - Cad. 04, Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás - Cad. 04 e Academia Goiana de Letras - Cad. 31)