Sempre achei a comunicação sem texto o máximo. Não por preguiça de ler, mas pela inteligência que a própria imagem traz dentro de si ao contar uma história.
A charge, o cartum e o cinema mudo me fascinaram quando criança, e, fascinam ainda hoje. Charles Chaplin em cena dispensava qualquer recurso porque suas expressões falavam tudo, tal qual, Péricles, para mim, o rei do humor negro, com sua imortal criação, o “Amigo da onça”, que a revista O Cruzeiro semanalmente publicava em uma página inteira.
Semana passada, o genial Jaguar nos brindou com uma crítica, estampada pela Folha de São Paulo, onde expõe as vísceras da precariedade geral a que nos enfiaram. O desenho traz a mãe com as duas mãos tapando os olhos do filho para que ele não visse o Papai Noel, todo desalinhado, sentado no chão, com a toca vermelha estendida a quem passasse, a pedir esmolas. A cena, sem uma palavra sequer, detonou as conjunturas política, social, econômica, moral, e, sobretudo, humana que nos jogou na lama. Pode existir linha abaixo da pobreza maior do que o Papai Noel a pedir esmola?
Não, a coisa não parou por aí. Para eu me sentir como o único sujeito no mundo que jogou pedra na cruz, entre um cafezinho e outro, na confraria para jogar conversa fora que se reúne no Flamboyant, o Roos Roos, é, ele mesmo, o nosso invejado artista plástico, me deu a pincelada: “E agora ministro, você que esteve lá muito tempo, mostre o caminho para sair dessa...” Foi silêncio geral aguardando que eu propusesse algum milagre.
Engoli seco. Ora, se o Papai Noel do Jaguar não deu conta, então, sugeri que o Roos Roos pinte um enorme painel retratando o inferno com as caras desses fdps que estão desmoralizando os poderes.
Jamais pensei que viveria para ver um Natal tão sem significado. Deixo a minha súplica: antecipe a volta, Jesus, porque a coisa tá feia!
Perdoe-me, mas não sou hipócrita para desejar feliz Natal.
(Iram Saraiva, ministro emérito do Tribunal de Contas da União)