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OPINIÃO

O destino de nosso lixo e nosso grau de incivilidade

Se há um exem­plo de san­di­ce ou fal­ta de ci­vi­li­da­de que pos­sa exi­bir o ho­mem ci­vi­li­za­do, eu ci­ta­ria o des­ca­so ou aban­do­no com o li­xo que ele pro­duz. Que fi­que bem re­pi­sa­do es­te res­to da fra­se: não o li­xo pro­du­zi­do em si, mas o aban­do­no ou des­ti­no que se dá aos re­sí­duos, des­car­tes, ob­je­tos inú­te­is, pa­péis, plás­ti­cos, em­ba­la­gens, ali­men­tos não apro­vei­ta­dos e so­bras de tu­do quan­to  se faz uso.

As pa­la­vras ci­da­de (do la­tim ci­vi­ta­te), ci­da­dão (o ha­bi­tan­te da ci­da­de e no go­zo de di­rei­tos e de­ve­res pa­ra com o Es­ta­do e ou­tros ci­da­dã­os) e ci­vi­li­da­de (la­tim ci­vi­li­ta­te) são cog­na­tas. Elas têm a mes­ma ori­gem e são in­ter-re­la­ci­o­na­das. Po­li­ti­ca , tam­bém tem tu­do a ver, vem de po­lis, ci­da­de. A ar­te de ad­mi­nis­trar uma ci­da­de ou Es­ta­do.

Ci­vi­li­da­de de­ve ser en­ten­di­da co­mo uma car­ti­lha ou ma­nu­al de ati­tu­des ob­ser­va­das por to­dos nas re­la­ções mú­tuas, em si­nal de res­pei­to e con­si­de­ra­ção ao ou­tro. Ou­tros ver­be­tes equi­va­len­tes se­ri­am ur­ba­ni­da­de, gen­ti­le­za, co­o­pe­ra­ção, so­li­da­ri­e­da­de, de­li­ca­de­za e fra­ter­ni­da­de.

Exis­tem tam­bém um tem­po e um es­pa­ço nos qua­is po­de­mos ex­pres­sar nos­so grau e nos­sa evo­lu­ção ci­vi­li­za­tó­ria. As­sim têm-se uma da­ta co­me­mo­ra­ti­va e os es­pa­ços fes­ti­vos e de ce­le­bra­ções. Bas­ta lem­brar que as pes­so­as são usei­ras e ve­zei­ras de dois es­pa­ços em su­as vi­das, ba­nhei­ro (sa­ni­tá­rio) e me­sa de re­fei­ções. Es­tes são dois es­pa­ços mais co­me­zi­nhos na ro­ti­na de qual­quer pes­soa. Não im­por­ta on­de si­tu­a­dos es­tes es­pa­ços, di­a­ria­men­te usu­fru­í­dos pe­los ci­da­dã­os. Aqui, ca­da qual, ines­ca­pa­vel­men­te, dei­xa­rá o seu grau de ci­vi­li­da­de (ou de in­ci­vi­li­da­de). Pa­ra tan­to, bas­ta uma com­pa­ra­ção do an­tes e de­pois do uso des­se es­pa­ço , des­ses mó­veis, des­ses bens pú­bli­cos ou pri­va­dos.

De co­mo o in­di­ví­duo re­ce­beu e dei­xou es­se es­pa­ço? Po­de-se qual­quer um per­gun­tar. O grau de lim­pe­za e or­ga­ni­za­ção, o acon­di­ci­o­na­men­to dos uten­sí­li­os, o des­ti­no do li­xo, dos de­je­tos etc. Aqui, sim, fi­ca­rão os si­nais, os in­di­ca­do­res, as mar­cas do grau edu­ca­cio­nal, de ci­vi­li­da­de e res­pei­to de qual­quer pes­soa.

Ima­gi­ne-se ago­ra em uma ca­sa de even­tos fes­ti­vos, de fes­tas de ani­ver­sá­rio, ca­sa­men­to e ou­tras da­tas so­le­nes. To­do aque­le ce­ná­rio es­tá ri­ca­men­te pre­pa­ra­do e or­ga­ni­za­do em lim­pe­za, de­co­ra­ção, dis­ci­pli­na­do e vis­to­sa­men­te mo­bi­lia­do. Fin­da a fes­ta tem-se um ce­ná­rio de com­ple­ta de­sor­ga­ni­za­ção, com me­sas to­ma­das de res­tos de ali­men­tos, for­ros su­jos e de­sa­li­nha­dos, guar­da­na­pos su­jos e dei­xa­dos no chão, ba­nhei­ros fé­ti­dos, li­xos fo­ra dos re­ci­pi­en­tes pró­prios, ex­cre­men­tos fo­ra do va­so sa­ni­tá­rio, en­tre ou­tros des­lei­xos. To­do es­se ce­ná­rio, pas­sa­da a sa­tis­fa­ção dos ins­tin­tos do es­tô­ma­go, pas­sa­das as li­ba­ções de to­da or­dem e os go­zos gas­tro­nô­mi­cos, no mí­ni­mo,  es­se des­fi­gu­ra­do ce­ná­rio re­ve­la  o que? Uma re­gres­são aos ins­tin­tos ani­ma­les­cos, a um com­por­ta­men­to ir­ra­ci­o­nal, ou quan­do me­nos, de ab­so­lu­ta in­ci­vi­li­da­de e des­res­pei­to ao ou­tro ci­da­dão, se­ja es­se ou­tro o fun­cio­ná­rio ou em­pre­ga­do (gar­çom, fun­cio­ná­rio de lim­pe­za) ou mes­mo ou­tra pes­soa, a pró­xi­ma a usar aque­le es­pa­ço. To­da for­ma de ci­vi­li­da­de, de re­la­ção so­li­dá­ria e res­pei­to­sa com os am­bi­en­tes pú­bli­cos e pri­va­dos e com as pes­so­as de­vem ser uma cons­tan­te na edu­ca­ção às cri­an­ças.

Éti­ca, ci­da­da­nia e ci­vi­li­da­de são prá­ti­cas apren­di­das, en­si­na­das pe­las fa­mí­lias e es­co­las (nas pes­so­as de mo­ni­to­res e edu­ca­do­res). Vir­tu­de e ho­nes­ti­da­de, as­sim co­mo ci­vi­li­da­de e so­li­da­ri­e­da­de são ex­pe­di­en­tes que de­vem in­te­grar os en­si­na­men­tos das gra­des cur­ri­cu­la­res do en­si­no fun­da­men­tal. Aris­tó­te­les dei­xou es­sa te­se, de que a Éti­ca e vir­tu­de de­vem ser en­si­na­das e pra­ti­ca­das com as cri­an­ças. Não são qua­li­da­des ina­tas, mas ad­qui­ri­das.

Tem si­do mui­to fa­la­da e re­pe­ti­da a pa­la­vra sus­ten­ta­bi­li­da­de, o mun­do sus­ten­tá­vel, o cli­ma, o efei­to es­tu­fa, a emis­são de CO2, a po­lu­i­ção, o equi­lí­brio eco­ló­gi­co, o des­ti­no dos li­xos, o res­pei­to ao meio am­bi­en­te. São es­ses os tan­tos ter­mos do tão pro­pa­la­do mun­do sus­ten­tá­vel. Fa­la-se tan­to, tan­tos en­con­tros, pai­néis, pro­to­co­los, re­u­ni­ão do G10, do G20, das na­ções mais ri­cas e po­lui­do­ras.

Mui­to se fa­la, pou­co se faz. As­sim têm si­do os es­ta­dis­tas dos paí­ses mais po­de­ro­sos, as­sim têm si­do as ad­ver­tên­cias dos ci­en­tis­tas do cli­ma, dos eco­lo­gis­tas. As­sim têm si­do os ci­da­dã­os, di­tos ci­vi­li­za­dos que ci­en­tes dos re­pe­ti­dos atos de des­res­pei­to e le­são à na­tu­re­za con­ti­nuam nas mes­mas ati­tu­des e ex­pe­di­en­tes de fal­ta de ci­vi­li­da­de e su­jei­ra   em da­tas so­le­nes  e es­pa­ços co­me­mo­ra­ti­vos.

To­me-se co­mo mo­de­lo uma fes­ta de ré­veil­lon. Que se­ja, nu­ma via pú­bli­ca, num clu­be. Ima­gi­nem-se as or­gias re­ga­das de be­bi­das e co­mi­das na pas­sa­gem de ano no­vo em Co­pa­ca­ba­na RJ. Ao ama­nhe­cer, têm-se um ce­ná­rio des­tru­i­dor  de fu­ra­ção. Nes­sa da­ta e am­bi­en­te, in­ti­tu­la­dos de ale­gria e ce­le­bra­ção, tem-se uma pro­va, um cer­ti­fi­ca­do au­tên­ti­co do grau e da evo­lu­ção ci­vi­li­za­tó­ria do ani­mal hu­ma­no. São to­ne­la­das de li­xos, de­je­tos e ex­cre­men­tos que exi­gi­rão cen­te­nas de tra­ba­lha­do­res bra­çais, os ga­ris, um tra­ba­lho her­cú­leo  pa­ra o cor­re­to des­ti­no pro­du­zi­do pe­los con­vi­vas e co­men­sais da­que­la noi­te. Is­to sim, é uma mos­tra re­pe­ti­da e vi­vi­da pe­la so­ci­e­da­de de nos­so es­tá­gio de não edu­ca­ção, de in­ci­vi­li­da­de  e  não fra­ter­ni­da­de. En­quan­to os con­vi­vas, sa­tis­fei­tos dos fes­te­jos or­gía­cos e dio­ni­sí­a­cos , re­ga­dos a vi­nho, cham­pa­nhe e man­ja­res vão em­bo­ra, de res­sa­ca;  os po­bres e mal­ves­ti­dos tra­ba­lha­do­res bra­çais, num tra­ba­lho es­cra­vis­ta e mal re­mu­ne­ra­do irão lim­par os li­xos, res­tos ali­men­ta­res, pa­peis, gar­ra­fas pets e de­je­tos( co­cô, xi­xi) dei­xa­dos pe­los fes­tei­ros da noi­te. Quan­ta in­ci­vi­li­da­de, não ?  mar­ço/2018.

(Jo­ão Jo­a­quim - mé­di­co - ar­ti­cu­lis­ta DM   fa­ce­bo­ok/ jo­ão jo­a­quim de oli­vei­ra  www.drjo­ao­jo­a­quim.blog­spot.com - What­sApp (62)98224-8810)

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