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OPINIÃO

Breve história do livro – mercadoria de elite

Os his­to­ri­a­do­res são unâ­ni­mes em afir­mar ter si­do Jo­hann Gu­ten­berg o pri­mei­ro ho­mem a in­ven­tar a ar­te da im­pres­são no mun­do. São seus pri­mei­ros tra­ba­lhos, Weltge­richt, de 1444, e o Ca­len­dá­rio As­tro­nô­mi­co im­pres­so em 1477, mas co­nhe­ci­do só no ano se­guin­te. Fa­mo­sa, po­rém, é a mo­nu­men­tal Bí­blia de 42 li­nhas, con­cluí­da em 1455 ou 1456, pe­los au­xi­li­a­do­res de Gu­ten­berg, cha­ma­dos Fust e Scho­ef­fer. E da Ale­ma­nha, com cer­to de­sen­vol­vi­men­to, a ar­te da im­pres­são es­pa­lhou-se pe­lo mun­do, ini­ci­al­men­te pe­la Eu­ro­pa, al­can­çan­do a Itá­lia, a Fran­ça, a Es­pa­nha, a In­gla­ter­ra, Por­tu­gal e ou­tros paí­ses.

Do que se sa­be, nas Amé­ri­cas a pri­mei­ra im­pren­sa foi ins­ta­la­da na ci­da­de do Mé­xi­co, em 1539 (?), atra­vés de Gio­van­ni Pao­li que, se­gun­do in­for­ma­ções que te­nho, obe­de­cia a or­dens de um li­vrei­ro se­vi­lha­no, de ori­gem ale­mã, de no­me Ju­an Gro­om­ber­ger, se­guin­do-se de­pois o Pe­ru, a Bo­lí­via, a Amé­ri­ca do Nor­te, a Gua­te­ma­la, sa­ben­do-se que o pri­mei­ro li­vro im­pres­so em ter­ras do Oci­den­te foi na ci­da­de do Mé­xi­co. Po­rém, exis­te a te­se se­gun­do a qual, des­de o ano 400 da nos­sa era, os li­vros já apre­sen­ta­vam a for­ma atu­al. Is­to por­que des­de es­se tem­po os li­vros ti­nham a for­ma de ma­nus­cri­tos, en­ro­la­dos, ou até en­fo­lha­dos. O cu­ri­o­sos é que, já na­que­les tem­pos exis­ti­am e pre­do­mi­na­vam pri­vi­lé­gios dos afor­tu­na­dos. Só os ri­cos po­di­am ad­qui­rir os li­vros. Sa­be-se que Pla­tão, o fi­ló­so­fo, com­prou três li­vros pe­lo pre­ço de dez de­ná­rios (nem sei por quan­to is­so fi­ca­ria em cru­za­dos ou re­al). São Je­rô­ni­mo qua­se foi à ru­í­na, a fim de com­prar os tra­ba­lhos en­tão cha­ma­dos de “Ori­gens”.

Na Ida­de Mé­dia, o li­vro vi­rou ob­je­to de lu­xo, ‘es­cri­ti­nho’ ho­je. Só o ad­qui­ria os reis, os aba­des. Os bis­pos e ou­tros gra­ú­dos e na­ba­bos da épo­ca. Eis a ra­zão pe­la qual só ha­via es­co­las nos pa­lá­cios re­ais, nos bis­pa­dos e nos mos­tei­ros. Foi com a in­ven­ção do pa­pel, pe­los chi­nes­es, que ocor­reu cer­to ba­ra­te­a­men­to na pro­du­ção do li­vro. Quer di­zer: só hou­ve re­tar­da­men­to no de­sen­vol­vi­men­to da im­pres­são na Eu­ro­pa por­que lá não ha­via o pa­pel, des­co­ber­to pe­los chi­nes­es e que fal­tou na Eu­ro­pa até de­pois do sé­cu­lo XII, épo­ca em que a en­ca­der­na­ção já era uma ar­te bem adi­an­ta­da, mes­mo ao tem­po de Gu­ten­berg.

O pri­mei­ro li­vro im­pres­so na lín­gua in­gle­sa da­ta de 1639 ou 1640, no Co­lé­gio Har­vard, na Amé­ri­ca do Nor­te. Di­zem que o mais an­ti­go li­vro do mun­do é chi­nês e cha­ma­va-se Y-King, que quer di­zer: li­vro dos nú­me­ros. Na Gré­cia, in­for­mam que foi Phi­la­ti­us o pri­mei­ro ho­mem a fa­zer um li­vro. O me­nor li­vro do mun­do me­de ape­nas um cen­tí­me­tro, en­cer­ran­do uma co­le­ção de cân­ti­cos sa­gra­dos sob o no­me de “Ma­ha­ra­tas”, im­pres­so em fi­nís­si­mo pa­pel de ar­roz. Seu pro­pri­e­tá­rio é um ri­quís­si­mo co­le­ci­o­na­dor de Bom­baim, que já re­cu­sou fa­bu­lo­sas for­tu­nas por ele. Em âm­bi­to co­mer­cial, con­for­me pes­qui­sa re­cen­te, a Bí­blia con­ti­nua a ser o li­vro que mais se ven­de no mun­do. Quan­to ao mai­or li­vro do mun­do, é o que me­de 1,77 de al­tu­ra por 1,15 cm de lar­gu­ra, e é um At­las Uni­ver­sal que se acha no Mu­seu Bri­tâ­ni­co, em Lon­dres. Foi ofe­re­ci­do por um mer­ca­dor de Am­ster­dam a Car­los II, da In­gla­ter­ra, ao re­fu­gi­ar-se na Ho­lan­da.

No Bra­sil, a exis­tên­cia dos pri­mei­ros pre­los só ocor­re com a che­ga­da da im­pren­sa, atra­vés de Dom Jo­ão VI, em 1808, a en­tão Im­pren­sa Ré­gia, ho­je Im­pren­sa Na­ci­o­nal. Mas a Me­tró­po­le, já em 1747, ha­via man­da­do fe­char a ofi­ci­na que o ci­da­dão An­tô­nio Isi­do­ro da Fon­se­ca ha­via aber­to no Rio de Ja­nei­ro, dois anos an­tes. E foi exa­ta­men­te es­ses An­tô­nio Isi­do­ro que im­pri­miu e pu­bli­cou, em 1747, o mais an­ti­go im­pres­so no Bra­sil, de­no­mi­na­do “Re­la­ção da En­tra­da do Bis­po Frei An­tô­nio do De­sa­ter­ro”, com 17 pá­gi­nas de tex­to. Se­gun­do es­ta­mos in­for­ma­dos, a im­pres­são do pri­mei­ro jor­nal, fei­to no Rio de Ja­nei­ro, cha­ma­do “Ga­ze­ta do Rio de Ja­nei­ro”, cu­jo pri­mei­ro nú­me­ro cir­cu­lou a 10 de se­tem­bro de 1808, ocor­reu nas ofi­ci­nas re­cém-ins­ta­la­das na Im­pren­sa Ré­gia.

Por ab­so­lu­ta fal­ta de es­pa­ço. Ter­mi­no re­gis­tran­do al­gu­mas es­pé­ci­es de li­vros: o de bro­chu­ra, co­zi­do a fio têx­til; o li­vro co­la­do, com fo­tos; o car­to­na­do, com ca­pa e car­tão re­ves­ti­do; o co­mer­cial; li­vro de his­tó­ria de sa­be­do­ria; o de ca­be­cei­ra, que de­ve ser pre­di­le­to; o es­pi­ral; o de ho­ras; o de mi­nu­tos; o de pre­ces, ou que con­tém as pre­ces de ho­ras ca­nô­ni­cas; o de bol­so, que é uma in­ven­ção le­gí­ti­ma do ca­pi­ta­lis­mo; o de tom­bo; o de pon­to, que é pa­ra o em­pre­ga­do de não fur­tar ne­nhu­ma ho­ra do pa­trão; o fis­cal, pa­ra que nin­guém le­se o es­ta­do; o di­dá­ti­co, que ha­ve­ria de ser mais ba­ra­to, além do de ou­tro, me­do­nho de ex­plo­rar. E o atu­a­lís­si­mo, já com cer­ta ida­de, ebo­ok.

(Mar­ti­nia­no J. Sil­va, ad­vo­ga­do, es­cri­tor, mem­bro do Mo­vi­men­to Ne­gro Uni­fi­ca­do – MNU), da Aca­de­mia Go­i­a­na de Le­tras e Mi­nei­ren­se de Le­tras e Ar­tes, IHGG, Ubego, mes­tre em His­tó­ria So­ci­al pe­la UFG – mar­ti­nia­nojsil­va@ya­hoo.com.br)

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