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OPINIÃO

O voto no Brasil – avanços e retrocessos

Creio que se­ja opor­tu­no re­fle­tir so­bre o vo­to nes­tes di­as que an­te­ce­dem as elei­ções.

O vo­to, no Bra­sil, ao lon­go da His­tó­ria, te­ve sem­pre uma evo­lu­ção pro­gres­sis­ta, nos pe­rí­o­dos de li­ber­da­de po­lí­ti­ca.  O sis­te­ma elei­to­ral, em nos­so pa­ís, só te­ve re­tro­ces­sos, nos pe­rí­o­dos de di­ta­du­ra.

A Cons­ti­tu­i­ção im­pe­ri­al su­bor­di­nou os di­rei­tos elei­to­ra­is à ren­da que o ci­da­dão ti­nha que ter.

A Cons­ti­tu­i­ção re­pu­bli­ca­na (1891) aca­bou com a exi­gên­cia de ren­da pa­ra o exer­cí­cio do vo­to.

Mas co­mo o vo­to não era se­cre­to, o po­der con­ti­nuou nas mãos dos pro­pri­e­tá­rios ru­ra­is, do­nos das ter­ras e das con­sci­ên­cias.

So­men­te a Cons­ti­tu­i­ção de 1934 veio a ins­ti­tu­ir o vo­to se­cre­to.

Es­sa Cons­ti­tu­i­ção cri­ou tam­bém a Jus­ti­ça Elei­to­ral, o que foi um avan­ço.

O vo­to se­cre­to não as­se­gu­rou a ple­na li­ber­da­de de es­co­lha.  Os elei­to­res eram co­a­gi­dos por­que re­ce­bi­am cé­du­las mar­ca­das, pa­ra es­co­lher es­te ou aque­le can­di­da­to.  Só a cé­du­la úni­ca, ins­ti­tu­í­da sob o re­gi­me da Cons­ti­tu­i­ção de 1946, as­se­gu­rou re­al­men­te a li­ber­da­de de es­co­lha, pe­lo elei­tor.

A pro­pa­gan­da gra­tui­ta e am­pla­men­te li­vre, pe­lo rá­dio e pe­la te­le­vi­são, foi ou­tra con­quis­ta, só al­can­ça­da às vés­pe­ras da Cons­ti­tu­in­te de 1985/86.

Ain­da há mui­tos apri­mo­ra­men­tos in­dis­pen­sá­veis no pro­ces­so elei­to­ral.  A meu ver, são avan­ços que a so­ci­e­da­de ain­da de­ve con­quis­tar, den­tre ou­tros, os se­guin­tes:

  1. a) a ado­ção de me­di­das pa­ra im­pe­dir o abu­so do po­der eco­nô­mi­co nas elei­ções, atra­vés de mai­or se­ve­ri­da­de da le­gis­la­ção e mais efi­caz ação da Jus­ti­ça Elei­to­ral. A Jus­ti­ça pre­ci­sa de ins­tru­men­tos ope­ra­ci­o­nais mo­der­nos e rá­pi­dos, pa­ra cum­prir es­ta fun­ção;
  2. b) a cor­re­ção da dis­tor­ção da re­pre­sen­ta­ção por Es­ta­dos, de mo­do a evi­tar o que ocor­re atu­al­men­te, quan­do o nú­me­ro de de­pu­ta­dos es­tá lon­ge de ter pro­por­ção com a po­pu­la­ção. Es­ta dis­tor­ção fa­vo­re­ce o con­ser­va­do­ris­mo, uma vez que os Es­ta­dos pre­ju­di­ca­dos (mais po­pu­lo­sos) são jus­ta­men­te aque­les on­de a or­ga­ni­za­ção das clas­ses tra­ba­lha­do­ras é mais for­te;
  3. c) a efe­ti­va re­pre­sen­ta­ção dos pe­que­nos par­ti­dos, atra­vés de mu­dan­ça no sis­te­ma de apu­ra­ção das "so­bras elei­to­ra­is". Os vo­tos que su­plan­tam o quo­ci­en­te pa­ra a elei­ção de um de­pu­ta­do de­vem be­ne­fi­ci­ar os pe­que­nos par­ti­dos, de mo­do a fa­vo­re­cer a re­pre­sen­ta­ção das mi­no­ri­as.


A so­be­ra­nia do vo­to é a gran­de cha­ve da De­mo­cra­cia. Meu vo­to va­le tan­to quan­to o vo­to do por­tei­ro de meu edi­fí­cio. Nin­guém va­le mais ou va­le me­nos. To­dos so­mos igua­is.

A meu ver, nin­guém de­ve ab­ter-se de vo­tar, ou vo­tar em bran­co. Mes­mo que os can­di­da­tos, de um mo­do ge­ral, não se­jam do agra­do do elei­tor, sem­pre é pos­sí­vel es­co­lher o me­lhor ou o me­nos pi­or.

Com fre­quên­cia, os elei­to­res con­si­de­ram pou­co re­le­van­te o vo­to pa­ra o Le­gis­la­ti­vo. Es­se pou­co apre­ço à es­co­lha dos par­la­men­ta­res é um equí­vo­co. Uma De­mo­cra­cia for­te exi­ge um Le­gislta­vio for­te.

(Jo­ão Bap­tis­ta Herke­nhoff, ma­gis­tra­do apo­sen­ta­do (ES). E-mail – jbpherke­[email protected])

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