Home / Opinião

OPINIÃO

O Rio de Janeiro: tempos idos

No início dos anos de 1900, o Rio de Janeiro estava longe de ser a cidade maravilhosa, pelo contrário, era conhecida como a cidade da morte. E isso porque as condições sanitárias da capital do Brasil eram péssimas.Na época, o centro do Rio era repleto de cortiços, as ruas e as docas eram estreitas e a falta de saneamento básico facilitava a propagação de doenças como a varíola, a peste bubônica e a febre amarela.Porém Rodrigues Alves, oriundo da oligarquia paulista, quando eleito, em 1902, presidente da República, idealizou modernizar a velha capital. Inspirado na Paris haussmanniana, o presidente e o prefeito do Rio, Pereira Passos, buscaram remodelar o traçado urbano da mais importante cidade brasileira de então. No projeto, levado a cabo no chamado quadriênio progressista (1902 – 1906), estavam entrelaçados os intuitos de abrir largas avenidas, ampliar as docas e estabelecer uma política sanitária que revertesse a trágica situação epidemiológica da capital da República. Com intuito “modernizador”, o governo pouco movimento fez para dialogar com a população e ouvi-la: “mandou brasa” em seu projeto e bancou o “Bota-Abaixo”, ação que acarretou a derrubada de inúmeros cortiços a fim de que avenidas — cujo símbolo maior é a Rio Branco — pudessem ser abertas no lugar das ruas coloniais. Ao fazê-lo de modo intempestivo, o governo não se preocupou com o destino dos desalojados dos inúmeros casarões e casebres derrubados para a efetivação daquele projeto.As soluções encontradas pelos desalojados foram inúmeras, variando, claro, em função das condições econômicas de cada indivíduo ou família. Os que tinham melhores condições econômicas foram habitar o subúrbio da cidade, entretanto aqueles com piores condições não tiveram escolha: subiram os morros da cidade e engrossaram a formação das favelas que mal começavam a surgir. Em relação à saúde, destacou-se a ação do sanitarista Oswaldo Cruz, que conseguiu que o Parlamento aprovasse a lei de vacinação obrigatória contra a varíola. Estávamos em 1904 e a reação de parte da população foi a de rejeitar a obrigatoriedade da vacina. Ignorância, desconfiança e desabafo contribuíram para a eclosão de revolta popular, em novembro daquele ano, com muita violência. Bondes e iluminação urbana foram destruídos pelas turbas furiosas e agentes de segurança pública, atacados. O governo recuou e anulou a lei. De toda forma, o Rio como cidade maravilhosa começava a ser desenhado. Não tardaria para que a zona sul, com bairros como Copacabana, Ipanema e Leblon, com as praias já limpas pelos avanços da política sanitária, começasse a ser ocupada por segmentos de maior poder aquisitivo. Em 1931, viria a coroação da “cidade maravilhosa”: a inauguração da estátua do Cristo Redentor, símbolo mais conhecido do País. Paralelo a esse espaço, a vida pululava nos morros, em seus casebres, precariedades, carências de todos os bens materiais e, é bom lembrar, com péssimas condições sanitárias. Efetivamente, a cidade maravilhosa, era – e é – múltipla: humanos de muitos matizes, diversidades socioculturais, étnicas, econômicas, o que contribui para a riqueza extraordinária daquela cidade. Entanto concluiria perguntando se, mais de cem anos depois da experiência modernizadora e, diga-se, autoritária, de Rodrigues Alves, pode-se afirmar que o Rio de Janeiro continua lindo.

Leia também:

  

edição
do dia

Capa do dia

últimas
notícias

+ notícias